Regiões mais pobres de Brodowski sofrem com a falta de água
por Ícaro Luís Fracarolli Vila, 20/06/2021, 11h
Apesar de acometer a cidade toda, regiões mais pobres são as que mais sofrem

Manhã de sexta-feira. A maioria das donas de casas se preparam para uma jornada árdua: é o dia de colocar a casa em dia. Com a dona Therezinha (nome fictício) é a mesma coisa. Ela se levanta cedo, prepara o café da manhã para seu marido e leva as crianças para a escola. Na volta, começa a sua rotina: tirar a poeira, lavar o chão e deixar a casa brilhando, como ela mesma gosta de falar.

Contudo, para a moradora da periferia da cidade de Brodowski, interior de São Paulo, está cada vez mais difícil de cumprir as suas tarefas. A falta de água tem acometido o bairro João Luiz de Vicente, um dos maiores da cidade. Segundo a moradora, não há água para o básico, como lavar a louça e o banheiro. Ela nos informou que a água chega por volta das 22h e acaba às 03h. “A situação é realmente insuportável, ainda mais a gente que tem filho pequeno e marido que precisa de roupa branca todo dia”, nos contou chorando. Seu esposo é funcionário de um frigorífico local e tem as vestes brancas como uniforme de trabalho.

O problema da água na cidade é antigo, conforme nosso levantamento. Começou em 1998, com o então prefeito José Grandi. À época, muitos loteamentos foram autorizados pela prefeitura, contudo, foram dispensados de terem um poço artesiano. Os prefeitos subsequentes também tiveram a mesma prática, o que agravou o problema na cidade. Somente o atual, o professor doutor em ciências, José Luiz Perez, é que colocou um basta na situação. Em entrevista, ele nos disse que a nova lei orgânica do município é categórica neste ponto e que não iria permitir tal situação.

“Há cerca de quinze loteamentos e condomínios para serem autorizados neste momento na prefeitura. Dez estão parados pela falta de um plano de águas para a região. Apesar de ser criticado pela maioria da população, minha posição é firme: não irei autorizar até que os poços sejam planejados e instalados. Estamos falando de um investimento na cada de um milhão de reais e a prefeitura não tem condições de arcar com isso”, ressalta o gestor municipal.
Dados obtidos junto à Agência Mind mostram que as regiões da "Nova Brodowski" são aquelas que apresentam o maior número de habitantes por quilômetro quadrado, agravando o problema.
A cidade, localizada na região do Aquífero Guarani, está a 861 metros acima do mar, o que dificulta a captação de água. Há, no momento, dois poços artesianos para atender uma população de aproximadamente 25 mil habitantes. Segundo levantamento obtido pela nossa reportagem, as áreas da cidade que mais sofrem são as da chamada “Nova Brodowski”, periferia da cidade, que abrange os bairros João Luiz de Vicente, Parque dos Tucanos, Parque dos Sabiás, Cohab 4 e CDHU.

Para o SAAEB, serviço de água da cidade, é necessário que mais cinco poços sejam instalados na cidade para que o problema seja resolvido. A bióloga Telma Mantoani, técnica da autarquia, nos informou que o investimento para a instalação passa dos 50 milhões de reais, devido à alta altitude da cidade. Há investimentos do governo estadual, mas nada próximo do necessário para resolver o problema de vez.

Infelizmente, as notícias para a dona Therezinha não são boas. Ela ainda terá muito a lutar com a falta de água na sua casa. O acesso ao bem é vital para a manutenção da vida e deveria ser tomado como prioridade para gestão municipal. Entretanto, com a carência de recursos financeiros fortemente influenciada pela pandemia do novo coronavírus, o problema está longe de ser resolvido na sua totalidade.
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Reportagem da Clube TV de 2020 mostra que o problema é caótico na cidade, atrapalhando a vida de muitos moradores.
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