O ser humano não tem tempo. Precisa chegar ao trabalho, não pode se atrasar para a reunião, não pode perder o ônibus, não pode esquecer o almoço na casa da avó, tem que escrever aquele artigo, precisa ligar para o chefe, tem 15 minutos para almoçar, precisa dar atenção ao gato, precisa achar uma brecha no dia para terminar aquela costura.
O mundo é cheio de informações: sonoras, táteis, visuais, olfativas, gustativas. A TV está ligada, enquanto o cachorro do vizinho late. O telefone toca, um e-mail chega. Na rua, um carro buzina, um homem grita. A chaleira no fogão chia, o chuveiro pinga. As crianças brincam, os sapatos de salto fazem “toc toc”. No ônibus,
o motorista liga o rádio enquanto a moça no banco de trás grita para fazer-se ouvida pela senhora ao lado. O carro freia bruscamente, os pneus cantam, pessoas tentam segurar-se às barras do ônibus, algumas também seguram seus livros.
O ser humano tem medo. Sair de noite é perigoso, Júlia foi assaltada semana passada. O jornal noticia mais um caso de violência contra a mulher. Um jovem intimida uma moça, que tenta correr. Já são 22h, hora de trancar toda a casa e nem pensar em sair na rua. É preciso estar sempre de olho nos pertences pessoais. Não solte o celular em qualquer lugar, cuidado com a bolsa, deixe sempre à vista.
O interesse pessoal pelas questões acima, surgiu da certeza de que a joalheria existe no mundo por motivos muito mais profundos do que normalmente se percebe, e de que a mesma pode intervir e até solucionar problemas. Muitas das ações acima descritas são realizadas e vividas diariamente pelas pessoas, e relacionam-se com o corpo e com a mente do ser humano. Assim também é a joalheria, se relaciona com o físico e com o emocional, e por isso, pode servir de interface a questões ligadas a esses dois meios. A vivência como ser humano, que como qualquer outro, passa por pequenos problemas diários, e como designer, que muitas vezes se propõe a solucionar determinados problemas, fez chamar a atenção mais profundamente aos atos banais e problemas recorrentes, aqueles que as pessoas vivem diariamente mas não dão o devido valor a ponto de tentar solucioná-los. O momento que se descobre que as joias poderiam auxiliar nessas questões banais diárias, é o mesmo momento em que se percebe que, assim como as roupas, as joias são as “coisas” mais próximas do corpo humano que se pode ter, quase fazendo parte dele. Assim, se os seres humanos usam o corpo para passar pelas questões, problemas e situações do dia a dia, nada mais justo que tente-se intervir nesses aspectos utilizando uma extensão do corpo, nesse caso, a joalheria.