o nascer do sol
Sobre encontros e desencontros com uma selva interior e um pássaro misterioso.
Essa história foi criada para um projeto de zine, ainda em andamento. Essa arte trata-se do principal momento da pequena grande jornada da menina que ganhou pulmões. Toda a narrativa do zine foi inspirada pela jornada dentro da meditação, mesclando sentimentos como frustrações, conquistas e outros eventos como insônia, ansiedade e revelações de verdades.
aquarela, grafite, lápis de cor e nanquim sobre papel 100% algodão
o conto
Ela emergiu, extasiada com as luzes do céu, que caíam sobre sua cabeça. Milhares de vidas acontecendo bem em cima do topo da sua cabeça. Ela podia sentir cada inspiração e cada expiração que vinham daquelas inúmeras luzes, respirações aceleradas e ofegantes cheias de prazer, respirações calma e cansadas de quem já viu uma vida toda, respirações calmas e silenciosas de quem acabou de ver a vida pela primeira vez.
Ela fechou os olhos, botou o nariz para fora e respirou junto com todas aquelas luzes. Sua inspiração e expiração levavam um minuto para completar o ciclo da vida, ela havia treinado para conseguir prolongar esse ciclo.
Na inspiração seu peito estufou tanto que quase dobrou de tamanho. Na expiração segurou um pouco do resto do ar, mantendo o peito grande. Inspirou novamente e inflou mais, guardando mais um pouco de ar.
Depois de dez ciclos de vida ela estava do tamanho de uma palmeira, e algumas das luzes se tornaram mais distintas para seus olhos. Ela inspirou mais dez vezes, e toda vez guardava um pouco de ar quando expirava.
Ela treinou seus pulmões a vida toda para aquele momento.
Agora ela tinha o tamanho das árvores mais altas, e lá em cima viu mais de perto outras luzes.
Ela cresceu.
Inspirou e cresceu.
Seus pulmões brilhando. Quanto mais ela crescia, mais luzes apareciam.
Ela cresceu tanto que em um momento avistou ao longe uma escuridão infinita e azul, onde as luzes não chegavam, olhou para seus pés floridos de vida e inspirou mais uma vez.
Dessa vez inspirou com tanta força que chamou o sol detrás da terra.
O sol apareceu, mais forte do que todas as luzes, e com seus raios dourados e quentes ele iluminou para além da garota a escuridão azul, que se tornou laranja e clara.
Diante de seus olhões ela viu brotar uma selva densa e quente embaixo do sol.
Ela ficou tão admirada com a visão da selva que sem querer deixou escapar de seus pulmões o ar que guardava.
Em segundos seu peito murchou novamente, e antes que pudesse se agarrar a qualquer galho, ela já estava na água, pequena novamente.
A frustração foi tão grande que quase chorou, mas antes que qualquer lamento escorresse de seus olhos, ela sentiu a nuca esquentar.
Ao se virar ela viu o calor escapando por entre as frestas da selva.
O sol a encontrou, a beijou e a menina conseguiu adormecer ao raiar do dia.
Sob seus pés, sob a película 'água escura, brotavam folhas alaranjadas de seus pés.
