Belisário

"Essa comunidade surgiu, com o senhor Emanuel Joaquim de Andrade, que é o senhor Belisário, como ele era conhecido. É que dá o nome a comunidade, ele morava em um local chamado Serra da Rapadura. Aqui mesmo no Sítio Simonésia, lá pro lado de Ipanema e ele era trabalhador cativo, né? Então ele saiu de lá e veio e ficou aqui seis meses, então pra chegar aqui, você tem que subir vinte e sete quilômetros, montanha acima pra chegar aqui no quilombo. Então, ele procurou um lugar bem estratégico, né? Pra a cidade também, são vinte e sete quilômetros, montanha abaixo, ele procurou um lugar bem estratégico pra que ele demarcasse as terra e trouxesse a família dele."
"A nossa relação com a terra, a gente tem um respeito muito grande pela terra, né? Reconhecendo ela como nossa mãe, como nossa fonte de tudo. É nossa fonte de vida na verdade. Tudo que a gente, a gente come, vem da terra, então a gente tem o respeito muito grande por ela, pra nós a terra, ela não tem valor calculável financeiramente. A gente vê a terra com outros olhos, a gente não vê a terra como um produto, a gente não vê a terra como algo de exploração, a gente vê a terra como irmã, como mãe como como proteção, como fonte de vida. Então essa é a visão que a gente tem sobre a terra. E através dessa visão, a gente vem trabalhando na comunidade a questão da ecologia. De incentivar as pessoas a produzir sem veneno, a não derrubar as matas, a proteger os bichos, a proteger as nascentes, né?"
"Se instalaram e os filhos do Seu Emanuel, Joaquim, que é o seu Belisário, o qual deu nome a comunidade, e casaram. E assim, começaram os filhos dele se casar, o primo com o primo, que é bem a característica quilombola, assim, pra não trazer naquela época sangue de fora pra dentro do quilombo. Então, começaram os casamentos, assim, entre primos."
"Outra característica aqui que nos define, né? Além do auto reconhecimento e dessas que eu já falei, é o posicionamento da construção das casas, né? Assim como nas aldeias que são em formato de círculo? Justamente pra um vigiar as costas do outro, por questão de proteção. Construíram sem saber, sem perceber, coisa que a gente traz no sangue assim e que a gente passa isso. Em forma de obra, em forma de de arte, é feito naturalmente.​​​​​​​"
"Então, senhor, Belisário, senhor  Manuel, ele veio descendente de quilombo e casou com a esposa dele, que era índia. Então, aqui, eu diria noventa e sete por cento da população, são índios, né? Então tem a característica bem indígena. Uma mistura que surgiu, então você vê negros do cabelo liso, naturalmente lisos. É o que trouxe a descendência da esposa que era índia. E ela viveu até os cento e quatro, cento e seis anos, se eu não me engano."
Variação de feijão em Belisário chamado de feijão ouro.
Feijão Poteca, tem esse nome porque foi o feijão que financiou parte da compra das terras em Belisário. Planta-se junto ao café para que as pragas se alimentem da palha do feijão e não do grão de café.
Quiabo selvagem: utilizado na alimentação dos povos tradicionais em tempos de escassez de alimentos. Foi incorporado a dieta quilombola ao longo da história.
Cordão de frade, planta medicinal muito utilizada para tratamento de males respiratórios.
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Belisário

Exposição fotográfica composta por imagens captadas em comunidades quilombolas da Zona da Mata mineira, entre elas, comunidades certificadas e nã Read More

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