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Atômica (2017)
Loira. Bonita. Inteligente. Elegante. Confiante. Espiã. Atômica. Envolvida em um impasse entre membros da agência de segurança dos EUA, Inglaterra e Alemanha durante a Guerra Fria, Lorraine Broughton (Charlize Theron) está cercada por mentiras, cigarros, conflitos ideológicos, romance e a belíssima cidade de Berlim. Com estreia marcada para esta quinta-feira (31/08), o longa-metragem dirigido por David Leitch (co-diretor de John Wick: De Volta ao Jogo) inspira-se na Histórias em Quadrinhos (HQ) The Coldest City, escrita por Antony Johnston e Sam Hart, que chegou recentemente ao Brasil.

Apesar de cair, assim como Mulher-Maravilha (2017), no clichê de uma heroína que se destaca inicialmente pela beleza e sensualidade, ao invés de permitir que a personagem conquiste a confiança e o envolvimento do público através da sua personalidade e habilidades, mostra-se extremamente importante na construção de uma figura feminina forte no imaginário social. Desprendida de laços emocionais, cerimônias e pompa, a especialista em artes marciais embarca em uma missão marcada por planos-sequência, sucessos musicais da década de 1980 e uma fotografia digna de molduras.

Contada em forma de flashback, a história desenvolve-se a partir da realização de um interrogatório, onde a protagonista fala, entre cenas de luta perfeitamente coreografadas – em alguns momentos, beirando o excesso, já que os inúmeros oponentes, em diversos momentos, atacam apenas um de cada vez –, sobre os eventos ocorridos nos últimos dias, contribuindo para o equilíbrio de um filme de ação repleto de duelos, mas também tomado por narração e continuidade de fatos.

Ainda que existam confrontos que ultrapassem os dez minutos de duração, a produção cinematográfica torna-se leve e instigante devido ao roteiro bem-estruturado de Kurt Johnstead, as luzes de néon da capital alemã e o humor inteligente e sarcástico presente nos diálogos. Ademais, a agente do MI6, por ser produto de uma mistura entre demonstrações de imponência e momentos de sensibilidade, cativa o respeito, admiração e adoração, juntamente com a comoção por parte dos espectadores, que sentem a vulnerabilidade por baixo das camadas mais externas de Lorraine.

Responsável pela recuperação de uma lista que contém nomes de espiões de distintas nacionalidades, incluindo o seu, ao mesmo tempo que tenta desvendar o mistério por trás da morte de um antigo colega de trabalho, a protagonista envolve-se em uma rede de traidores, como David Percival (James McAvoy) que, da mesma forma que em Fragmentado (2017), desempenha o papel com maestria, oscilando reações entre o amor e ódio, o desejo por vingança e pela misericórdia. É desses extremos que Atômica é feito – e Berlim também.
Bingo: O Rei das Manhãs (2017)
Com distribuição da Warner Bros. Pictures, Bingo - O Rei das Manhãs, o primeiro longa-metragem dirigido por Daniel Rezende, chega aos cinemas nesta quinta-feira (24/08). O filme retrata a história de Arlindo Barreto, que representava o palhaço Bozo em um programa infantil na antiga TVS, hoje SBT, entre as décadas de 1980 a 1990, configurando-se como uma cinebiografia, porém não inteiramente atrelada à realidade. "[...] foram tomadas algumas decisões que resultaram em um longa-metragem agarrada à história real, mas sem deixar de lado a arte ficcional e dar espaço à liberdade de criação", explica o diretor. De acordo com ele, o roteiro foi desenvolvido de forma que nomes, marcas e outros elementos que pudessem afetar a qualidade criativa da obra fossem omitidos.

Na trama, Augusto Mendes (Vladimir Brichta), visando sair do mundo das pornochanchadas, após inúmeras tentativas de ascensão na TV aberta através de novelas, decide fazer um teste para o papel do palhaço Bingo - protagonista de um programa líder de audiência nos Estados Unidos da América. Agora responsável pela interpretação do comediante fantasiado, cuja identidade secreta é cláusula de contrato, em uma emissora rival à anteriormente trabalhada, precisa equilibrar-se entre a vida profissional, social e afetiva. E esta é a verdadeira corda bamba. 

Partindo de uma premissa, por si só, recheada de nostalgia e referências a "uma era cafona e louca", como pontuado pelo próprio realizador, desenvolve-se  brilhantemente diante do público, que se envolve desde os minutos iniciais nas peripécias de um pai, filho, amigo, ex-marido e palhaço. Estrelando um veterano das telonas, o personagem, assim como os demais, é construído com maestria e profundidade, tornando-o, além de todas as características anteriormente citadas, humano. Cativante, engraçado, ácido e original, leva os espectadores das lágrimas às risadas em poucos instantes, devido, também, ao roteiro, assinado pelo ilustre Luiz Bolognesi, bem-estruturado e notavelmente executado. 

Como consequência da substituição dos verdadeiros nomes, evitando conflitos relacionados à direitos autorais e afins, SBT vira TVP, Globo vira Mundial, e Xuxa vira Lulu, alimentando o script com fatos, enquanto brinca com a ideia da fantasia, que torna-se extremamente agradável do ponto de vista estético, levando em consideração a excelente direção de arte do longa. Dispondo de uma coerente - e instigante - trilha sonora, em conjunto com o figurino e as vibrantes cores pelas quais a época retratada é reconhecida, torna-se uma viagem guiada por atuações perspicazes de conhecidos rostos.

O elenco, que conta ainda com a participação de Leandra Leal, Tainá Müller, Emanulle Araújo, Augusto Madeira, Domingos Montagner e Pedro Bial, faz jus à divulgação do filme, que teve início em dezembro, quando o papel principal foi atribuído a Brichta, ao invés de Wagner Moura, como o esperado. Em uma das suas melhores atuações, o protagonista emite facilmente as emoções ao interpretar a queda da carreira de Augusto, que, com ajuda do enquadramento de câmera e direcionamento estratégico de ângulos, descreve perfeitamente a insanidade presente nos bastidores e os excessos da busca pela fama, prazeres e luxúria. Afinal, como diz o bordão do homem por trás do nariz de palhaço, "a vida não é brincadeira, não". 
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