Produção Fotográfica desenvolvida no período de pandemia para disciplina de Estudos em Imagens Técnicas - 2020 
   Com o período de quarentena aconteceu o isolamento com os familiares e pessoas com quem dividimos moradia. Para além disso fomos obrigados a fazer também um confinamento consigo e desfrutar da própria companhia mais frequentemente. Partindo disso, inseguranças podem se fazer muito mais reais e enfrentá-las pode ser cada vez mais difícil. Para ilustrar alguns sentimentos que se fizeram presentes durante este período fez se esta série de fotografias com base no “alguém” que impossibilita algo.

   Dividida em três momentos, inicia-se pela representação da existência humana, o ser ao lado de suas inseguranças. A diferenciação de cada um se faz principalmente pela interpretação do olhar de cada figura.  Na direita, mesmo a persona apresentando estar com as mão soltas e aparentemente numa posição estável seu olhar está profundo, vazio e amedrontado; seguido pelo cansaço, dada a aparição de olheiras. Já na esquerda, a figura se mostra confiante e possivelmente entediada, vista a posição que se encontra, solta e com parte da perna para fora da fotografia. Além dos olhos, é possível distinguir as personagens pela análise de suas vestimentas; ambas usam peças iguais e de cores semelhantes, contudo há a inversão de tons em sobreposição, assim como no cabelo. A correspondência de suas presenças se fazem partindo da concepção de que a cor rosa faz referência a carne, aos músculos limitando-se ao que vem antes da pele; e o preto podendo ser interpretado como a imensidão do vazio e do desconhecido, sendo capaz de adquirir qualquer forma. Assim, suas sobreposições representam a presença de um no outro e sua coexistência mesmo que haja uma predominância superior ou inferior em cada um.
Existir
   Composta por três fotografias onde o elemento principal encontra-se na posição direita da imagem, a segunda parte desta série é denominada por “Lado A”. Faz-se presente a personagem de vestimenta onde a cor rosa aparece em maior quantidade e sobrepondo o preto. São captadas a parte superior de seu busto com interferências físicas de possível terceiro, fazendo alusão a questões psicológicas que impossibilitam o sujeito de algo mais amplo, contudo há ainda a presença da interação de negação por parte do próprio. 
   Na composição dos títulos apresentam-se frases que remetem a ações passadas em junção a verbos de ação em terceira pessoa e o pronome indefinido “alguém”, o que acentua ainda mais uma interferência externa.
Quando alguém me cegou
Quando alguém me impediu
Quando alguém me sufocou
   “Lado B”, a última parte desta série fotográfica revela em um plano amplo as ações encenadas em “Lado A”; trazendo uma nova perspectiva sobre o “o que/quem” interfere e interrompe realmente o sujeito. São utilizadas as mesmas imagens, contudo a ausência do recorte promove a interpretação de que não há a existência de um agente bloqueador e que este bloqueio é criado pelo próprio indivíduo representado. Entretanto ainda existe uma ação de combate entre as duas forças presentes.
   Para os títulos das imagens se mantêm as frases no passado e o pronome “alguém”, contudo agora há a intervenção por meio de rasuras que fazem a correção da conjugação do verbo e exclui a ação terceira, trazendo a sentença para a primeira pessoa; o que enfatiza a não existência de um terceiro e trás responsabilidade para o sujeito.
Quando (alguém) me ceg(ou)uei
Quando (alguém) me impedi(u)
Quando (alguém) me sufo(cou)quei
   (ALGUÉM) é um desabafo sobre o que a quarentena pode acentuar estando em confinamento consigo, mas também é uma exposição do enfrentamento próprio para que sentimentos comuns não tornem as pessoas menores do que realmente podem ser.
   Para além do discurso sobre insegurança, esta série faz um convite a repensar as imagens vistas; uma vez que fotografias podem ser representações de representações advindas de processos de construção de realidades, sendo uma fórmula de ver o objeto dependendo da perspectiva do observador.
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