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Diferença entre superdotação e altas habilidades?


Existe diferença entre superdotação e altas habilidades?

É muito comum que se confunda uma criança superdotada com uma criança com altas habilidades, mas, apesar dessa confusão, não é tão complicado diferenciar os dois conceitos.

Existem vários conceitos de superdotação que são aceitos pela ciência: 

Para a Psicometria, que é uma corrente da Psicologia que estuda os conceitos psicológicos através de dados matemáticos, uma pessoa superdotada é aquela que apresenta um QI em testes como o WISC, SON R e o Wais, escala de inteligência para adultos, acima de 130. Essa corrente teórica veio psicólogo americano Lewis Terman, que associava QIs elevados a superdotação.

Indivíduos que apresentam o QI acima de 130, inclusive, podem acelerar de série, desde que tenham também boas notas nas suas atividades escolares. Ou seja, além do QI elevado, eles precisam ter interesse escolar e maturidade para subirem de série. 

Já os teóricos Renzulli, (1986) e Garner (1983) consideram que qualquer pessoa que tenha uma habilidade acima da média em qualquer área de conhecimento pode ser considerada como superdotada.

As pessoas com altas habilidades tem uma classificação menos polêmica, pois é mais aceito que essa classificação se refere a pessoas que são excepcionais em uma determinada área, mas não possuem um QI acima da média.

Por exemplo: Uma pessoa pode ter uma alta habilidade em artes, mas não não necessariamente ter um QI acima de 130. Ou seja, essa pessoa é excepcional em música, mas normal em outras habilidades, não alcançando um QI de 130.

Pessoas com altas habilidades e superdotadas tem uma grande chance de apresentarem o transtorno do espectro do autismo, por possuírem um hiperfoco na sua área de interesse.

Crianças superdotadas, assim como crianças com altas habilidades, devem receber uma educação especial para desenvolverem as suas habilidades. Portanto, para os fins práticos, podemos tratar a superdotação e altas habilidades como termos sinônimos, apesar do debate teórico os envolvendo.


Quais as características? Existe classificação em níveis?

As pessoas superdotadas têm como principal característica o seu QI, que deve ser acima de 130. No entanto, também existem outras características marcantes que essas pessoas costumam possuir.

Pessoas superdotadas, principalmente crianças, costumam apresentar um rendimento excepcional em praticamente tudo que fazem, tanto na escola quanto em casa. Eles possuem uma memória detalhista e complexa, o que aumenta muito a sua capacidade de aprendizagem.

A curiosidade e a criatividade também são traços marcantes de pessoas superdotadas, o que os torna ainda mais potencialmente estudiosos. Algo que aliado a sua facilidade de aprendizado, os torna verdadeiros gênios.

Por fim, pessoas superdotadas são extremamente perfeccionistas e detalhistas, o que, se não for controlado, pode ser extremamente negativo para eles.

Por se sentirem diferentes de outras pessoas, superdotados podem se sentir diferentes, apresentando baixa auto estima e dificuldade de socialização.


Como identificar uma criança superdotada (formas de diagnóstico/testes)?

Para se identificar um superdotado, pode-se, primeiramente, utilizar um teste de inteligência e outras avaliações psicológicas, feitas por um psicólogo, que irão avaliar o seu desempenho e comportamento.

Além disso, sempre deve-se levar em consideração que pessoas superdotadas sempre terão habilidades acima da média, criatividade e compromisso com a tarefa. Em crianças superdotadas podemos notar também que o seu vocabulário é muito avançado para a sua faixa de idade.

No entanto, superdotados podem ter áreas de interesse como artes e esportes, que não podem ser medidas com um teste de QI, portanto, é preciso ficar atento se uma criança apresenta extremo interesse por uma área em particular e têm habilidades excepcionais para ela.

Mitos sobre crianças/pessoas superdotadas

 A superdotação, ao contrário do que se pensa, não é um fenômeno raro. Ela ocorre em cerca de 5% da população, ou seja, a cada 20 pessoas uma é superdotada. Essas pessoas não necessariamente ficam em destaque, porque elas podem não gostar de parecer diferentes das outras pessoas. 

Um superdotado nem sempre é um bom aluno, porque às vezes eles simplesmente se entediam com a escola, e não tem ânimo para fazer as atividades. E, por causa daquele sentimento de se sentir diferente do grupo, ele pode apresentar uma vulnerabilidade social.

Por isso é tão importante que se identifique um aluno superdotado, para que ele possa receber um suporte adequado para aflorar as suas habilidades sem que ele se sinta deslocado socialmente.

Ser superdotado também não é sinônimo de sucesso profissional, já que esse sucesso depende de muitos fatores, e, muitas vezes, os superdotados não tem todo o seu potencial aproveitado, porque suas habilidades não são reconhecidas ou valorizadas socialmente.

Como é a educação especial no Brasil?

O ministério da educação está trabalhando em um cadastro nacional para estudantes superdotados que irá possuir as principais informações sobre eles, as quais serão usadas para que se façam políticas públicas voltadas para eles.

A Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (SEESP), convidou especialistas em educação especial para elaborar quatro volumes de livros didático-pedagógicos para auxiliar no atendimento a alunos superdotados, orientando tanto professores quanto às famílias.

A pesquisadora Olzenir Ribeiro, do Instituto Expert Brasil, que é mestra e doutora em educação e especialista em gestão de instituições educacionais pela Universidade Católica de Brasília, salienta que o maior desafio dos professores e das famílias é identificar o aluno superdotado, não o confundindo com outras condições, como o autismo.

Olzenir ainda diz que depois de identificado, o professor deve deixar que o aluno guie o seu próprio aprendizado, pois um indivíduo superdotado tem muita facilidade para aprender os seus conteúdos escolares. Fazendo isso, evita-se que o aluno fique entediado.

A superdotação pode ser um problema na hora do ensino formal?

A superdotação pode vir a se tornar um problema durante os anos escolares porque um aluno superdotado pode se sentir entediado com o ensino escolar. 

Como vimos acima, nesses casos, é indicado que o professor deixe o aluno guiar seu próprio aprendizado, pois o professor, como alguém que ensina um conteúdo, é desnecessário para esse tipo de aluno.

Outro problema comum durante os anos escolares é o aluno superdotado se sentir diferente e isolado dos outros alunos. Nessas situações, é recomendado que ele tenha assistência psicológica, à fim de que possa superar esses desafios sociais a ele impostos.

Formas e desafios comuns na aprendizagem

O Brasil tem como principal resposta aos desafios da educação especial para alunos superdotados a criação dos Núcleos de Apoio às Altas Habilidades/ Superdotação, os NAAH/S, por todo o país.

Os NAAH/S tem o objetivo de promover a formação e capacitação de professores, para que estes sejam capazes de aplicar técnicas e estratégias suplementares e diferenciadas de educação para os alunos superdotados. Além do acompanhando escolar e dos pais dessa criança, construindo uma educação inclusiva.

Muitas mudanças devem ser feitas na estrutura escolar brasileira para que estes objetivos sejam cumpridos, como, primeiramente, intensificar a qualidade de experiência de aprendizagem para todos os alunos, fazendo com que a missão da escola seja encorajar que os alunos também se tornem produtores de conhecimento, indo além de somente consumidores.

Desse modo, os alunos em geral poderiam atingir o seu máximo potencial, sejam eles superdotados ou não. Contudo, enquanto essa mudança na estrutura escolar não acontece, podemos focar em desafios específicos para os aluno superdotados, que foram bem explicados por Angela Mágda Rodrigues Virgolim, psicóloga, mestre em Psicologia e Ph.D. em Psicologia Educacional pela University of Connecticut:

Disseminar a área da superdotação, aprofundando o conhecimento da sociedade sobre o tema; 
Ressaltar as necessidades cognitivas, sociais e emocionais especiais desta população; 
Combater mitos e falácias, como o de que o superdotado não necessita de mais recursos, podendo se desenvolver sozinho; 
Proporcionar treinamento especializado aos profissionais envolvidos; 
Proporcionar materiais adequados à necessidade do grupo; 
Desenvolver e utilizar técnicas modernas de identificação; 
Adaptar e diferenciar currículos e programas aos diferentes níveis em escolas públicas e particulares; 
Implantar cursos de graduação e pós-graduação específicos para a área nas universidades brasileiras; 
Realizar mais pesquisas com esta população para a nossa realidade;
Publicar e implementar a literatura especializada em nosso idioma.

Influências no psíquico

A superdotação pode vir a ser um fardo para a criança, porque ela tem uma percepção da vida diferente de outros indivíduos da sua idade. Por isso, ela pode querer negar ou esconder as suas capacidades para não se diferenciar das demais crianças.

Contudo, ao fazer isso, ela pode desenvolver problemas comportamentais e psicológicos por negar suas capacidades, pois suas suas emoções também tem um desenvolvimento diferente das demais crianças.

O oposto disso, mas concomitantemente prejudicial, é o perfeccionismo que crianças superdotadas podem adquirir. A busca por excelência não é algo ruim, no entanto, o perfeccionismo neurótico faz a criança pensar que não pode nunca falhar, e que seus atos sempre tenham que ter aprovação.

Ou seja, se um indivíduo perfeccionismo tirar um nove na prova ou invés de dez, ela irá se sentir mal, depressivo, pela sua baixa auto estima. Essa necessidade ser um ideal de perfeição, sempre estabelecendo altos padrões, traz prejuízos psicológicos graves para a criança.

Alguns superdotados também desenvolvem precocemente um alto questionamento a autoridade, pois eles tem facilidade para refletir sobre situações, as julgando pelo seu ideal de certo ou errado.

Esse questionamento também se estende para o campo filosófico e ético, o que torna os superdotados mais vulneráveis, já que eles não são maduros emocionalmente para lidar com essas questões.

Relações afetivas

A grande dificuldade nas relações afetivas de crianças superdotados é a sua dificuldade de fazer amigos, pois eles não compartilham dos mesmos interesses das crianças de sua idade.

Quando se encontram nessa situação, eles ficam isolados, não interagindo com outras crianças. Desse modo, a sua motivação para com a  escola também tende a diminuir.

Contudo, quando eles encontram pares igualmente inteligentes, eles podem desenvolver um papel ativo no grupo, abandonando a sua timidez.

Como os pais e familiares devem lidar? Dicas para os pais.

Benjamin Bloom (1985), em seus estudos, ressaltou a influência dos pais é extremamente importante para o desenvolvimento das habilidades de crianças superdotadas.

De acordo com ele, as caraterísticas mais influentes positivamente dos pais para com os filhos superdotados são a combinação entre o apoio e altas expectativas, com ênfase no encorajamento da criança pelos pais, a providência de recursos e oportunidades, e a estimulação do interesse em áreas específicas.

Tendo isso em vista, é essencial que os pais fiquem atentos as áreas de interesse de seus filhos, e os ajudem a desenvolver as suas habilidades. Nesse processo também deve trabalhar habilidades socioemocionais para que as crianças não desenvolvam nem o perfeccionismo e nem a apatia.

Para a apatia, criar atividades extra-escolares para os filhos, os mostrando que sempre podem encontrar um desafio maior, pode ser uma boa saída.

Existem psicopatologias que podem ser desencadeadas pela superdotação?

A superdotação não necessariamente está relacionada com alguma psicopatologia. É normal que se confunda uma criança autista com uma criança superdotada, pois eles possuem algumas similaridades, como a quase obsessão sobre um determinado assunto.

Contudo, são duas condições diferentes, já que um autista não é necessariamente um superdotado, e vice-versa. Algumas diferenças não tão difíceis de se notar entre ambos é que, ao contrário do autista, o superdotado não evita contato visual, mas o mantém com os seus pais até mesmo precocemente, e, além disso, o superdotado, apesar de poder ser solitário, ainda demonstra interesse nas pessoas, que é pouco evidente em uma criança autista.

Quanto a outras condições, nós vimos que os superdotados têm uma tendência para o perfeccionismo, o que faz eles se cobrarem demais, além de poderem não se identificar com outras crianças de sua idade por não compartilharem dos mesmo interesses. Essas condições são complexas, e, se o ambiente do superdotado não contribuir para trabalhar tais positivamente tais questões, ele pode sim desenvolver condições mais sérias, como a depressão.

Entretanto, isso não seria somente por causa de eles serem superdotados, mas porque o meio em que vivem não cooperou para um desenvolvimento sócio emocional saudável. Portanto, não se pode atribuir psicopatologias somente pelo fato de alguém ser superdotado.

A importância do acompanhamento psicológico

O acompanhamento psicológico pode ser muito útil para ajudar o superdotado a balancear o seu avançado desenvolvido cognitivo e intelectual com as suas emoções e sua convivência social.

Como vimos, por refletirem sobre questões filosóficas atípicas para crianças de sua idade, os superdotados podem acabar ficando fragilizados emocionalmente. Essa condição pode trazer sérios prejuízos para sua vida particular e desenvolvimento. O psicólogo seria, então, um agente que ajudaria a fortalecer as habilidades socioemocionais do superdotado.

Esse acompanhamento também pode ser estendido para a família do superdotado, para que eles possam ser instruídos a como lidar com as questões de seu filho de maneira saudável, fazendo com que ele possa ter apoio para aflorar as suas habilidades e interesses.

Como a psicologia pode ajudar a desenvolver talentos?

O psicólogo é um profissional que tem o conhecimento para guiar pais e professores para prática que facilitem o desenvolvimento de um indivíduo superdotado. Esse conhecimento é de ordem científica, fruto de pesquisas de cientistas por anos e também da experiência profissional do psicólogo.

A psicologia é uma ciência acolhedora, que busca entender as características e peculiaridades da condição de cada pessoa, buscando sempre ações que possa ajudar essa pessoa a alcançar um meio bem estar psicológico, a capacitando para enfrentar os seus desafios do dia a dia.

E é exatamente desse modo que a psicologia pode atuar na vida de uma pessoa superdotada, fornecendo ferramentas para que ela possa ficar passar com maior facilidade pelas suas vivências.

O maior desafio

O maior desafio para uma educação especial para os superdotados é não somente a formulação de políticas públicas que os compreendam, mas a implantação efetiva dessas políticas no Brasil.

O Brasil, infelizmente, enfrenta grande dificuldades para proporcionar uma educação de qualidade para o seu ensino normal, e, devido a esse atraso, a educação especial fica para segundo plano.

Nos resta lutar pela implantação dessas políticas o mais rápido possível, para que essas crianças possam despertar o seu potencial, exercendo as habilidades que mais amam.

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