Marlon Muraro's profile

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RE.Fƚ.GI.O. AQUILO QUE SERVE DE AMPARO, PROTEƇƃO.
Nesse momento difĆ­cil, todos nĆ³s procuramos diariamente por um refĆŗgio, um local em que possamos nos sentir acolhidos e protegidos. Nunca a casa de cada um significou tanto seu prĆ³prio sinĆ“nimo de lar. Lares sĆ£o casas, mas nem toda casa Ć© um lar.

Fomos meio que obrigados a (re)aprender a fica em casa e a gostar disso. Mais fĆ”cil para alguns, menos para outros. Mas hĆ” ainda um terceiro grupo que nĆ£o teve esta opĆ§Ć£o. Por motivos diversos, simplesmente teve que sair, deixar casa e familiares, dizer adeus a lares e portos seguros.

SĆ£o os chamados refugiados.Ā 

Neste grupo temos aqueles que fogem de perseguiƧƵes polĆ­ticas em paĆ­ses onde a democracia nĆ£o existe ou Ć© apenas de fachada; outros vĆ£o embora porque sofrem com questƵes religiosas que afetam a moral e os bons costumes dos demais, ainda que esta moral e estes bons costumes possam ser objeto de discussĆ£o; existem ainda refugiados que ou fogem ou morrem, vindos de paĆ­ses em constante estado de guerra.

No Brasil, os grupos mais numerosos sĆ£o formados por sĆ­rios, congoleses, angolanos, colombianos e venezuelanos. Muitos deles com formaĆ§Ć£o superior, fluentes em inglĆŖs e outras lĆ­nguas e capacitados intelectualmente e profissionalmente.
Mas a maioria nĆ£o encontra trabalho, uma vez que se para 14 milhƵes de brasileiros a situaĆ§Ć£o Ć© de desemprego, imagine para quem chega de um outro paĆ­s, sem capital, sem indicaĆ§Ć£o e muitas vezes, sem conhecidos?

Talvez por imaginar e saber disso, Ć© que minha experiĆŖncia recente no Open Taste tenha sido tĆ£o significativa, a ponto de vir aqui, dividi-la com vocĆŖ.Ā 

Open Taste Ć© mais que um restaurante, Ć© mais que uma viagem gastronĆ“mica; Ć© um projeto de e para refugiados das mais diferentes nacionalidades que busca dar autonomia, dignidade e acolhimento; inclusĆ£o e esperanƧa.

Um pequeno restaurante, pertinho da EstaĆ§Ć£o Pinheiros, linha amarela do metrĆ“. Um cardĆ”pio com delĆ­cias dos quatro cantos do mundo, ideal para quem jĆ” viajou e faz de cada refeiĆ§Ć£o um forno a lenha de memĆ³rias gustativas ou para quem ainda nĆ£o viajou, mas quer aguƧar a vontade de conhecer paĆ­ses, costumes e sabores.

NĆ£o sou crĆ­tico gastronĆ“mico, mas deixo aqui esse convite: visitar o @opentaste.br pode ser aquela viagem que vocĆŖ sempre quis fazer e que dispensa passaporte, moeda estrangeira e visto.Ā 

Vai lĆ”, peƧa por delivery, encomende para um evento da sua empresa e depois conte para seus amigos. Quanto mais gente, mais refugiados ajudados. Mais vidas acolhidas. Mais histĆ³rias para ouvir e contar. E mais lembranƧas como essa para dividir.
O TAMANHO ƚNICO NƃO SERVE A NINGUƉM.
Nem faz tanto tempo assim, esperĆ”vamos a rĆ”dio tocar a mĆŗsica ā€œdo momentoā€ para gravarmos em nossa fita cassete e depois poder ouvir no carro na hora em que querĆ­amos. Hoje, por meio doĀ streamingĀ musical, montamos nossoĀ setlistĀ com as mĆŗsicas que queremos ouvir no dia por meio dos nossosĀ smartphonesĀ (e muitos de nĆ³s nem pensa mais em comprar um automĆ³vel e muito menos uma fita-cassete).

Mas no caso do automĆ³vel, se ainda for um desejo ou necessidade, podemos escolher a cor, os acessĆ³rios, a motorizaĆ§Ć£o, a forma de pagamento e em alguns casos, tudo isso ao mesmo tempo e sem precisar sair de casa.Ā 

Assim como na mĆŗsica, o mesmo ocorria com os filmes. Ou programĆ”vamos toda a nossa agenda para poder assistir Ć quele filme imperdĆ­vel que ganhou o Oscar ou, se tĆ­nhamos um videocassete, colocĆ”vamos para gravar e podĆ­amos, enfim, assisti-lo ao chegar em casa.

Hoje, temos um cardĆ”pio de filmes Ć  nossa disposiĆ§Ć£o tambĆ©m porĀ streamingĀ e que, nĆ£o sĆ³ nos permite ver o que queremos, mas quando desejamos e quantas vezes quisermos. E, mais, capaz de indicar filmes similares a partir das nossas escolhas.

Bem, se o mundo vai nessa direĆ§Ć£o, por que seria diferente com o aprendizado?Ā 
Por que vocĆŖ deveria aprender a mesma base de uma lĆ­ngua estrangeira por exemplo, se o que vocĆŖ realmente precisa Ć© aplicĆ”-la na sua carreira, no segmento de mercado da empresa em que atua, nos momentos diversos como reuniƵes,Ā callsĀ e trocas de mensagens?

CustomizaĆ§Ć£o.Ā Essa capacidade de adaptar algo de acordo com o gosto ou a necessidade de alguĆ©m, a partir dos objetivos finais e resultados que se esperam,Ā Ć© o grande diferencial do aprendizado de hoje.Ā Ć‰ uma forma de aprender o que efetivamente vocĆŖ vai utilizar.Ā Ć‰ reconhecer que a lĆ­ngua inglesa para um profissional de finanƧas nĆ£o Ć© necessariamente o mesmo daquele que trabalha na Ć”rea do direito ou da tecnologia.Ā 
Porque cada caso Ć© Ćŗnico.Ā Sua necessidade pode ser maior em leitura, uma vez que seu cargo exige conhecimento e anĆ”lise de relatĆ³rios eĀ papersĀ especĆ­ficos; pode ser destravar sua oralidade, uma vez que seu objetivo Ć© lidar com grupos comerciais e globais, o que faz das reuniƵes o momento mais importante. Pode ser a soma de tudo isso.Ā Pode ser o que for, desde que seja sob medida para vocĆŖ.

Ɖ tĆ£o Ć³bvio quanto imaginar que se vocĆŖ nĆ£o gosta deĀ heavy metalĀ ou sertanejo universitĆ”rio, por que mĆŗsicas deste gĆŖnero deveriam aparecer no seuĀ set list? Ou se vocĆŖ nunca buscou filmes de arte europeus, por que nĆ³s irĆ­amos indicĆ”-los para seus momentos de lazer? Se pensarmos bem, tempo sempre foi uma matĆ©ria-prima escassa.Ā 

Sabemos que quanto mais planos e projetos desenvolvemos para nossa vida profissional e pessoal, mais tempo serƔ dedicado a eles. AtƩ porque para dar errado, nenhum planejamento Ʃ preciso. Mas para dar certo... .

Quanto mais esse tempo passa, mais a gente percebe que nĆ£o temos tempo a perder.Ā 
Muito provavelmente, vocĆŖ mesmo nĆ£o continua a ler livros que nĆ£o sejam interessantes como aprendizado ou entretenimento, ou vĆŖ filmes atĆ© o fim, quando jĆ” no comeƧo percebe que nĆ£o vai valer a pena. A gente simplesmente jĆ” chegou naquela fase de entender que nosso tempo tem que ser bem empregado. Inclusive, porque muitas vezes Ć© melhor usĆ”-lo para nĆ£o fazer nada do que fazer algo improdutivo.Ā 

Como disse o poeta, a vida tambĆ©m Ć© feita de pausas. Aproveite-as. E quando tiver que aprender, busque o aprendizado customizado, aquele sob medida para vocĆŖ.
A VIDA Ɖ UM TABULEIRO. Ɖ PRECISO QUE ALGUƉM ENSINE VOCƊ A JOGAR.
Acabo de assistir Queen's Gambit pela Netflix. EngraƧado que nunca fui um Ć³timo jogador de xadrez; apenas sei movimentar as peƧas e quando consigo antever uma jogada do adversĆ”rio, jĆ” fico feliz comigo mesmo. Mas por algum motivo, resolvi assistir Ć  minissĆ©rie. E no desenrolar da trama, muitos aprendizados sobre o jogo, mas principalmente sobre a verdadeira arte de ensinar e aprender.

Quanto ao jogo, se vocĆŖ quer desenvolvĆŖ-lo, faƧa como a protagonista: jogue muito o tempo todo, estude, leia, converse com outros jogadores. Dispute campeonatos.

Quanto ao aprendizado, faƧa como eu: pare alguns minutos para refletir.
Acredito que escolas e professores devam descobrir as potencialidades de seus alunos e investir tempo nisto, assim como empresas e seus lĆ­deres com relaĆ§Ć£o aos colaboradores. Durante sĆ©culos, o ensino procurou deixar todos em um mesmo nĆ­vel do saber e hoje, acredito ser muito mais produtivo reforƧar potencialidades que diminuir incapacidades.

Isto vemos logo nos primeiros episĆ³dios.Ā Todas as crianƧas recebem a mesma carga horĆ”ria dos mesmos ensinamentos; sĆ³ quando a protagonista (Ć s escondidas) recebe aulas de xadrez, o seu absurdo talento se manifesta.Ā 

Primeira liĆ§Ć£o:Ā seja acima da mĆ©dia em alguma coisa; o mais ou menos em tudo farĆ” com que vocĆŖ seja apenas mais um. Descubra o quanto antes o que gosta, o que te motiva, o que te faz ficar acordado estudando e invista nisso.

Mais adiante, percebemos como Ć© importante saber lidar com a concorrĆŖncia e as derrotas. Saber perder Ć© entender que a derrota realmente tem o poder de nos ensinar a melhorar.Ā 

Segunda liĆ§Ć£o:Ā o que vocĆŖ faz cada vez que perde? Cada vez que nĆ£o passa em uma entrevista ou recebe um feedback negativo no seu trabalho?

E, finalmente, a comparaĆ§Ć£o entre os mĆ©todos russo e americano de aprendizado e colaboraĆ§Ć£o.Ā A vida fica muito mais fĆ”cil quando conhecemos nossas limitaƧƵes e temos a humildade de pedir e receber ajuda. Nisso, os enxadristas russos sempre foram mestres.Ā 

Terceira liĆ§Ć£o: vocĆŖ tem familiares, amigos, colegas e professores. PeƧa ajuda. De algum lugar (e de alguĆ©m) ela virĆ” e farĆ” toda a diferenƧa.

E antes de encerrar, afinal de contas, o que Ć© Gambito da Rainha, nome da minissĆ©rie?Ā Ć‰ uma abertura do xadrez, na qual vocĆŖ sacrifica um peĆ£o para acelerar o desenvolvimento das peƧas na partida. Mas para liƧƵes do jogo, tem gente muito melhor do que eu para dar.Ā 

Invista no seu talento. Aprenda a lidar com as derrotas (uma vez que elas virĆ£o). PeƧa ajuda. Talvez isto nĆ£o seja suficiente para vocĆŖ ser um enxadrista; mas serĆ” fundamental para vocĆŖ ser um profissional melhor.Ā 
TUDO PODE SER COPIADO.Ā 
MENOS A REPUTAƇƃO DA SUA MARCA.
Esta semana tem sido prĆ³diga em aƧƵes diferenciadas por parte das marcas.Ā A Natura, que jĆ” tem a preocupaĆ§Ć£o legĆ­tima com causas mais humanas hĆ” muito tempo, traz como protagonista de sua campanha do Dia dos Pais, Tammy Miranda. O Burger King entra na onda do Programa doĀ Eduardo Sterblitch ('Sterblitch NĆ£o Tem Um Talk Show') e faz sua parĆ³dia de comunicaĆ§Ć£o em cima da 'Cabeleleila Leila'. O Serasa idem. Por que isso acontece com esta frequĆŖncia? Por que marcas buscam comunicaĆ§Ć£o diferenciada?Ā 

Muita gente desavisada pode achar que isto Ć© oportunismo, o famoso ā€œpegar caronaā€. Mas a causa Ć© mais profunda. Uma das mais evidentes transformaƧƵes do Mercado, seja em que segmento for, Ć© que as tĆ£o famosas vantagens competitivas, que nas dĆ©cadas passadas garantiram um lugar de destaque para diversas marcas, hoje nĆ£o existem mais.Ā 

Uma breve reflexĆ£o nos mostra que as principais vantagens competitivas das marcas hĆ” dez ou vinte ou cinquenta anos sempre foram tecnologia, variedade, design e preƧo. Todas, sem exceĆ§Ć£o, podem e sĆ£o copiadas em prazos cada vez mais curtos.

Vejamos a tecnologia. A Apple copiou o duplo clique dos engenheirosĀ 
da Xerox equanto esta produzia computadores; todas as demais marcas copiaram a Apple em seus smartphones. AutomaĆ§Ć£o de residĆŖncia hoje nĆ£o Ć© mais privilĆ©gio da marca A ou B; assim como streaming seja de filmes ou mĆŗsica. A tecnologia ficou mais barata e muitos passaram a ter acesso.

O mesmo com variedade. Por mais que vocĆŖ crie um diferencial para sua marca, nada impede que a concorrĆŖncia veja, aprenda e copie. Cada vez mais rĆ”pido. Crie uma receita especial para seu burger. E conte em quantos dias a concorrĆŖncia levarĆ” para ter um similar. O mesmo para brigadeiros, sorvetes, cervejas caseiras e o que mais vocĆŖ imaginar.Ā 

Mas e o preƧo? Bom, alguĆ©m jĆ” avisou faz tempo que se tudo que vocĆŖ tem para oferecer Ć© o menor preƧo, vocĆŖ corre o risco de nĆ£o ter nada, pois sempre haverĆ” alguĆ©m, em algum lugar, vendendo mais barato.Ā Ā 
E quanto ao design? Bom, depois que a indĆŗstria automobilĆ­stica chinesa copiou modelos como MiniCooper e Land Rover, nada mais Ć© impossĆ­vel.

O fato Ć© que a outrora vantagem competitiva se foi. E aĆ­ o tĆ­tulo do artigo passa a fazer sentido: tudo, absolutamente tudo pode ser copiado.Ā 
Menos a reputaĆ§Ć£o da sua marca.Ā 

Nenhuma marca de beleza e bem estar pode copiar a reputaĆ§Ć£o da Natura; nenhuma empresa de alimentos conseguirĆ” copiar a reputaĆ§Ć£o da NestlĆ© ou do Burger King.Ā A dificuldade Ć© queĀ Ā reputaĆ§Ć£o se cria ao longo do tempo, com gestĆ£o de marca, branded content e atitude para alĆ©m do discurso.Ā 

SerĆ” que acionistas, CEOs e diretores estĆ£o dispostos a pensar nisto no longo prazo?
1,2 FeijĆ£o com arroz. 1,2,3 enganei o freguĆŖs.
Ainda estamos, anunciantes e publicitaĢrios sob o impacto da decisaĢƒo de mais de 160 marcas em boicotar plataformas digitais comoĀ Facebook,Ā TwitterĀ eĀ YoutubeĀ por conta do pouco ou fraĢgil controle ao discurso de oĢdio que circula por entre elas.

Esta iniciativa ganha aina mais foĢ‚lego com o lancĢ§amento da campanhaĀ #StopHateforProfit, que visa estimular empresas globais de miĢdia a coibirem discursos de oĢdio em suas plataformas. A forcĢ§a desta e demais acĢ§oĢƒes conjuntas fizeram com que por estes dias, Mark Zuckerberg anunciasse uma nova poliĢtica proibindo qualquer mensagem relacionada com o chamado discurso de oĢdio em sua plataforma que promova qualquer tipo de discriminacĢ§aĢƒo.

Fico feliz por perceber que as marcas (pelo menos boa parte delas) jaĢ compreendeu que o novo marketing eĢ feito com propoĢsito, transpareĢ‚ncia e defesa de causas, para aleĢm de resultados financeiros.
Fico feliz pela voz do consumidor se fazer ouvir e, mais do que isso, reverberar em acĢ§oĢƒes praĢticas e naĢƒo apenas no discurso. SoĢ naĢƒo fico ainda completamente feliz porque naĢƒo vejo o mesmo acontecer com outros meios de comunicacĢ§aĢƒo.Ā 

Explico.
Para controlar o volume absurdo de conversas em suas plataformas, Zuckerberg deveraĢ criar comiteĢ‚s globais e locais, com representantes de assuntos ligados aĢ€ diversidade e claro, com conhecimento juriĢdico (pois as leis para estes assuntos saĢƒo diversas e muitas vezes, controversas). Assim, haĢ algum tempo penso qual seria a responsabilidade que meios outros como a televisaĢƒo, raĢdio e jornais deveriam ter e assumir quando discursos de oĢdio, preconceitos ou mesmo mentirosos, saĢƒo produzidos ou neles veiculados.

Recentemente um importante canal de televisaĢƒo aberta veiculou uma seĢrie macicĢ§a de comerciais em que uma empresa oferecia produtos eletroeletroĢ‚nicos (especialmente televisores e refrigeradores) a um precĢ§o muito abaixo da concorreĢ‚ncia (50% abaixo no miĢnimo). Esta empresa solicitava pagamento aĢ€ vista via boleto e se comprometia a entregar produtos em ateĢ 30 dias uĢteis.Ā 

Resultado: mais de 22 milhoĢƒes de reais envolvidos, centenas ou milhares de brasileiros enganados e lesados (pagaram e naĢƒo receberam), um casal de soĢcios preso no interior de SaĢƒo Paulo e o outro casal soĢcio foragido nos Estados Unidos.

AiĢ facĢ§o a reflexaĢƒo: ateĢ que ponto, o veiĢculo de comunicacĢ§aĢƒo naĢƒo compactuou (ainda que de forma inocente) com o golpe? NaĢƒo deveriam todos os veiĢculos de comunicacĢ§aĢƒo terem um departamento juriĢdico e de marketing para analisar cada anunciante, suas ofertas e suas entregas? Checar a veracidade das informacĢ§oĢƒes antes de vender espacĢ§os comerciais? Cobrar mais que apenas a papelada juriĢdica, como por exemplo notas fiscais que comprovem acordos comerciais de compra ou presencĢ§a real de produtos em estoque para a entrega?

Enfim, estabelecer uma seĢrie de paraĢ‚metros iniciais que impecĢ§am que novos golpistas cheguem por meio da publicidade aĢ€ casa de milhares, milhoĢƒes de consumidores?Ā Sei que ao comprar um celular da marca X na rede de varejo Y, caso o produto apresente falha ou naĢƒo me seja entregue, a responsabilidade eĢ dupla: do fabricante e do ponto de venda. Se o ponto de venda eĢ um importante veiĢculo de comunicacĢ§aĢƒo e presencĢ§a de marcas, por que o mesmo naĢƒo ocorre com a publicidade em meios como TV, jornais e raĢdio entre outros?

Acredito que todos os discursos que prejudiquem a cidadania e o consumo (sejam de oĢdio, preconceito, discriminacĢ§aĢƒo ou estelionato) devem ser repudiados, evitados e coibidos por todos os meios de divulgacĢ§aĢƒo. As grandes marcas jaĢ estaĢƒo fazendo isso com as miĢdias digitais. ConseguiraĢƒo o mesmo com as demais?
Naming imobiliĆ”rio: mais difĆ­cil que escolher nome de filho(a).Ā 
Este talvez seja um grande desafio de uma ageĢ‚ncia ou frila quando recebe o briefing de um novo lancĢ§amento imobiliaĢrio. Salvo raras excecĢ§oĢƒes em que o cliente jaĢ define o nome, em mais de noventa e cinco por cento das vezes, a recomendacĢ§aĢƒo seraĢ da ageĢ‚ncia; mas a escolha final, sempre, do cliente. Ao longo do meu trabalho, pude contribuir para o batismo de alguns importantes empreendimentos imobiliaĢrios, residenciais, comerciais e de uso misto em SaĢƒo Paulo e em outros estados.

Com a experieĢ‚ncia, busquei algumas metodologias que, se naĢƒo definem o nome ideal, pelo menos impedem de seguirmos na direcĢ§aĢƒo errada (o que jaĢ eĢ bastante, uma vez que muitas campanhas e pecĢ§as criativas dependem do nome e suas associacĢ§oĢƒes). Resolvi compartilhar
com voceĢ‚s e espero que ajudem em novos processos (especialmente de concorreĢ‚ncia). Vamos laĢ:

[1] Parta do princiĢpio que um bom nome deve nascer de um destes treĢ‚s pilares: localizacĢ§aĢƒo, persona e projeto.

[2] A localizacĢ§aĢƒo pode fornecer nomes de ruas interessantes; o nuĢmero do empreendimento pode ser memoraĢvel, os vizinhos podem referendar (recentemente lancĢ§amos AR Ibirapuera, em que AR, aleĢm da oĢbvia interpretacĢ§aĢƒo por estar vizinho ao parque, era tambeĢm a inicial de Ascendino Reis, o nome da rua do empreendimento).

[3] TambeĢm o bairro com sua histoĢria e caracteriĢsticas eĢ importante e pode ajudar na criacĢ§aĢƒo do naming. Uma vez propusemos para um empreendimento no coracĢ§aĢƒo da Mooca o nome GrenaĢ. Quem eĢ de laĢ, vai entender.

[4] O perfil do potencial comprador e morador tambeĢm pode ser ponto de partida em busca do melhor nome. Em um lancĢ§amento na Vila Madalena, uma pesquisa revelou que seus moradores valorizam alimentacĢ§aĢƒo orgaĢ‚nica, artes e relacionamentos pessoais. DaiĢ surgiu o Origem Vila Madalena, pelo entendimento que seus moradores daĢƒo aĢ€ palavra origem.

[5] JaĢ o projeto ajuda sempre quando naĢƒo eĢ mais do mesmo. A Stan possui uma linha uĢnica de empreendimentos em cujo hall sempre haĢ uma obra de arte que pode ser vista e se torna parte do conviĢvio diaĢrio com seus moradores. Para esta linha de produtos, nada poderia soar melhor que Arte Arquitetura. Pena que ainda sejam poucos os projetos que trazem diferenciais relevantes (proporcionalmente).

[6] A sonoridade do nome tambeĢm impacta. Porque este nome seraĢ dito por telefone, pelas miĢdias, pelo contato com comercializadoras. Se a sonoridade for ruim ou de difiĢcil pronuĢncia, isto pode gerar um ruiĢdo desnecessaĢrio.

[7] SupersticĢ§aĢƒo ou tradicĢ§aĢƒo. Isto implica em conhecimento preĢvio e muitas vezes pode definir o sucesso ou fracasso de um empreendimento. Certa ocasiaĢƒo, tiĢnhamos um nome muito bonito que terminava com o nuĢmero do empreendimento, 04. Fomos alertados pelo cliente que os potenciais compradores naquele bairro eram coreanos e chineses e que, para estes, o nuĢmero quatro naĢƒo eĢ de bom agouro (eĢ o nuĢmero da morte ou de azar nestas culturas).

[8] AleĢm da sonoridade, o nome tambeĢm precisa ser faĢcil de escrever. Isto acontece com qualquer naming. Um empreendimento chamado Alpha por exemplo, com ph, pode perder visitas e consultas digitais simplesmente porque as pessoas digitam Alfa com f. Palavras em ingleĢ‚s ou em outras liĢnguas podem trazer o mesmo problema. Imagine Place des Voges em
um enderecĢ§o digital (existe o condomiĢnio em SaĢƒo Paulo).

[9] A quem interessa o nome? A bem da verdade, muito mais ao seu cliente do que aos potenciais moradores. Reflita agora: qual o nome do seu preĢdio? Ou do preĢdio em que voceĢ‚ trabalha? Poucos de noĢs sabemos e nos importamos com isso. Mas naĢƒo podemos correr o risco de criar um nome que atrapalhe qualquer possibilidade de entendimento e, por consequeĢ‚ncia, vendas.

[10] Parece que tudo jaĢ foi criado. E foi mesmo para quem faz isto sempre. Antes de definir seu nome, criar a campanha e apresentar ao cliente, eĢ fundamental que a ageĢ‚ncia facĢ§a uma pesquisa bem feita e ateĢ registre o nome comprando o seu domiĢnio.br Porque se o cliente gostar, estaĢ seraĢ a primeira indagacĢ§aĢƒo.

[11] Nome eĢ parte e naĢƒo o todo. Assim como uma pessoa, o nome ajuda a identificar e diferenciar um dos outros, mas haĢ outros itens que compoĢƒem a personalidade uĢnica de cada pessoa, produto ou servicĢ§o. Essa personalidade pode vir ancorada no nome, mas tambeĢm na linguagem visual, cores ou assinatura. Defina tambeĢm o posicionamento do produto e sua ligacĢ§aĢƒo com a marca que o assina. Pensando de forma integrada, as chances de sucesso seraĢƒo mais amplas.

Quando puder, caminhe pelo seu bairro e comece a reparar nos nomes dos empreendimentos. O fato de voceĢ‚ gostar de poucos com certeza eĢ a prova de que este eĢ um dos desafios mais difiĢceis para quem trabalha comĀ namingĀ no mercado imobiliaĢrio.
BOMBRIL. AGORA COM 1002 UTILIDADES.
Escrevo de ā€œuma sentada soĢā€, como diriam os antigos. Mas naĢƒo tenho como naĢƒo escrever aqui sobre comunicacĢ§aĢƒo,Ā namingĀ e a compreensaĢƒo do novo momento em que vivemos.

Em junho do ano passado estive em EĢvora, Portugal, mostrando a pesquisadores de todo o mundo os resultados de pesquisas que tenho desenvolvido com universitaĢrios (entre 17 e 20 anos de idade). A cada ano as pesquisas revelam que este novo cidadaĢƒo e consumidor rejeita com tons fortes e caixa alta qualquer produto, servicĢ§o ou comunicacĢ§aĢƒo que reforce preconceitos, estimule preĢ-julgamentos ou relembre gatilhos emocionais capazes de aprofundar ou reabrir qualquer uma das tantas cicatrizes sociais que nossa sociedade jaĢ carrega.

HaĢ deĢcadas reforcĢ§o, seja na ageĢ‚ncia seja em sala de aula, o mantra ā€œcomunicacĢ§aĢƒo eĢ o que se entende e naĢƒo o que se dizā€. E como isto muda tudo, pois obriga anunciantes, criativos e profissionais de marketing a investirem seu tempo em empatia, conhecimento preĢvio e outros saberes que vaĢƒo muito aleĢm da planilha, da liĢngua portuguesa e da direcĢ§aĢƒo de arte.Ā O ocorrido hoje, horas antes desta publicacĢ§aĢƒo com a Bombril, eĢ apenas mais um triste
exemplo de empresa com mais de meio seĢculo de existeĢ‚ncia (1948) que resolveu divulgar um produto haĢ muito quase esquecido em seu extenso portfoĢlio: a marca Krespinha.Ā 

Ora, crescemos (vaĢrias geracĢ§oĢƒes) associando a palha de acĢ§o a um tipo especiĢfico de cabelo e quase sempre acompanhado por comentaĢrios pejorativos. Se durante os setenta anos da marca ningueĢm contestou eĢ porque a marca estava esquecida; mas hoje em dia naĢƒo haĢ mais espacĢ§o para nomes, atitudes, posicionamentos que reforcem o preconceito ā€“ mas e se naĢƒo houve a intencĢ§aĢƒo?

Incomodou algueĢm? ReforcĢ§ou preĢ-conceitos? Estimulou novos gatilhos pejorativos? EntaĢƒo, naĢƒo use, naĢƒo lance, naĢƒo crie, naĢƒo estimule. FacĢ§a mais, seja mais uma pessoa ou empresa a evitar que situacĢ§oĢƒes assim se repitam.
E por queĢ‚ isso ainda acontece?Ā 

Muitas podem ser as alternativas, mas creio que a falta de conhecimento, a insisteĢ‚ncia na pouca diversificacĢ§aĢƒo entre os produtores de publicidade no Brasil (ainda temos muito a evoluir neste sentido), a miopia empaĢtica dos liĢderes de marketing e donos das empresas, enfim, alguns destes motivos ou a soma de todos estes e mais alguns.

Felizmente, diferentemente de outros momentos em que a maioria das empresas preferia silenciar, Bombril veio a puĢblico e se comprometeu a retirar a marca do seu portfoĢlio de produtos, rever toda a sua comunicacĢ§aĢƒo, aleĢm de pensar em acĢ§oĢƒes que possam gerar mais compromisso com a diversidade.

Se durante deĢcadas Bombril teve 1001 utilidades chegou o momento de acrescentar mais uma e ajudar a informar e a combater qualquer tipo de discriminacĢ§aĢƒo. Sempre eĢ tempo de aprender.
DE ARISTOĢTELES AOS ALGORITMOS.
Desde cedo aprendi que criatividade naĢƒo eĢ um dom mediuĢnico e nem um superpoder reservado a heroĢis ou heroiĢnas. Repito isto haĢ deĢcadas, seja na ageĢ‚ncia, quando algueĢm se sente incapaz, seja em sala de aula, quando pergunto aos alunos - quem naĢƒo se acha criativo e muitos levantam a maĢƒo.

Por isso mesmo fiquei extremamente feliz e satisfeito com o que aprendi recentemente fazendo um curso na Casa do Saber com o Roberto Vilhena sobre Criatividade e InteligeĢ‚ncia Artificial. Foram 10 encontros virtuais e impossiĢveis de serem resumidos aqui; mas naĢƒo posso deixar de compartilhar (afinal, estamos na era do compartilhamento) alguns pontos essenciais nessa curva de aprendizado. Vamos laĢ:

[1] O pensar naĢƒo eĢ mais uma exclusividade humana. Os humanos ensinaram agentes inteligentes a pensar via inteligeĢ‚ncia artificial.

[2] Se o pensamento humano naĢƒo eĢ mais exclusividade, temos que diferenciar nossa loĢgica de raciociĢnio para continuarmos a ser importantes e diferenciados.

[3] Enquanto os agentes inteligentes saĢƒo capazes de replicar pensamentos lineares e com alto
grau de previsibilidade, noĢs, humanos, devemos nos diferenciar rumo ao pensamento criativo.

[4] Este pensamento criativo eĢ aquele que naĢƒo teĢ‚m medo de integrar campos associativos diferentes e fazer uso de diversos silogismos cientiĢficos, dialeĢticos, poeĢticos entre outros.

[5] Os agentes inteligentes saĢƒo programados para fazer e pensar aquilo que pode ser previsto; o imprevisiĢvel, o novo, o insight saĢƒo prerrogativas humanas e eĢ aiĢ, que cada um de noĢs deve direcionar sua inteligeĢ‚ncia, o saber e o pensar.

[6] O que naĢƒo puder ser previsiĢvel seraĢ de poder dos humanos.

[7] Neste sentido entender e praticar a metaĢfora com maestria poderaĢ significar a sobreviveĢ‚ncia profissional, pois a metaĢfora eĢ uma ponte entre campos associativos diferentes e nisto, os agentes inteligentes (IA) teĢ‚m muita dificuldade em agir (por naĢƒo serem previsiĢveis).

[8] Se o pensamento naĢƒo eĢ mais exclusividade humana, a loĢgica criativa seraĢ nossa defesa e possibilidade de resisteĢ‚ncia.

[9] A criatividade naĢƒo eĢ prerrogativa de artistas; eĢ uma maneira de buscar o novo, o imprevisiĢvel nas artes, mas tambeĢm no mundo dos negoĢcios e na vida.

[10] Para encontrar o novo esteja aberto ao aprendizado constante; a consumir novos conhecimentos, a aumentar seu repertoĢrio sem preĢ-julgamentos e preconceitos.

Assim, devemos todos deixar de encarar a inteligeĢ‚ncia artificial e seus agentes inteligentes como concorrentes e permitir que eles executem o pensamento linear e previsiĢvel; enquanto isso, buscamos a loĢgica criativa que associa campos diferentes e produz resultados inimaginaĢveis. Esse eĢ o futuro (ou o presente) e eĢ pra laĢ que devemos seguir. Vamos juntos?
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