ESTADO DE DESCASO
A vida de minorias sociais sem representatividade política diante de um sistema econômico agressivo é uma vida pela sobrevivência. As pessoas são sobrepostas a condições deteriorantes enquanto o interesse de uma parcela privilegiada da sociedade é defendido por instituições públicas. Nessas condições de indiferença se encontram diversas famílias brasileiras, vivendo às margens da ganância humana.
Em Jardim Gramacho, famílias enfrentam todos os dias o desafio de superar os problemas sociais decorrentes da falta de políticas públicas. sem ter nenhum tipo de ajuda ou respaldo do governo. Em 2012, o Aterro Sanitário Jardim Gramacho, maior lixão da América latina fechou. Catadores de lixo e pessoas que trabalhavam em galpões de reciclagem ficaram sem ter o que fazer. Catadores foram indenizados mas a questão não pode ser resolvida apenas com isso.
O Brasil, em 2016, foi líder mundial em reciclagem de alumínio, mas seria isso decorrente de políticas de sustentabilidade ou resultado do trabalho de diversas pessoas que encontram na reciclagem uma forma de sobreviver?
O esquecimento e abandono do local deveria ser motivo de preocupação e atenção dos projetos de mudanças estruturais mas o descaso constante cria os caminhos turbulentos da dificuldade, da falta de água potável, do lixo clandestino e de centenas de famílias que aguardam o poder público e suas promessas.
Ações sociais, ONG's e projetos de igreja são os responsáveis pelo básico que essas famílias recebem com doações de comida, produtos de higiene básica, roupas e brinquedos. Alguns projetos também oferecem assistência escolar, alfabetização e prática de esportes. A ajuda é extremamente necessária para aqueles que dependem disso para passar o mês e não possuem nenhuma renda mas, além de tudo isso, falta a oportunidade de mudança, com novas fontes de renda e profissionalização.
Embora os projetos sociais estejam presentes tentando atender toda a região, o número de pessoas que precisam de ajuda é maior que a quantidade das doações arrecadas. Núbia Moreira de 24 anos, é um exemplo disso. Passou a manhã inteira debaixo do sol, com seu filho de sete meses no colo, na esperança de ganhar uma senha para receber uma cesta básica. "Não consegui pegar...", disse Núbia.
Monique Vicente de Miranda, mãe de 5 filhos. Trabalhava na reciclagem, hoje desempregada.
Lais Caroline de Miranda Pessoa, 2 anos.
Nas ruas de Jardim Gramacho, crianças brincam com sorriso no rosto, adultos esboçam uma expressão preocupada, a falta de saneamento básico faz com que caminhos de esgoto cortem o futebol de rua improvisado, as placas de madeira formam o lar de famílias com histórias para contar, o desemprego assombra as pessoas que querem mudar de situação, muitos recorrem ao trabalho informal, nem sempre todas as necessidades são resolvidas. Deveriam ser.
Uma fotorreportagem de Juan Melo e Nathalia Souza.