FEVEREIRO
Aquele mar não era o mais belo. Seu tom de verde era escurecido, ainda que suas águas fossem limpas; tão calmas que mal se moviam. Sua areia não era a mais branca e mais fofa, e sua noite não era tão estrelada. Ainda assim, a escuridão quase completamente cegante exercia um estranho fascínio, dava forma a imagens que surgiam das sombras estendidas à nossa frente. Ao longe, as luzes da cidade pareciam dizer: finjam que não estamos aqui. E fingíamos.
Fingíamos que não havia nada além daquele momento. E era bom e fácil esquecer que não havia outro mundo aguardando senão aquele. Era bom e fácil colocar um sorriso e acreditar nele. Fácil sentir tudo o que sua pele desejava sentir e se fundir completamente àquele lugar.
Caminhávamos no escuro pela primeira vez. Eu segurava sua mão e não importava o que houvesse, nela eu confiava. Não importava o que a manhã traria, pois aquela noite já era eterna.
A luz de dentro sinalizava de onde viemos, nos lembrando que era tão simples se perder na escuridão, ainda que não fosse um caminho distante. Se soltássemos a mão naquele instante, não mais nos encontraríamos.
Retornamos para o calor do conforto, do familiar. Deixamos a noite e o mar noturno para trás, levando-o em nossos corações, ao lado do amor que aprendi a ter por todas as cores do mar, mas principalmente por aquele primeiro mar noturno, que mesmo em suas sombras, se tornou minha lembrança mais querida, o refúgio que meu coração escolheu para escapar de noites mais escuras que aquela.
Fevereiro
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