Mayara Sá's profile

Meaningless Things

MEANINGLESS THINGS
A chuva cai lá fora, e minhas lembranças se descortinam em frente aos meus olhos, sem preâmbulos, tão somente se ramificando em meus ossos, sem pedir licença. As gotas geladas encharcam minha pele, inflamam minhas veias, embaçam meus óculos, mas não há problema. Há uma multidão de cores e uma imensidão de movimentos ao meu redor, e no entanto, meu espírito não se importa, mergulhado no profundo oceano letárgico das memórias.
Aquela rua, ainda me lembro...
Lembro do que pensei, que canção eu ouvia, o que eu sentia, sem dar muita atenção ao que eu realmente vivi, pois pode-se viver muitas vidas, até as que nunca foram ou nunca serão. A beleza não estava nos fatos, mas nos sentimentos. Nos rebuscados detalhes que eram o ponto de fuga que originava todo o cenário, o olho do furacão.
Passo ante passo, um olhar se cruza com o meu e me questiono acerca dos pensamentos que podem ter passado pela cabeça daquele com que compartilhei uma rápida espiadela. Quem serei eu para ele? A mais. A menos. A nada. De tantas questões surgiram outras, mas dentre elas, havia uma...
Por que tanto tempo era perdido com insignificâncias? Por que me limitei a olhar pela janela, ao invés de entrar e ir encenar com os outros? Não parece justo que só haja arrependimentos. Não parece justo que minhas lembranças sejam trincadas, quando eu poderia ter desfrutado o calor e o frio, do bom e do ruim, ao invés de me condenar a beber o amargo cálix do arrependimento.
Seriam todas essas insignificâncias que me faziam passar direto, sem dar importância? Aquele aconchegante café em que nunca entrei, o livro que nunca folheei, o minuto que não perdi admirando uma vitrine. Teria minha vida sido levada para uma direção diferente se o tivesse feito? Transformaria algo se eu desacelerasse o passo e mudasse de ideia? Não adiar, mas fazer. Não prometer, mas cumprir? Seria essa pequena pausa insignificante, ou insignificante mesmo eram as razões que me afastavam desses efêmeros desejos? Talvez eu devesse ter entrado, me atrasado, que mal faria?
Ou talvez... talvez eu só seja presa aos prelúdios. Talvez eu seja uma amante do mito, e não da verdade. Talvez eu aprecie mais a fumaça do que o fogo. Talvez para mim, haja mais emoção no trovão do que na tempestade em si. Talvez, só talvez... eu ame as projeções, e não as pessoas.
E quem sabe este não foi meu erro mais recorrente? Poderia eu ter confundido o "eu amo você", com o "estou apaixonada por você" e ignorado o abismo intransponível que havia entre as duas sentenças, como já diziam as imortais palavras do nobre contador de histórias?
Tantas interrogações em meio a míseras e vazias respostas. Seriam essas questões, no final das contas, tão insignificantes quanto todo o resto? E se o era... o que realmente teria significado, então?
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