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Artigo de Opinião: Dengue no Brasil

Casos de dengue aumentam no Brasil: entenda o problema ambiental por trás

Novos casos da doença causada pelo mosquito Aedes Aegypt são confirmados. A proliferação é propícia no Brasil devido a problema com lixo. 

Por Brenda Evaristo.

O número de casos notificados de dengue no Brasil quadruplicou entre o início do ano passado e o deste ano. Nas primeiras seis semanas de 2024, já são 512 mil casos confirmados e em análise de dengue no país e 75 mortes registradas, de acordo com o levantamento feito pelo Ministério da Saúde de janeiro até 12 de fevereiro. A maior incidência de casos é nos estados de Minas Gerais, Acre, Paraná, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal. O governo decretou estado de emergência na saúde no Acre, Distrito Federal, Minas Gerais e Goiás, que enfrentam um quadro de epidemia.

No meio do surto, porém, uma esperança surge: o governo federal iniciou neste mês de fevereiro a imunização com a vacina Qdenga, disponibilizada pelo SUS. O imunizante japonês contra a dengue é o primeiro a ser incorporado ao Programa Nacional de Imunizações. O progresso é notável, entretanto, a quantidade de doses é limitada e o primeiro lote, destinado apenas para crianças de 10 a 11 anos – medida insuficiente dada a gravidade da situação. 

O Aedes Aegypti, transmissor do vírus que causa a doença, é um mosquito doméstico, comum em áreas urbanas, e tem como característica mais evidente a presença de marcas brancas nas pernas e no dorso. A espécie se prolifera especialmente na presença de água parada. A transmissão da doença acontece quando o mosquito fêmea infectado pica a pele humana em busca de sangue, pois precisa dele para a produção de ovos.  Neste processo, as partículas de vírus são injetadas na corrente sanguínea da pessoa junto com a saliva do mosquito, a qual contém uma série de substâncias analgésicas e anti coagulantes que o torna imperceptível (para que consiga sugar o maior volume possível de sangue). Nem todas as pessoas que são picadas apresentam sintomas – cerca de 20% a 50% vão desenvolver formas subclínicas da doença. Mesmo assim, é importante em caso de qualquer suspeita procurar o posto de saúde mais próximo. Os sintomas da dengue hemorrágica, a forma mais grave da infecção, incluem: febre alta,  prostração, dor de cabeça, dor abdominal, dores nas articulações, dor atrás dos olhos, fraqueza, náuseas, vômitos, manchas vermelhas na pele, sangramentos nas gengivas e no nariz, urina com sangue, dificuldade de respirar e confusão mental.

O Brasil tem um extenso histórico de epidemias de doenças causadas pelo Aedes (como Chikungunya e Zika Vírus), sendo o principal, a dengue. A Organização Mundial da Saúde afirma que, dos 5 milhões de casos registrados anualmente, quase 3 milhões estão no Brasil. Trata-se de uma doença tropical, pois as condições ambientais, principalmente a temperatura, precipitação, umidade relativa, velocidade do vento, cobertura vegetal e a presença de criadouros são favoráveis para esse tipo de situação. Isso se explica porque o calor acelera o ciclo de vida do mosquito e potencializa a multiplicação da virose, aumentando as chances de contágio. Além disso, o Aedes tem preferência por áreas urbanas onde há aglomeração e maior disponibilidade de locais para depósito de ovos. 
A ocorrência mais comum de dengue é no verão, quando há maior incidência de chuvas. Portanto, quando o cenário se amplia durante outras estações do ano, como ocorreu no ano passado, causa preocupação aos especialistas.

Para a farmacêutica bioquímica Maria Célia da Silva, esses surtos são explicados pelo acúmulo de lixo, principalmente de resíduos orgânicos, que facilitam a proliferação do mosquito. “O aumento do volume do lixo resulta em verdadeiros criadouros de mosquitos vetores da dengue” – relata a profissional. “Nas localidades onde há política de coleta seletiva implementada, o controle dos vetores é facilitado. Entretanto, essa ainda não é a realidade da maioria dos municípios brasileiros.”

As cidades criam condições para o desenvolvimento da doença devido à falta de planejamento, a desordenada urbanização e a precariedade das condições sanitárias e de infraestrutura. O lixo no Brasil é um grave problema ambiental, que traz sérios danos à saúde pública. Nas três últimas décadas, a geração de resíduos urbanos aumentou três vezes mais rápido que a população. Segundo a ONU, Organização das Nações Unidas, com esse ritmo de crescimento a previsão para o ano de 2050 é de 4 bilhões de toneladas de lixo por ano no país. A falta de planejamento adequado de descarte do lixo no Brasil, por parte do poder público, é a principal causa de toda a situação. Temos a presença de quase 3 mil lixões a céu aberto funcionando, que causam além da proliferação de espécies propagadoras de doenças, a poluição do solo e da água. A substituição destes perigosos depósitos por aterros sanitários não é prevista de acontecer.

Além disso, estudos mostram que as mudanças climáticas no país e o fenômeno atmosférico El Niño podem levar a uma maior proliferação dos mosquitos, e consequentemente, ao agravamento das doenças. O Ministério da Saúde afirmou em nota que está alerta e monitora constantemente a situação da dengue no Brasil. E ainda, foi criada a Sala Nacional de Arboviroses, um espaço para monitoramento em tempo real das áreas com maior incidência de dengue, chikungunya e zika. Quanto à população, o Ministério recomenda que eliminem os criadouros e cubram completamente os reservatórios e todas as áreas onde a água possa se acumular com telas ou tampas. 

Porém, mais importante é cobrar do poder público que soluções ecológicas para preservação da saúde humana não sejam negligenciadas. No cenário atual, é evidente que se faz necessária uma reestruturação na forma como o governo brasileiro lida com o lixo. Apesar de o Brasil ser um ambiente que naturalmente contribui para o desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti, a inexistência de educação ambiental atrelada a serviços ineficazes de saneamento básico contribuem para a manutenção e agravamento do problema.

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