Você é contra ou a favor da legalização da maconha? Uma questão de liberdade e escolha pessoal

Por Mariana Marçal

Nos últimos anos, a discussão sobre a legalização da maconha tem se intensificado em todo o mundo, com diversos países e estados dos Estados Unidos optando por adotar políticas mais flexíveis em relação à planta. Há quem defenda que a planta deveria ser liberada para o consumo recreativo e medicinal, assim como ocorre em alguns estados, como o Colorado. Por outro lado, há quem argumente que a maconha é uma droga perigosa, que causa dependência, danos à saúde e violência.

Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que sou contra a legalização de outras drogas ilícitas, como cocaína, crack, lança-perfume e outras. Essas substâncias são comprovadamente prejudiciais ao organismo humano e podem levar à morte. Além disso, não sou favorável à venda de maconha prensada, devido aos riscos associados às substâncias adicionadas durante o processo de fabricação. No entanto, sou a favor do cultivo livre e da venda de maconha natural, que possui propriedades terapêuticas, recreativas e medicinais.

A maconha, no passado, possuía diversas utilidades. Sua composição inclui a fibra de cânhamo, que era utilizada para a confecção de roupas, papel, velas e cordas. Além disso, suas sementes eram consumidas como alimento. Atualmente, a planta tem sido objeto de estudo científico. Em uma pesquisa realizada pela Clínica Kalapa, que busca alternativas de tratamento com cannabis medicinal, foram identificados alguns benefícios para a saúde. Esses benefícios estão relacionados ao tetrahidrocanabinol (THC) e ao canabidiol (CBD), que apresentam efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e psicotrópicos.

Alguns dos potenciais benefícios da maconha incluem: diminuição da dor crônica causada por artrite, fibromialgia ou enxaqueca; redução da inflamação em doenças como síndrome do intestino irritável, psoríase, doença de Crohn e artrite reumatoide; alívio de náuseas e vômitos causados por quimioterapia; estímulo do apetite em pacientes com AIDS ou câncer; tratamento de convulsões em pessoas com epilepsia; redução da rigidez muscular e da dor neuropática em pessoas com esclerose múltipla; alívio da dor em pacientes terminais com câncer; melhora da qualidade do sono em casos de insônia; ajuda no tratamento da ansiedade e depressão; redução da pressão intraocular nos casos de glaucoma. Todas essas informações são baseadas em evidências científicas retiradas do portal Tua Saúde do Grupo Rede Lor. É importante lembrar que, assim como existem benefícios, o uso da maconha pode causar efeitos colaterais e dependência.

A cidade de Colorado, nos Estados Unidos, foi pioneira na experimentação da legalização da maconha, iniciada em 2014. Essa iniciativa tem sido um exemplo de sucesso e fornece insights valiosos para o debate sobre o tema. De acordo com uma pesquisa realizada por Jack Healy, do New York Times, o estado do Colorado arrecadou mais de 6 bilhões de dólares com a venda de maconha recreativa, que é taxada e regulamentada pelo governo. Esse montante foi investido em áreas como educação, saúde e segurança pública. Além disso, a legalização resultou em uma redução no número de prisões por posse de maconha, especialmente entre a população negra, que era desproporcionalmente afetada pela proibição. A legalização também gerou empregos e renda para os agricultores que cultivam a planta de forma legal. No entanto, com base nessa pesquisa, houve um aumento no número de pessoas que buscaram atendimento médico relacionado ao consumo de maconha e casos de doenças mentais associadas ao seu uso.

Nos anos 1800, um médico britânico chamado William O’Shaughnessy estava trabalhando na Índia quando foi abordado por uma mulher. Ela pediu ajuda para tratar as convulsões de sua filha, uma bebê que quase não conseguia mais comer devido aos ataques. Depois de tentar várias alternativas disponíveis na época, o médico decidiu aplicar gotas de uma tintura de cannabis sob a língua da criança e notou que as convulsões haviam parado. Em um artigo intitulado “Sobre a preparação de Indian Hemp ou Gunjah”, ele relatou ter observado que a maconha medicinal seria “um remédio anticonvulsivante de maior valor”. Atualmente, é amplamente reconhecido em várias pesquisas o benefício da maconha medicinal no tratamento de crianças que sofrem de epilepsia e crises convulsivas relacionadas. Esse relato foi retirado da página USAHEMP, uma empresa do estado do Oregon e uma das maiores produtoras de cannabis do mercado dos Estados Unidos.

É claro que a legalização da maconha trouxe alguns desafios e problemas. O consumo da planta pode causar efeitos adversos em algumas pessoas, como ansiedade, que é um estado emocional caracterizado por preocupação, medo e apreensão excessivos; paranoia, que é um processo de pensamento caracterizado por crenças irracionais e delírios de perseguição; e psicose, que é um sintoma de transtornos mentais em que a pessoa perde o contato com a realidade, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde. Por isso, é importante haver campanhas de conscientização sobre os riscos da maconha, assim como há para o álcool e o tabaco.

Mesmo após a legalização, a população negra do Colorado continua sendo detida sob acusações relacionadas à maconha duas vezes mais do que a população branca. Isso destaca a necessidade de políticas de legalização que abordem as disparidades raciais de maneira eficaz, pois sabemos que as drogas e o crime são associados pela sociedade ao povo negro.

Embora existam muitos benefícios, fatores políticos, sociais e raciais ocorridos entre 1603 e 1830 levaram à proibição da maconha no Brasil por meio de uma lei que estabelecia três dias de prisão para escravizados que fossem pegos consumindo a erva, enquanto os vendedores brancos e livres eram penalizados apenas com uma multa. Essa informação foi relatada por André Barros, advogado da Marcha da Maconha e mestre em ciências penais. Todos os dados e histórias contados nesse artigo são exemplos de como o racismo influenciou a proibição da maconha no país. Em outra pesquisa realizada em 2019 pela Mídia Ninja, “O racismo e o pito do Pango”, é relembrada toda a história cronológica da planta. O artigo conta que a maconha fazia parte da cultura negra trazida da África e era consumida em cachimbos de barro pelos quilombolas, como o Quilombo dos Palmares, que celebravam suas origens africanas. A planta simbolizava a relação harmônica dos quilombolas com a natureza.

É fundamental destacar que a proibição da maconha está relacionada ao racismo estrutural e à marginalização histórica da população negra. A criminalização da maconha tem impactos desproporcionais sobre pessoas negras de baixa renda, contribuindo para a desigualdade social e o encarceramento em massa. Uma pesquisa realizada em 2019 por Thiago Domenici e Iuri Barcelos, através do portal Exame, identificou uma diferença de quase 50% a favor dos brancos em casos de absolvição nas desclassificações para “posse de drogas para consumo pessoal”: 7,7% entre os brancos e 5,3% entre os negros. Além disso, os negros foram processados por tráfico com menos quantidade de maconha, cocaína e crack do que os brancos.

É importante ressaltar que a relação entre a maconha e os negros não é intrínseca ou inerente. Ela foi construída historicamente por meio de estereótipos e preconceitos raciais, associando o consumo de cannabis à população negra. Essa associação é injusta e perpetua estigmas e discriminação racial. Por isso, é fundamental a descriminalização da maconha.
Acredito que esses fatores sejam o que impede a liberação da maconha e sua discriminação, pois ela está associada à imagem do negro e a algo ruim e negativo. Durante toda a história, foi criada uma visão negativa do que é escuro e tudo o que é ilegal foi relacionado aos negros. Essa percepção influencia o pensamento de algumas pessoas.

Diferentemente da cannabis, o uso de cigarro é legalizado em todo o mundo, apesar de ser responsável por cerca de 90% das mortes por câncer de pulmão devido ao tabagismo, uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes são resultado do uso direto deste produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado da exposição ao fumo passivo por não fumantes.

O consumo excessivo de cigarros e sua comercialização livre foram impulsionados pela colonização e atingiram o auge no século XX, quando se tornaram um símbolo de estilo de vida moderno e sofisticado, consumido pela alta sociedade. No entanto, nas últimas décadas, o consumo tem diminuído em muitos países desenvolvidos devido à conscientização sobre os riscos à saúde associados ao tabagismo.

O cigarro é prejudicial à saúde, mas não é proibido. Já a maconha, é importante destacar que sua associação com a população negra está relacionada a estereótipos e preconceitos raciais construídos historicamente. A lei discriminatória que proíbe a maconha é um exemplo de como o racismo influenciou a proibição da droga no país.

As opiniões sobre a criminalização da maconha têm evoluído ao longo do tempo. Em muitos países, incluindo o Brasil, há um crescente reconhecimento dos benefícios medicinais da maconha e um debate em curso sobre a legalização e descriminalização da planta.

O mercado global de cannabis legal tem um grande potencial de crescimento e tem impulsionado o mercado da maconha em vários países. De acordo com a consultoria especializada BDSA, o mercado global de cannabis legal atingiu um patamar de vendas de 21,3 bilhões de dólares em 2020, resultando em uma alta de 48% em relação a 2019. A BDSA estima uma valorização de cerca de 17% ao ano nos próximos cinco anos para o setor de cannabis.

No Brasil, um mercado legalizado de maconha já movimenta cerca de R$130 milhões de reais por ano. Isso se deve à atuação de médicos, importadoras, consultorias, sites especializados e fundos de investimentos que investem nos produtos medicinais à base de cannabis, segundo uma matéria publicada por Leandro Machado, da BBC News Brasil.

Como vimos, existem vários fatores que favorecem o consumo de maconha, assim como fatores que são prejudiciais. Isso varia de pessoa para pessoa, dependendo de sua saúde e corpo. Algumas pessoas podem ter crises de ansiedade e falta de ar, enquanto outras podem não sentir nada, talvez porque seu corpo esteja mais saudável. Por exemplo, uma amiga minha fumou maconha em um momento de sua vida em que estava fazendo uma dieta agressiva para emagrecer. Ela não comia direito, não dormia bem e bebia demais. Todos esses fatores contribuíram para que ela passasse mal, pois seu corpo estava fraco e seu estômago vazio. Sua pressão baixou e ela acabou desmaiando em seu quarto. Isso é diferente de uma pessoa que bebe bastante água, come todas as refeições e tem um sono regular. É importante cuidar da saúde do nosso corpo para evitar situações como essa após o consumo de cannabis.

A legalização da maconha tem algumas vantagens, como ajudar pessoas que usam cannabis por razões médicas. Com base em pesquisas retiradas do portal Circuito D, a legalização libera a polícia para atacar outros tipos de crime e gera uma boa fonte de impostos para o estado e para as prefeituras. Também pode diminuir o poder do tráfico e diminuir o envolvimento de jovens com o tráfico. Usar maconha não deveria ser um crime, é uma questão de liberdade e escolha pessoal.
Embora haja preocupações legítimas sobre os riscos à saúde e o impacto social da maconha, é essencial reconhecer os potenciais benefícios. A legalização da maconha deve ser vista como uma questão de liberdade individual e escolha pessoal, desde que acompanhada de regulamentações rigorosas para mitigar seus potenciais riscos.

Em suma, a legalização da maconha é um debate complexo, mas sua regulamentação responsável pode trazer benefícios significativos, pois traz mais vantagens do que desvantagens para a sociedade. A proibição da planta só favorece o tráfico de drogas, a violência e a corrupção. A legalização da maconha é uma forma de garantir a liberdade individual, a saúde pública e a justiça social.
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