Victor Masson's profile

Casa Santa Gemma / Fotorreportagem - UFU

Localizada na Rua José Flores, 351, Bairro Aclimação, em Uberlândia – MG, a Casa Santa Gemma - cujo nome é um nome fantasia da instituição OnG Missão de Acolhimento - que tem por base um trabalho de acolhimento com as pessoas em situação de rua, e ligada à Pastoral de Rua, tem por princípios os resgates sociais, morais e espirituais das pessoas acometidas por tal condição. O maior objetivo da instituição é o de trazer dignidade à população excluída da sociedade. Seus principais valores são o tratamento humano, cristão e sem preconceitos; idoneidade e responsabilidade; sensibilidade e paciência. Amor incondicional.
O escopo da instituição é ser referência no cuidado incondicional às pessoas em situação de rua, prezando os princípios cristãos de amor fraterno, perseverança e o que eles classificam como “uma busca incansável pela dignidade do ser humano”. O lema da instituição é o amor fraterno.
A OnG tem como missão primordial proporcionar às pessoas em situação de rua uma chance factível de resgate social, moral e espiritual. Ajudando sempre de acordo com as possibilidades e direitos legais todas as pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social, excluídas e abandonadas pela família ou pelo Estado. 
A instituição ainda promove eventualmente almoços, jantares, inclusive apresentações artísticas, com o intuito de arrecadar fundos para a própria instituição. Além do trabalho “em campo” com distribuição de marmitas pelas ruas da cidade de Uberlândia. 
Assim, os alunos da graduação de Jornalismo da UFU, cursando a disciplina Fotojornalismo, realizaram um projeto de interação com os envolvidos na Instituição. Essa interação, visando sua forma mais completa, ocorreu por meio de fotografias e entrevistas, que acompanham as histórias e o cotidiano da Casa Santa Gemma.
Ditão, fundador e gestor da Casa Santa Gemma
“A casa Santa Gemma é uma instituição ligada à Pastoral de Rua. Nosso objetivo maior é devolver a dignidade aos moradores de rua a à população excluída de nossa sociedade”
Missão – Proporcionar às pessoas em situação de rua uma chance verdadeira de resgate social, moral e espiritual. Ajudar, conforme as nossas possibilidades e direitos legais, todas as pessoas que se encontrarem excluídas e abandonadas pela família ou pelo Estado.
Visão – Ser uma instituição referência no cuidado incondicional às pessoas em situação de rua, prezando os princípios cristão de amor fraterno, perseverança e uma busca incansável pela dignidade do ser humano.

Endereço: Rua José Flores, 351, Bairro Aclimação – Uberlândia – MG.
Telefone: (34) 3227-6748 / 9971-7810
Claudemir, voluntário e ex interno da Casa Santa Gemma.
1) Nas suas palavras, o que é a Instituição Santa Gemma? Na sua opinião, qual a importância dessa rede de ajuda?

2) Se você não se incomodar, poderia nos contar como sua trajetória de vida até aqui?

3) Desde quando você é assistido pela Santa Gemma? Como você se envolveu com a Instituição?
 
4) O que significa, para você, estar aqui e receber esse apoio? Como isso mudou sua vida?


Transcrição dos áudios

(Claudemir) É mais moradores de rua, assim, sabe?... Aí, o Ditão acolhe, eles arrumam um trabalho aí vai... aí aluga uma casa e vai morar na casa, e vai tocar a vida. E tem muitos que chegam, dependente de droga, e bate aquela abstinência e vai embora, não consegue parar aqui. É muitos, a maioria. Mas muitos aqui se deu bem, sabe? Pessoa que vem pra... que quer alguma coisa, que quer sair daquela situação de rua.
(Victor) E que tipo de droga?
(Claudemir) Aqui é vários tipos de droga que os cara vêm. É alcoólatra, é o crack, tudo quanto é tipo de droga. Aí, arruma uma clínica, e a pessoa vai pra clínica, quando vê que não tem jeito mesmo.
(Victor) Quando precisa de um atendimento mais...
(Claudemir) É, isso. Exatamente.
(Victor) Mais do que a situação de rua, já é o vício químico mesmo.
(Claudemir) Exatamente.
(Victor) E tem um tempo de estadia que as pessoas ficam aqui?
(Claudemir) Não, aqui não tem tempo.
(Camilla) Elas ficam enquanto elas acharem que tem que ficar.
(Claudemir) Isso, enquanto ela achar que tá bom.
(Camilla) E, pras elas chegarem aqui, é só... Como é que faz?
(Claudemir) Aqui... Eles mesmos aparecem aqui, sabe? Na porta, pedindo acolhimento, tem uns que chegam pedindo uma clínica, que já conhecem já, né? As clínicas. E fica aqui até sair uma vaga em alguma clínica, pra ir pra lá.
(Camilla) E o senhor é um dos que fundou a instituição?
(Claudemir) Não. Eu também sou um acolhido.
(Camilla) Ah, entendi.
(Claudemir) Eu entrei aqui em 2016, faz 5... 6 anos já. E, eu cheguei aqui queimado, com queimadura na perna e... e eu fui ficando. E eu ia no postinho fazer curativo todos os dias.
(Victor) Porque tava machucado.
(Claudemir) É. [Queimadura] De terceiro grau, sabe? E não sarava. Foi dois anos e meio pra sarar. Aí, eu era morador de rua e o Ditão sempre chamava pra vir pra cá. E eu tomava uma cachaça...
(Victor) E ele é seu amigo? Você já era amigo do Ditão?
(Claudemir) Não. O Ditão levava comida pra gente na rua. Ele sempre chamava pra vir pra cá.
(Victor) Na Pastoral de Rua?
(Claudemir) É. E eu não vinha. Eu falava: “lá não tem cachaça, eu não vou não”. Aí, quando eu queimei a perna, não teve outro jeito. Peguei e vim pra cá. E fui ficando, curando a perna, tudo. Deu uns dois anos e meio, mais ou menos, sarou. Aí, o Ditão disse pra mim: “E agora? Você vai embora? Como é que é? Você vai ficar?”. Aí, eu falei: “Não, eu vou continuar com vocês. Vocês me ajudaram, eu também vou ajudar vocês”. E fiquei.
(Victor) Aí, o senhor trabalhar aqui hoje.
(Claudemir) É. Eu cuido da casa.
(Camilla) E quais são os tipos de serviços que vocês oferecem aqui? Além do acolhimento, da estadia.
(Claudemir) Não, aqui é nós que mexe... que limpa a casa. A gente faz comida. 
(Victor) Então, tem que trabalhar.
(Claudemir) Todo dia, cada um faz alguma coisa. Um lava banheiro, outro passa pano na casa, outro vai limpando. E tem uns que trabalha fora. Uns que trabalha de assistente de pedreiro. E sai de manhã cedo e volta à tarde. Até as 7h da noite pode entrar. Agora, passou do horário, quem que justificar o que aconteceu.
(Camilla) E como foi pro senhor sair da situação de rua e vir pra cá? A mudança na sua vida.
(Claudemir) Ô, e sabe que eu nem vi? Quando eu vi já tinha parado com cachaça, já tinha parado com tudo. Não tive abstinência, não tive nada.
(Camilla) Então, foi um processo bem tranquilo de adaptação?
(Claudemir) Foi.
(Camilla) Eai, o senhor não tem mais vontade de sair daqui?
(Claudemir) Não.
(Camilla) Quer continuar aqui, quer continuar ajudando?
(Claudemir) Exatamente.
(Camilla) E o que o senhor mais gosta de fazer aqui?
(Claudemir) Eu fico atendendo pouco [as pessoas] porque o Ditão tem doação de cesta básica, e muita gente vem buscar cesta básica aqui. Aí, é só eu que entrego. Eu fico o dia inteiro entregando cesta básica pras pessoas.
(Camilla) Então, mesmo que ela não seja da Casa [Santa Gemma], ela pode vir aqui, recolher uma cesta básica?
(Claudemir) Pode. Mas a pessoa tem que precisar mesmo. Tem muitos que não precisam e vem buscar. Tem que ver direitinho como é que é. Perguntar como é que é a... perguntar quantos filhos tem, essas coisas.
Por quê? (Victor)
(Claudemir) Tem muitos que é morador de rua e vem buscar cesta. Aí, eu pergunto: “Você vai cozinhar onde? Você mora na rua, onde você vai cozinhar?”. Aí, eles tenta inventar. Mas eles quer a cesta pra vender pra ir lá na biqueira comprar outra coisa.
(Victor) E consegue vender?
(Claudemir) Consegue, ele vende fácil. A cesta vale 80 reais, ele vende por 10, 20 reais. E vai lá comprar droga.
(Victor) E vocês tem parceria com outras instituições?
(Claudemir) Tem, a gente tem parceira com a Nova Criatura, que é uma clínica, tem uma [parceria] que é de Catalão, Santa Cecília. Tem várias. Eles dão o apoio e a gente também apoia, que eles também vêm buscar as coisas aqui pra ajudar lá
(Victor) E o dinheiro, Claudemir? Vocês fazem campanha. Eu já vi a galinhada... e como é que é essas campanhas? Como é que é o dinheiro na casa?
(Claudemir) [O dinheiro] É pra pagar água, luz, essas coisas. Sustentar a gasolina do carro pra ir buscar doação.
(Victor) E a comida?
(Claudemir) A comida é doação.
(Camilla) Mas, aí, o senhor falou que ficou sabendo da casa, vai pra cá a convite de uma pessoa que o senhor já conhecia. E as outras pessoas? Elas chegam por convite também?
(Claudemir) Não, o Ditão é o chefe, tudo isso aqui foi ele que... Isso aqui foi tudo doação. Tudo que você vê aqui foi doação. Tem nada com prefeitura nem nada.
(Camilla) Eai, ele [Ditão] que convida as pessoas, as pessoas ficam sabendo da casa por consta dele?
(Claudemir) Exatamente.
(Camilla) como era sua situação antes de vir pra cá?
(Claudemir) Quando eu morava na rua, eu vigiava carro. E qualquer dinheirinho que eu pegava, eu ia comprar cachaça. Era o dia inteiro desse jeito.
(Camilla) Mas, e como é que o senhor acabou em situação de rua?
(Claudemir) Olha, eu vou ter que começar desde que eu ...
(Camilla) Mas a gente tem tempo, se o senhor quiser contar, a gente tá aqui pra ouvir.
(Claudemir) Bom, eu sou lá do estado de São Paulo. Aí, lá no estado de São Paulo, eu já tomava muita cachaça. Aí, um dia, eu pensei comigo, eu vou dar um sossego pra família, eu dava muito trabalho, sabe? E eu sou lá de Santa Rita do Passa Quatro, perto de Ribeirão Preto. Aí, eu fui pra Ribeirão Preto e fiquei num albergue e eles perguntaram pra mim lá pra onde que eu queria... pra qual cidade que eu queria viajar, eu tava sem rumo. Só que, aí, eu tinha conhecido uns camaradas lá que ia pra Brasília, aí eu falei pra eles: “Ah, eu vou com vocês”. Só que a passagem ia só até Uberlândia. “Então, até Uberlândia a gente consegue passagem pra vocês, e de lá vocês conseguem ir pra Brasília”. Bom, chegamos aqui em Uberlândia, e nós fomos pra um albergue que tem aqui, aí já era uma 9h30 da noite e eles não acolheram a gente não. A gente dormiu na rodoviária. E, no outro dia de manhã, a gente já foi almoçar na no albergue eu já fiz a ficha lá tudo e nós já ficava dormindo lá. Aí apareceu um cara que mexe com grama, plantar grama, sabe? Procurando gente pra trabalhar. Aí, eu peguei e fui com ele lá pra Araguari. Fique lá trabalhando com ele, tudo, durante um ano, mais de um ano, um ano e pouco, aí já não deu certo mais, tal. Peguei e voltei pra Uberlândia de novo. Aí, fiquei num albergue aqui de novo. Aí, conheci uma cara lá no albergue e, já que eu bebia muito, ele falou pra mim: “Você conhece o CAPS [Centro de Atenção Psicossocial]?”. Eu falei: “Não, o que que é isso?”. “O CAPS AD, é álcool e droga, você tem que ir lá pra curar do álcool... e da droga, você tem que ir lá e falar que você bebe demais e tal, e que você quer sarar disso. A gente vai de manhã cedo, toma café da manhã, almoça, toma café da tarde e vem embora. Aí, depois voltava de novo pro albergue. Aí, pegue e fui com ele, chegou lá eu falei pra mulher lá que que eu fazia, elas pegaram e arrumou pra mim uma psicóloga e tudo. E ali vai muito morador de rua no CAPS. Aí, lá no CAPS, eu conheci os moradores de rua e todos eles tinha os “corotinhos” de pinga, e, já que eu bebia demais, eu comecei a andar com eles. Aí, nem pro albergue eu tava voltando mais, e eles já me arrumaram uns cobertores pra eu dormir na rua com eles. Aí, ensinaram eu a pedir, a vigiar carro no farol, na frente das UAIs, sabe? Aí, eu fui ficando e virei um morador de rua. Aí, continuei. E pinga pra cima, e pinga... Nossa Senhora, era demais.
(Camilla) Mas, assim, sabendo que você já teve essa experiência, qual seria a pior coisa? Vir pra cá, ter um contato humano.
(Claudemir) Fez demais, o morador de rua ele não tem endereço, ele perde a dignidade, perde tudo. Pra arrumar um trabalho, você não tem um endereço, não tem nada e ninguém confia. Entendeu? O morador de rua tá na rua, mas ninguém quer saber por quê que ele tá lá. Ninguém quer saber por quê uma pessoa tá lá. E aqui é o seguinte: morando aqui você tem um endereço. As pessoas vêm aqui na casa perguntar quem quer trabalhar. Aí, você tem um endereço, onde você mora. Você morando na rua, você vai arrumar um trabalho, não tem onde tomar um banho, onde comer, onde dormir. E aqui a gente tem tudo isso.
(Camilla) E mesmo assim as pessoas acabando cedendo pro vício...
(Claudemir) E mesmo assim os que saem da daqui... Muitos voltam de novo pra droga, não tem outro jeito. Ocara saindo daqui, se ele não tiver um lugar onde morar, ele vai voltar pra rua de novo, vai começar tudo de novo. Mas isso é pra quem quer, a pessoa que não quer tomar um jeito na vida... [...] Que nem eu, faz cinco anos que eu não bebo, nem tenho vontade, pra mim acabou.
(Camilla) E a sua família, você ainda tem qualquer contato com eles?
(Claudemir) Nunca mais tive.
(Camilla) E teria vontade de rever?
(Claudemir) Tenho, mas o dia que eu tiver fora daqui. Sei lá, ter uma casa pra morar, entendeu? Pra eu sair daqui, voltar lá, o que adiantou? Não tenho nada. A única coisa que eu vou voltar lá é curado do álcool, mas sem nada também.
(Camilla) É quantos anos o senhor tem?
(Claudemir) 54.
(Camilla) Então o senhor chegou aqui, o senhor tinha 48... 47
(Claudemir) É, por aí.
(Camilla) Mas nem pra visitar?
(Claudemir) Não, por enquanto ainda não.    
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 
Disciplina: Fotojornalismo 
Curso: Jornalismo 
Profº: João Damásio 

Nome: Victor Masson da Rocha Neves 
Matrícula: 99665 
Nome: Camila Lucena R. de Lima 
Matrícula: 12111JOR023 
Nome: Rodolfo Ferreira da Costa e Silva 
Matrícula: 12111JOR003 
Casa Santa Gemma / Fotorreportagem - UFU
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