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Fotorreportagem "Luz azul"

Luz azul: como o isolamento social aumentou nossa
exposição às telas e quais podem ser as consequências
Com a pandemia de coronavírus acontecendo no país desde março, 2020 é um ano em que parte dos brasileiros está em casa. Home office, educação online e o entretenimento proporcionado pela internet: o isolamento social aumentou o tempo de exposição às telas de eletrônicos, o que pode trazer danos à saúde física e mental.
O relatório Digital in 2020, realizado pelo We Are Social e Hootsuite, mostra que os internautas brasileiros passam em média 9h17min diariamente na internet. Esse levantamento foi divulgado em fevereiro, ainda antes da pandemia no Brasil.
Em abril de 2020, a Kantar Ibope Media divulgou um relatório apontando que o consumo de TV se intensificou no Brasil a partir das medidas de isolamento social. No primeiro mês de quarentena, os espectadores passaram cerca de oito horas por dia assistindo TV: um aumento de 20% em relação à fase pré-isolamento (6h34min). “A informação de qualidade e o entretenimento para aliviar esse momento se tornaram essenciais na nossa vida. Não é à toa que, das 20 maiores audiências de TV dos últimos cinco anos, 11 aconteceram em março de 2020”, consta na publicação.
Social TV é o termo que designa a união da televisão com as mídias sociais: atualmente, milhões de pessoas compartilham sua experiência de TV com outros espectadores nas redes. Esse é um hábito que expõe o telespectador/internauta às telas de dois eletrônicos quase simultaneamente.
Assim que a população entendeu a importância das medidas de isolamento social, as empresas adotaram o home office como estratégia para continuar funcionando. 46% das empresas havia colocado seus funcionários em regime de teletrabalho no mês de abril, segundo a Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise Covid-19, elaborada pela Fundação Instituto de Administração (FIA). E o home office demanda que reuniões com os colegas, antes presenciais, sejam feitas por videoconferências.
Não foram só os adultos que tiveram de enquadrar suas rotinas na tela do computador ou celular: crianças e jovens passaram a estudar no modo remoto com o EAD. Em junho de 2020, uma pesquisa realizada pelo Datafolha apontou que 74% dos estudantes das redes municipais e estaduais do país estavam recebendo algum tipo de atividade não presencial durante a pandemia. Esse número chegava a 85% entre os alunos do ensino médio.
Um fenômeno observado a partir do aumento das videoconferências no dia a dia é o chamado Zoom fatigue. Segundo o professor do Instituto Europeu de Administração de Empresas, Gianpiero Petriglieri em entrevista à BBC, estar numa chamada de vídeo requer mais foco do que uma conversa que acontece pessoalmente. Em videoconferências, é mais difícil processar expressões faciais, tom de voz e linguagem corporal do interlocutor, fatores que presencialmente nos ajudam a interpretar a situação. “Nossas mentes estão juntas quando nossos corpos sentem que não estamos. Essa dissonância, que causa sentimentos conflituosos nas pessoas, é exaustiva. Você não consegue relaxar naturalmente na conversa”, explica Petriglieri.
Em frente a webcam, ficamos conscientes de estar sendo observados. Marissa Shuffler, professora na Clemson University, dos EUA, disse na mesma entrevista à BBC que  “quando você está em uma videoconferência, sabe que todo mundo está olhando pra você; você está no palco, então existe a pressão social e o sentimento de que precisa performar. Ser performático é estressante”. Também é muito difícil para o indivíduo não ficar olhando para o próprio rosto se ele aparece na tela.
A Síndrome Visual Relacionada a Computadores (SVRC) inclui uma série de sintomas oculares, entre eles cansaço, sensação de corpo estranho, ardência, dor, irritação, vermelhidão, ressecamento e turvação visual. Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, em um alerta publicado em abril de 2020, estima-se que até 90% dos usuários de computador por mais de três horas diárias apresentam algum dos sintomas relacionados à SRVC. Uma das principais causas desse cansaço visual é o ressecamento ocular (Síndrome do Olho Seco), sendo que o indivíduo diante da tela do computador pisca 30% menos do que o normal.
A luz azul, emitida pela tela de aparelhos eletrônicos, contribui para o envelhecimento da pele: ela penetra profundamente em todas as camadas epidérmicas. Além disso, esse tipo de luz também contribui para a degradação das enzimas da pele, destruindo as fibras de colágeno e reduzindo sua produção. Isso torna a pele mais envelhecida, desidratada e pode levar ao aparecimento de manchas.
O tempo de uso da TV e internet também pode ter um impacto na saúde mental. Um estudo de 2019, publicado no Canadian Journal of Psychiatry, acompanhou por quatro anos um grupo de 3.826 voluntários entre 12 e 16 anos. Quando os jovens aumentavam em uma hora o tempo médio que empregavam usando as redes sociais no celular, no computador ou vendo TV, também começavam a relatar mais quadros de ansiedade.
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