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Intervenções artísticas colorem bairros de Aracaju

Grafite: Intervenções artísticas colorem bairros de Aracaju

Elementos e manifestações da cultura popular sergipana como barco de fogo, samba de coco e parafusos são homenageados por grafiteiros em muros da capital aracajuana.

Painéis artísticos produzidos por artistas sergipanos têm transformado a paisagem da capital aracajuana. Além das cores presentes nas obras artísticas, os grafiteiros utilizam seus sprays de tinta para desenvolverem um trabalho de valorização e resgate da cultura popular de Sergipe.

Um dos grafites mais recentes foi finalizado em junho deste ano e carrega como título a frase: “Cultura Sergipana Vive”. O painel fica localizado na avenida Rio de Janeiro e ocupa uma parte do muro do estádio João Hora de Oliveira. Elementos e manifestações da cultura popular sergipana como o barco de fogo, parafusos, arara, samba de coco, lambe-sujos e caboclinhos transformaram em arte o antigo paredão branco que envolvia o campo do clube esportivo Sergipe. A obra é de autoria do grafiteiro Korea.

“Essa temática é uma proposta antiga minha. Eu já almejava homenagear representantes culturais do estado. Eu pesquisei e já tinha algumas imagens salvas dos elementos que eu queria fazer. Uma outra senhora que eu queria homenagear que era a Dona Iolanda que faleceu no início deste ano [março] e eu queria muito dar essa homenagem para ela e para a família, por tudo o que ela representou e representa durante os anos de samba de coco e da nossa cultura”, explica Korea.

Para a integrante da Companhia de Artes Mafuá, Valdinete Santos, a iniciativa representa a valorização do trabalho cultural desenvolvido no estado. “É muito gratificante ver nossa cultura exposta a toda a população, pois dentre tantos grupos folclóricos existentes muitas pessoas dentro de nosso estado não conhecem, e quando vêem acham que é coisa de outro mundo, sendo que está tão pertinho e nem percebem”, diz a multiartista.

Korea também co-produziu outro painel que destaca elementos da cultura sergipana ao lado de outros três artistas, são eles: Johny Carlos, Rizo Gonçalves e Caruzo. O trabalho colaborativo foi executado na unidade básica de saúde Eunice Barbosa localizada no bairro Coqueiral. “Escolhemos temas e pessoas que podiam ser homenageadas no momento”, explica o grafiteiro Johny. As paredes que carregavam as cores cinza e branco foram revitalizadas por esses artistas.

Para a moradora da zona norte da capital, Elisângela dos Santos, 42, as cores e as imagens presentes nas obras dão mais vida para a paisagem dos bairros aracajuanos. “Acredito que os painéis produzidos por esses artistas dão mais vida para os bairros da cidade. É muito bom ver no caminho do trabalho esse tipo de intervenção artística. Além de serem muito lindos, trazem muitos significados. Gostei bastante e acho que essa é uma ótima forma de utilizar esses espaços, diz.

Para Korea o retorno vindo da população seja pessoalmente ou por meio das redes sociais é um fator muito importante para a atividade artística. “As vezes pensamos no retorno financeiro, mas para mim como artista primeiramente eu penso nesse reconhecimento afetivo que o pessoal tem tanto na hora da produção quanto depois nas redes sociais. Uma vez eu fiz uma intervenção no bairro Coqueiral que é carente de cultura folclórica e a gurizada que não chegou a ver grupos como esse se apresentando porque só ficam ali no próprio bairro me perguntavam o que era aquilo e eu  explicava e passava um pouco da cultura. Isso é muito importante”, afirma.

As intervenções citadas nesta reportagem fazem parte do Festival Colora, projeto da prefeitura. Segundo a Funcaju, os critérios de escolha dos locais que recebem as intervenções artísticas estão relacionados com a relevância dos espaços e são levadas em consideração a frequência do público e sua localização. Além de espaços do poder público, obras também foram produzidas em espaços privados. 

“Nós não deixamos de fazer esse tipo de intervenção em locais privados. Inclusive propusemos a um banco que fica localizado na praça General Valadão a produção de um grande painel, mas o banco não quis pois queria manter a logomarca deles, aí nós declinamos da ideia, ou seja, não são apenas  locais públicos, são locais públicos no sentido de que a população utilize essas vias no seu percurso diário, sejam motorizados, pedestres ou ciclistas”, explica o presidente da Funcaju Luciano Correia.





Arte e Turismo

Um dos objetivos da inserção das obras artísticas é a transformação de espaços em potenciais pontos turísticos. Cidades como Natal (RN), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) são referências na criação de projetos de fomentação da arte de rua. 

Neste ano, o Beco da Lama que fica localizado em Natal (mais precisamente no bairro Cidade Alta) tornou-se Patrimônio Cultural . O espaço foi revitalizado em 2019 e recebeu diversas intervenções artísticas e é atualmente um ponto turístico natalense. Para Korea, assim como em outras cidades brasileiras, a revitalização dos espaços em Aracaju é um fator importante para a movimentação turística.

“[A arte] transforma um local esquecido em algo mais atraente. Eu fui fazer um trampo recente na Escadaria Selarón [2018], mas a escadaria ganhou força porque famosos como Anitta e Snoop Dogg gravaram clipes lá. O pessoal já utilizava muito para expor seus grafites e lá já era um local bem visitado. Depois disso explodiu.” explica Korea. A Escadaria Selarón é um dos pontos turísticos mais visitados do Rio de Janeiro, localizado entre os bairros Lapa e Santa Tereza.

Além dos produtos produzidos e entregues no primeiro semestre deste ano, o Festival Colora projeta a continuidade dos trabalhos. Uma das próximas etapas é a criação de um corredor de obras artísticas no Terminal do Mercado após a finalização da sua revitalização. 

“Nós vamos fazer um grande aporte no novo terminal de integração de ônibus do Mercado Municipal que será inaugurado nos próximos meses. O terminal está relacionado ao cotidiano das pessoas, por ser um espaço privilegiado, um espaço físico que permite isso, nós buscamos a SMTT e a EMURB para que desde a concepção do projeto o terminal pudesse acomodar algumas dessas intervenções”, explica Luciano.

Para o arquiteto e urbanista Matheus Soares, 24,  todas as formas de expressão como a arquitetura, o grafite e o urbanismo estão instintivamente ligadas. “Permitir aos artistas locais ou de outros estados se expressarem e trazer ao público em geral a sua percepção de arte, é inserir em meio a cena urbana, novos aspectos e conceitos da nossa realidade”, afirma.


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