Minari nos mostra o "Sonho Americano" na perspectiva de quem não é natural dos Estados Unidos, mas ainda assim faz parte da base econômica do país: os imigrantes. No caso da história, imigrantes coreanos, sendo retratados de maneira extremamente autoral pelo cineasta Lee Isaac Chung (Munyurangabo ).
Nele acompanhamos a jornada da família Yi, que se muda da Califórnia para o Arkansas, onde agora são donos de lotes de terras em que o patriarca da família, Jacob (Steven Yeun), quer cultivar produtos coreanos incentivado pelo grande aumento de imigrações. A partir daí acompanhamos os desafios enfrentados pela família para serem bem sucedidos com a fazenda em paralelo com os problemas familiares, que são intensificados com a chegada da avó Soon-ja(Youn Yuh-jung).
A jornada da família ganha um ponto a mais com as atuações, principalmente os incríveis trabalhos de Steven Yeun, Alan Kim e Youn Yuh-jung. O primeiro consegue retratar de forma bastante natural as apreensões, dúvidas e também o amor do patriarca da família, já Yuh-jung assume de forma maravilhosa um papel que subverte todos os clichês de avós aos quais estamos acostumados a ver nos filmes, sendo o alívio cômico, mas também uma fundamental ferramenta dramática. E por fim o jovem Alan Kim de apenas 8 anos, que surpreende bastante com uma atuação muito madura e rara para alguém da sua idade, tanto que o destaque do filme (que é contado praticamente na visão do seu personagem) é a relação entre David e Soon-ja, sendo o principal ponto dramático da história.
Muito mais do que uma simples retratação, Minari também é uma jornada visual e sonora extremamente sentimental. Os planos abertos que vislumbram os cenários bucólicos da fazenda juntamente com a trilha-sonora simplesmente fenomenal e épica de Emile Mosseri (essa a qual eu estou terrivelmente apaixonado) criam um sentimento único que mistura melancolia com uma sensação de ressurgimento (ou ascensão), o que conversa diretamente com o enredo do filme, já que as esperanças da família Yi estão depositadas naquele pedaço de terra onde podem ter uma nova chance para recomeçar.
Minari vai além do que ser apenas mais uma obra de ficção, é uma homenagem do diretor Lee Isaac Chung a sua própria história, e por isso é fácil sentir a sua paixão e entrega nessa obra que consegue tratar sobre tantos assuntos como juventude, imigração, aceitação, religião, união e esperança de uma forma muito verdadeira. Esse é um filme sobre persistir e acreditar que a utopia inalcançável que reside no horizonte serve para que não desistamos de caminhar.