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A crise está por todo o lado

 
 
A crise. O que não seria de esperar é que fosse a principal temática da abertura solene do ano letivo que se realizou na mais nobre Universidade de Coimbra e que a crise de valores também se fizesse notar quando a sessão, cujo início estava programado para as dez e meia, começa cerca de vinte minutos depois. De facto, a pontualidade é algo que, nos nossos dias, deixou de ser valorizado e chegar atrasado ao que quer que seja parece estar mais em voga do que nunca. Não posso deixar de mencionar as dificuldades que a tagarelice dos alunos presentes causou para que a sessão começasse.
E quando houve silêncio, os jogadores concentraram-se e o jogo começou.
Os dois adversários que, tentavam arduamente defender o seu campo de jogo e pretendiam marcar ponto no campo adversário, não queriam dececionar aqueles que vinham ali representar.
À nossa direita temos o jogador número um, João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra, que tentou persistentemente durante todo o jogo defender a sua área do campo de quaisquer ataques por parte do seu adversário. Sem nunca perder a modéstia, o excelentíssimo reitor fez o primeiro backhand , que com uma forte pancada de esquerda, atirou para o campo do adversário a bola que levava um forte elogio a Coimbra e à sua universidade pelo facto de serem uma espécie de símbolos primeiros da cultura portuguesa, sem nunca esquecer a classificação de Coimbra como património da Humanidade dada pela UNESCO. A bola sobrevoava a rede, quando João Gabriel Silva não se esqueceu da tão terrível crise, a crise que diz “ser real”, mas que numa saída noturna por Coimbra parece bastante irreal tendo em conta a quantidade de dinheiro desperdiçada pelos jovens em bebidas alcoólicas. Referindo que o Orçamento de Estado para a universidade é insuficiente, a bola cai com grande impacto na área de jogo do adversário. Beneficiando da vantagem, João Gabriel, como era de esperar, aproveita para elogiar os feitos do fundo de apoio social para que “nenhum estudante abandone o ensino superior por dificuldades económicas”. Esta foi, sem dúvida, a bola, aquela bola que caiu como um meteoro no campo do adversário causando grandes estragos. Eis que o jogo ganha vida e começa a sentir-se novamente esperança e é neste preciso momento que Ricardo Morgado, presidente da AAC, faz um perfeito ace . Na elevação da sua raquete nota-se que o jogador leva a sério o papel de deixar orgulhosos todos os seus simpatizantes (os estudantes) e devolve a bola atirada pelo reitor considerando que o “atual sistema de ação social é oco, insuficiente e, em algumas situações, ilegal”. O marcador está empatado, 1-1. O momento é decisivo e não deixando os adeptos mal representados, Morgado mostra-se surpreso pelo facto de muitos estudantes ficarem excluídos do direito à bolsa pelo simples facto de o seu agregado familiar ter uma dívida ao Estado. Diria que as dívidas são, nos dias de hoje, a pior herança que um pai pode deixar a um filho. Uns preferem deixar casas, carros, dinheiro, outros dívidas.
A tensão é grande, o marcador encontra-se ligeiramente alertado, 1-2, ganham os estudantes.
O final do jogo foi tranquilo. Os adversários esqueceram a rivalidade que lhes era inerente e assistiram à demoradíssima oração de sapiência que falando de um tema impercetível para a maioria dos comuns foi tendo o efeito de um comprimido de dormidina , que fez com alguns dos espetadores tirasse uma soneca para repor as energias gastas pela dura assistência a este evento que durou mais de três longas horas.
A crise está por todo o lado
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A crise está por todo o lado

Crónica sobre a Sessão Solene de Abertura do Ano Letivo 2013/2014

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