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Crise: Que Soluções?

    A crise que assola Portugal e o mundo, tanto a nível económico quanto no âmbito social, tem vindo a alterar os hábitos dos cidadãos. Empobrecidos e sós, os portugueses tentam encontrar novas soluções de sobrevivência. A tendência, à semelhança do que se faz nas principais metrópoles europeias, é a partilha de casa e, por conseguinte, a divisão da renda e das despesas. Especialistas na matéria afirmam que se trata de um hábito adquirido já no século XIX e, desde aí, tem o intuito de atenuar a solidão e minorar as dificuldades financeiras.
    Num cenário de crise económica, quebram-se correntes de solidariedade, porque se atingiu um ponto em que todos precisam de alguma ajuda, dá-se lugar ao individualismo. A incapacidade de integrar o mercado de trabalho indicia, nas pessoas, alguma insegurança e vulnerabilidade e fá-las recear a exclusão social. Torna-se, então, urgente adaptarmo-nos e adotarmos soluções como esta, uma vez que o próprio Estado não consegue garantir (nem através de uma cega austeridade) um futuro mais auspicioso. 
    É, precisamente, como modo de adaptação à conjetura criada pelas ineficazes medidas tomadas pelo governo e pelos comportamentos que, sem emenda, os partidos políticos adotam, que se retomou esta tendência, numa escala imensa. Assim, enquanto o governo não consegue dar solução aos problemas da sociedade nacional, as pessoas vão compondo as suas próprias soluções, dentro do contexto.
    Aqueles que dividem a casa rentabilizam recursos, evitando despesas desnecessárias e, sobretudo, unem-se em prol de uma vivência mais satisfatória e digna. O mesmo não acontece no panorama político nacional. As duras e imobilizadoras medidas de austeridade vão acabando com as (que eram já) mínimas ofertas e perspetivas de emprego para os jovens licenciados e com a esperança numa reforma tranquila para aqueles que sempre contribuíram, enquanto estancam o crescimento económico daqueles que trabalham. Na Assembleia, ao contrário das casas partilhadas, é parca a partilha de reflexões e as discussões remetem-se a questões ideológicas. O resultado revela-se na falta de propostas e possibilidades de mudança e crescimento.
    Assim sendo, terão de ser os portugueses a continuar a empreender novas soluções para viver o melhor que consigam - mesmo que estas soluções não sejam as mais aprazíveis. A partilha de casa e a divisão da renda e das despesas aliviam os gastos e previnem a solidão, mas nem tudo são regalias. Viver com alguém cujos hábitos, interesses e características não conhecemos pode levar a conflitos e simboliza uma grande perda de privacidade. Em resumo, muitas são as dúvidas que assaltam quem pondera aventurar-se, visto que não é fácil abdicar de certos privilégios (como é a privacidade). Não obstante, trata-se de uma iniciativa enriquecedora, não só no campo financeiro, como a nível pessoal, uma vez que, afirma quem a pratica, “a partilha enriquece-nos muito, torna as pessoas menos egoístas”. 
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Crise: Que Soluções?

Em tempo de crise, os portugueses vão procurando novas soluções mais sustentáveis. During a crisis, portuguese people are searching for new and Read More

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