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Mobilidade Pública: Desafios e Desigualdades

Mobilidade Pública: Desafios e Desigualdades da População Periférica.
“Todo mundo da minha família já teve problemas com a falta de acessibilidade ao metrô
e ao centro”, relata jovem moradora de área periférica
Ana Luisa de Oliveira 
Bárbara Aparecida da Silva Diamante 
Beatriz Fusari de Moraes
Moradores de áreas periféricas enfrentam diariamente o cansaço e a dificuldade presentes na mobilidade pública do
Estado de São Paulo.
Moradores de áreas periféricas enfrentam dificuldades com transporte público, não só em seu acesso, mas também em sua infraestrutura. O filósofo Carlos Jacinto Nascimento Motta aponta que fatores como: preconceito econômico e
descaso político contribuem significativamente para a ampliação desta disparidade social. Outro fator apontado por ele como motivador é a descrença pública causada pela falta de representatividade política, que cria, assim, uma
cultura de resignação política.

Julia Hermogenes, de 20 anos, residente do bairro Cidade Ademar, conta que morar na capital paulista torna a situação um pouco mais fácil, mas reconhece que o cenário é ainda mais complicado para aqueles que estão localizados em
áreas de difícil acesso, e que apresentam menor renda. “A gente pensa que a passagem é relativamente barata, porém, quando existe desigualdade social, as coisas ficam bem complicadas.” A jovem relata que alguns familiares, em
momento de dificuldade, não conseguiam acesso a coisas básicas como hospitais e mercados, por não terem como pagar pelo transporte.

“O peso do transporte diário no orçamento de quem ganha, sei lá, dois mil reais é muito grande.” comenta o filósofo, sendo o salário mínimo quase 35% menos que o valor indicado. Ele aborda isso como um certo descaso governamental na área de transporte público, por não haver um considerável ganho político quando se trata deste assunto. Em 2013 e 2014 aconteceram manifestações em 4 estados do Brasil, contra o aumento do preço do transporte público, porém, como indicado por Carlos, poucas coisas mudaram desde então, tendo os políticos responsáveis pelo aumento, até mesmo reeleitos nas eleições seguintes.

Carlos Motta complementa que o prejuízo ultrapassa mais do que apenas o financeiro, resvalando até mesmo na área da saúde. Segundo ele, dependendo da distância entre a residência e o trabalho, o indivíduo pode passar até quatro
horas apenas na locomoção. Juntando uma jornada de trabalho de 8 à 9 horas, e, em caso de um estudante, 4 horas de aula, resultam 16 horas tomadas da pessoa. O que, afirma ele, pode prejudicar o horário de sono indicado pelas autoridades de saúde.

O filósofo também é professor de uma faculdade de comunicação localizada na Vila Mariana, bairro nobre da capital de São Paulo. E exemplifica a falta de acesso ao transporte público com o caso de um aluno que, quando chega em
seu bairro depois de duas horas de metrô e trem, não há mais circulação de ônibus, o que o força a depender de sua bicicleta, meio de transporte que não é muito favorável em dias de chuva, como ressalta o professor.

"Os meios de transporte por aqui são bem escassos, tanto na questão de número de ônibus quanto o tempo que demora para pegar um deles", alega Yasmin Fialho, moradora de Canhema, em Diadema. A jovem relata que vários
de seus parentes e amigos já tiveram dificuldades na hora de utilizar o transporte público, principalmente na área da baldeação. Ela relata que a viagem até o trem ou o metrô pode levar até mesmo uma hora.

Carlos Motta ressalta que o problema não está exatamente atrelado à periferia em si, sendo Alphaville, um dos bairros mais nobres da capital, localizado em uma área periférica. Porém, aponta ele, que as pessoas que moram nesta
região bem estruturada têm outras opções para sua mobilidade, coisa que moradores de bairros menos financeiramente privilegiados não terão. Além disso, o filósofo argumenta que empresas de transporte adquirem lucro através da dificuldade presente na necessidade de locomoção dessas pessoas.

“É ali que tem a estrutura de lucro da grande empresa. Ela hiper lota esses ônibus sobretudo nos horários de pico, e reduz os horários onde a demanda diminui para garantir o lucro que sustenta o transporte bonitinho, legalzinho e
confortável de quem mora em outro lugar.”. Motta revela também que já escutou de um empresário do ramo de transportes, que o maior lucro com mobilidade pública vem das áreas periféricas de menor alcance econômico. E
destaca que mesmo assim essas áreas são fornecidas com os transportes públicos de menor qualidade.

O filósofo aborda isso como um grande preconceito econômico, mascarado de preocupação com os veículos públicos. Ele aponta que nas periferias se encontram até mesmo caminhões com carroceria de ônibus, o que dificulta a
entrada dos passageiros - principalmente deficientes físicos - por serem mais altos que os automóveis comuns. “Então esse é um fator, esse preconceito é meio que dizendo ‘Já é pobre mesmo, pra quê pensar em conforto? Pra quê ter
algum tipo de benefício?’”

Carlos Jacinto, também atribui a falta de melhora no setor, à cultura de resignação política presente no Brasil. De acordo com ele, a população já se acostuma com a ideia de que o próximo político eleito não vai solucionar seus
problemas, e por isso não entende que deve reivindicar seus direitos básicos, deixando isso à mercê de uma melhoria que não tem acontecido nos últimos anos, na maioria das periferias. Yasmin pode ser encaixada dentre essas
pessoas que já perdeu a crença na melhoria dos transporte em sua área, e relata que não espera muito.

Especialistas apontam que o futuro da mobilidade pública do estado se apoiará em transportes alternativos como bicicletas, patinetes e skates. Isso é observável em uma pesquisa realizada pela plataforma de auxílio ao transporte
público, Moovit. Nela é destacado que a preferência pelo transporte alternativo aumentou em 32% nos últimos anos. E este processo foi ainda mais acelerado nos últimos anos com a pandemia, e a necessidade do distanciamento,
segundo pesquisa.

Porém, para alguns estudiosos essas alternativas podem ser pouco viáveis no cenário atual. Lucas Girard, um dos coordenadores do grupo Cenário Urbanos Futuros da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), acredita não ser
possível o incentivo a este tipo de transporte, pela cidade não ser projetada para essa mobilidade. Segundo ele, já há uma enorme competitividade por espaço nos asfaltos, e implementar esses transportes poderia piorar a situação.

Já Carlos Motta acredita que os cidadãos irão optar por automóveis mais velozes e mais práticos para longos percursos como por exemplo o mototáxi, antes mais conhecido pelo estado do Rio de Janeiro, mas que vem se tornando
cada vez mais popular em outros estados, principalmente com a adesão deste meio de transporte ao aplicativo de motoristas Uber. “Em cidades pequenas de São Paulo e outros estados, o mototáxi revolucionou a cidade. Trouxe
mobilidade para a maioria das pessoas e trouxe emprego para às vezes centenas de jovens que não teriam como ganhar dinheiro de outra maneira.” relata o filósofo.
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