FOTO 1 - Em março de 2018 uma adolescente fez uma festa de aniversário com o tema relacionado à escravidão. Os empregados da aniversariante tiveram que se vestir de escravos, enquanto a garota, vestida de princesa, era servida. As imagens foram compartilhadas pela própria adolescente nas plataformas digitais.
      FOTO 2 – Em fevereiro de 2019 a Donata Meirelles, ex-diretora da revista Vogue Brasil, também fez uma festa de aniversário com decoração alusiva à escravidão. No local, os convidados podiam ainda tirar fotos com mulheres negras vestidas de escravas. As imagens também foram compartilhadas nas plataformas.

 - Com base das ideias de Susan Sontag, fiz uma analise dos dois episódios. 

      Fotos das festas que foram realizadas no ano de 2018 e 2019 uma em Belém do Pará e outra em Salvador, uma das festas era de 15 anos e a outra era da ex-diretora da Vogue Donata Meirelles, que estaria completando 50 anos. Na primeira foto a festa da menina faz os empregados (todos negros) se vestirem de escravos e servirem ela, ja nas fotos da festa da ex-diretora da Vogue, a escravidao é usada como tema, como o exemplo de mulheres negras como decoração.   Ao ver essas imagens das festas que usaram a escravidão como tema ou decoração, vemos um racismo moderno estampado nas fotos, que no olhar dessas pessoas, seria algo normal. 
       As fotos das festas viralizaram na internet com diversas opiniões, Donata como uma pessoa mais conhecida recebeu críticas até de famosos, como Elza Soares que postou a seguinte frase em seu Twitter “ Quer ser elegante? Pense no quanto isso pode machucar o próximo, sua memória, os flagelos do seu povo, ao escolher um tema para enfeitar um momento feliz de sua vida”. 
        Essa banalização da dor do outro é muito comentada no livro da Susan Sontag. Diferente da obra de Susan, nos dois eventos as imagens das vítimas são distorcidas, ao contrário das fotos citadas pela autora. Nas fotos as mulheres que estão representando os escravos estão sorrindo, como se a escravidão não causasse dor.
         Fora de contexto, esse cenário dá margem a diversas interpretações que provocam revisionismo histórico do período escravocrata brasileiro, a ponto de normalizar certas violências. Contudo, trabalhadores seguem sendo submetidos a situações análogas a escravidão, como o caso onde mais de 200 homens contratados para trabalhar na colheita de uva foram resgatados de um alojamento em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, onde eram submetidos a "condições degradantes" e trabalho análogo à escravidão.
        No Brasil há a insistência de esquecer as mazelas da própria história, dando a ilusão de que a escravidão é algo tão distante, mas os reflexos da escravidão continuam muito presente. Por isso, escolher esse tema para uma festa é debochar das milhares de pessoas que sofrem racismo no Brasil. 
        Portanto, assim como disse Elza Soares, utilizar dessa situação para um momento de divertimento é desrespeitar a memória, vivências e rir diante da dor do outro.  
 
Analise
Published:

Analise

Published:

Creative Fields