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RESENHA CRÍTICA - FILME

TRABALHO ACADÊMICO - RESENHA CRÍTICA

O filme Além das Palavras (2016) – originalmente chamado “A Quiet Passion” – apresenta a vida da poetisa estadunidense Emily Elizabeth Dickinson (1830-1886), mais comumente conhecida como Emily Dickinson. O longa se inicia com uma cena conhecida pelo público por marcar uma ruptura na vida da poetisa, na qual ela se encontra em um seminário religioso para mulheres, onde Dickinson deveria confessar sua fé na religião cristã. Entretanto, ao ser questionada em uma dinâmica de grupo sobre sua fé em Deus e na salvação proposta pela religião, Dickinson se intitula uma mulher sem esperança e fé por ser incapaz de reconhecer a si mesma e seus pecados. 
É salutar apontar que Emily Dickinson não era um indivíduo desprovido de crença, pelo contrário, sua fé se estendia para além das convenções sociais, negando-se a embasar sua vida em uma religião institucionalizada. Esse fato se revela ao decorrer do filme, pois através de seus poemas, vivencias pessoais e diálogos com familiares e amigos, ela revela suas crenças e descrenças, sendo a fé cristã um importante pilar na sua vida e de sua família.             
Vinda de uma família religiosa e abastada, Dickinson teve acesso a uma boa educação acadêmica, permitindo assim que seu gosto pela literatura e pela escrita se aflorasse. No entanto, Dickinson reconhecia o papel da mulher naquela sociedade, mesmo que por vezes se rebelasse contra as convenções de gênero. Seu principal ato de revolução se torna a escrita, pedindo a seu pai que a permita escrever durante a noite, ela inicia sua jornada pela escrita, rompendo com antigos paradigmas e preferindo aliar-se a uma sintaxe e pontuação originais, buscando pelo significado da existência e questionando, em seus poemas, temas como Vida, Morte, Deus e a Religião, Amor e Natureza. 
Apesar de ser uma poetisa voraz e incapaz de parar de escrever, Dickinson não publicou muitos de seus poemas em vida, sendo estes julgados como infantis e tendo suas originalidades julgadas como erros. 
Em uma das primeiras cenas do longa, o pai de Emily Dickinson revela sua posição quanto ao papel da mulher na sociedade, evidenciando que acredita que uma mulher não deve ser o centro do palco. Analogicamente, pode-se compreender que essa citação se estende para além do palco como matéria concreta, mas se refere a como, naquela sociedade, a posição da mulher se limita ao papel de coadjuvante, incapaz de se tornar a protagonista de sua própria história. Questões sociais, religiosas e abolicionistas são tratadas durante o filme, tais questões se revelam nos poemas de Dickinson, mostrando que sua vida pessoal teve considerável importância em sua escrita. 
A morte se apresenta como um importante tema que permeia a vida da poetisa. Ao ver seus amigos se casando e a deixando, Dickinson compara o ciclo da vida como uma perda, sendo o casamento uma morte mais sútil, porém que causa uma dor igualmente avassaladora. A autora nunca se casou, mantendo-se durante toda a sua vida perto de sua família, pois segundo ela mesma, não conseguiria imaginar-se longe de seus familiares. Em uma conversa com sua cunhada, Susan Gilbert, Emily revela que sente como se não vivesse, apenas estivesse presa em sua própria rotina. Isso se revela em seus poemas pela repetição, o que causa uma sensação de ciclo vicioso, do qual o eu-lírico não pode se libertar. 
A solidão e a reclusão social são outros pilares de sua vida e sua escrita, após a morte de seu pai isso se torna ainda mais evidente. Sentindo-se incompreendida pelo meio externo e pelas pessoas que a cercam, Dickinson busca em seus poemas a liberdade que não é capaz de encontrar em sua vida, rompendo a reclusão física através da poesia.  
É também após a morte de seu pai que Dickinson começa a vestir a cor branca, a qual também é utilizada em seus poemas. Mais uma vez, ela busca romper com convenções sociais, pois no momento que todos estão de luto e vestem preto, ela veste branco. Em seus poemas, o branco não é uma analogia para o que já se relaciona a essa cor, mas representa paixão e intensidade. 
Ao final do filme, a poetisa se encontra em um estado de reclusão social absoluta e lida com os efeitos de sua doença, é nesse momento que ela se torna irritadiça e, por vezes, melancólica. A morte se torna recorrente em sua escrita, mas não se apresenta de forma tradicional, sendo personificada e um processo que leva a eternidade. O eu-lírico, em seus poemas, é quem fala da morte, mostrando que está no processo de morrer, assim como Dickinson. 
Por fim, um dos seus poemas mais aclamados pela crítica é apresentado, “Because I could not stop for Death” (Porque eu não pude parar para a Morte), representando o fim da vida da poetisa e sua aceitação quanto a morte. Além das palavras busca estabelecer uma inserção no mundo de Emily Dickinson, exprimindo todas as suas crenças, pensamentos e sentimentos na obra, não sendo apenas uma mera ilustração da vida dela. 
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