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A revolta que ameaçou bombardear o Rio de Janeiro

texto disponível em: http://obirin.com.br/a-revolta-que-ameacou-bombardear-o-rio-de-janeiro/
arte da capa: Luana Moreira 

Em novembro de 1910, na então capital do Brasil, Rio de Janeiro, aconteceu a Revolta da Chibata. Rebelião iniciada pelos militares de baixa patente da marinha brasileira com o objetivo de extinguir os castigos físicos que lhes eram infligidos e que retomavam o período escravocrata, já que a punição era receber chibatadas. 

Mas vamos contar a história do começo: desde o período imperial no Brasil, a grande maioria dos marinheiros brasileiros eram negros. Eles eram recrutados ou obrigados a exercer tal função pela polícia e seus comandantes eram oficiais brancos. Apesar de receber remuneração, as condições de trabalho não eram as melhores. E se os marinheiros cometessem falhas, as mínimas que fossem, eles eram punidos com vinte e cinco chibatadas, de acordo com o código de conduta da marinha à época. 

Essa prática grotesca acontecia antes da Proclamação da República, que aconteceu em 1989. Após a proclamação, o castigo foi extinto, mas a anulação não durou muito. Um ano depois, as chibatas voltaram a operar como castigo. E com isso persistindo, não tinha como os marujos continuarem calados. 

A Revolta da Chibata começou a germinar em 1909. Os marinheiros brasileiros passaram a ter contato com as armadas e com colegas de profissão de outros países, que haviam conseguido extinguir tais castigos. A luta dos marujos estrangeiros, britânicos e russos, começou a desabrochar nos brasileiros, e especialmente em um: João Cândido Felisberto, conhecido mais tarde como o Almirante Negro. 

João Cândido se alistou na marinha bem jovem, aos 14 anos, e criou um comitê clandestino para organizar a revolta. Inicialmente, a ideia era organizar em outros navios mais comitês, para ser realizado um motim depois da posse do presidente Hermes da Fonseca. Mas um acontecimento adiantou os fatos: Em 16 de novembro de 1910, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Meneses recebeu uma punição absurda: 250 chibatadas por entrar no navio com cachaça e ferir um superior à navalha. Ao receber o castigo, o marujo desmaiou; mas mesmo assim as chibatadas prosseguiram causando revolta na tripulação. 

Foi aí o estopim para a revolta. 
 
Liderados pelo Almirante Negro, os marinheiros tomaram diversos navios e mataram oficiais. Aqueles que conseguiram fugir avisaram os outros e logo a revolta ficou conhecida. Ameaças de bombardeio à capital foram feitas se as condições dos marujos não fossem acatadas. 

Cinco dias se passaram até que as reivindicações fossem aceitas. Com intervenção do deputado Rui Barbosa – que defendia a anistia aos rebelados e considerava os castigos abusivos após a abolição da escravatura -, o presidente Hermes da Fonseca declarou que os castigos físicos estavam abolidos e que, quem se entregasse seria anistiado. No dia 27 de novembro foi declarado o fim da rebelião. 

Mesmo “anistiados”, diversos marinheiros foram expulsos da Marinha. Quase todos os participantes da rebelião foram presos, mortos ou mandados para os seringais da Amazônia. Mas e o nosso Almirante Negro, líder da Revolta? 

João Cândido foi expulso da Marinha. Foi detido e dado como louco. Depois de solto e absolvido, tornou-se estivador e vendedor de peixes. Em 15 anos de serviço à marinha, em sua ficha constava que havia sido castigado nove vezes, preso em solitárias e rebaixado duas vezes de cabo a soldado. Constava ainda elogios por bom comportamento. 

O Almirante Negro morreu aos 89 anos, em 1969. Não se tem registro sobre os seus companheiros de rebelião. Antes de seu falecimento, João Cândido registrou seu depoimento no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.
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