Cerca de 60 moradores de rua do Recreio e de bairros próximos recebem ajuda do Vitor Lima de Albuquerque, 41 anos, mais conhecido como Vitor Gato. O projeto, idealizado por ele, se chama “Fazendo o Bem Sem Olhar a Quem” e foi criado em 2013. O objetivo é tentar auxiliar as pessoas em situação de vulnerabilidade a saírem dessa situação, além de oferecer atenção e amor.

Gato afirmou que o motivo que o levou a desenvolver esse trabalho foi a situação do pai, Jorge Teixeira de Albuquerque. De acordo com o filho, Jorge tinha um transtorno mental e, por isso, mexia nas lixeiras do seu bairro em busca de comida. Ele ainda ressaltou que Teixeira dormia toda as noites em casa, mas ao acordar voltava para as ruas.

“Fazendo o Bem Sem Olhar a Quem” não é uma ONG e não recebe ajuda de nenhuma instituição ou igreja. Por isso, com o projeto, Vitor declarou que gasta de 60% a 70% do salário que recebe da Superglass Fábrica de Prancha de Surf, na qual trabalha. Além disso, ele explicou que consegue dinheiro e doações de pessoas através das redes sociais. Para ajudar, Gato montou um bazar de roupas arrecadadas, no qual a família ajuda a manter e a administrar.

Ao longo dos sete anos do trabalho social, Vitor afirmou que teve contato com as mais diferentes histórias de vida e que algumas o incentivaram a persistir no projeto.

- “A história do Marcos é uma das mais lindas. Ele perseverou muito. Ele, na minha opinião, tinha tudo para desistir. Ele estava com tuberculose e conseguimos levar ele para uma UPA. Enquanto, estava internado foi super bem tratado. Porém, quando teve que sair da UPA, tive que convencer a casa de recuperação a ficar com ele e lá ele era menosprezado o tempo todo. Ele não desistiu e, quando finalmente saiu, conseguiu um emprego na Citroën e está trabalhando lá até hoje de faxineiro.”

Um ex morador de rua que recebeu apoio de Vitor é André Luis Pereira Alves, 39 anos. Ele declarou que, após a morte da sua mãe, se tornou alcoólatra e abandonou a família, inclusive a filha, por desgosto a vida. Conforme expos, Pereira e o Gato são conhecidos de longa data e se reencontraram quando André habitava as ruas próximas à praia do Recreio. Ele explicou que Vitor o convenceu a tentar a reabilitação e, segundo Pereira, após essa decisão, sua vida voltou a “andar”.

- “A ajuda é necessária para os moradores se restabelecerem. Sem esse empurrão, muitos ficam desanimados e sem caminho. Mas, nem todos colaboram. A ajuda só funciona quando tem resposta do outro lado também.”

Uma vez por ano, Vitor leva os moradores de rua ao cinema. Na quinta-feira, 26 de setembro, ele os levou no Cinesystem do Recreio Shopping para assistir “Entrevista com Deus”. O André participou do encontro para inspirar os necessitados a tentarem sair das ruas.

Max Jesus Marquês, 23 anos, não participa frequentemente das atividades que o Vitor realiza, mas constatou que as ações, que Gato faz, têm muito impacto entre os moradores de rua. Ele relatou que, após a morte do pai, começou a usar drogas para fugir da realidade.

Segundo Max, isso começou a afetar muito o trabalho de instalação de som em carros que tinha na loja da família. Ele ressaltou que a mãe tentou ajudá-lo, mas não teve resultados. Ele afirmou que, por isso, resolveu ir para a rua.

- “O mais difícil dessa vida é a solidão. Não tenho amigos como antes, não posso confiar em ninguém. Parece um sonho ter tudo que tinha de volta. Durante o filme, tive dois sentimentos: felicidade e dor. Felicidade por lembrar que eu sou o responsável pelas decisões e ações na minha vida e, por conta disso, posso mudar minha vida agora. E senti dor, porque, no final, foram as minhas escolhas que me levaram onde eu estou hoje. Eu me arrependo muito de tudo.”