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Bancada da Selfie: o vale tudo pela imagem no Congresso

'Bancada da Selfie': o vale tudo pela imagem no Congresso

Na Câmara Federal e no Senado são vários os parlamentares que fazem das suas atuações um reality show nas redes sociais

A nomenclatura não existe oficialmente, mas nos corredores do Congresso e nas arquibancadas políticas do país muito se fala e muito se conhece sobre a chamada “Bancada da Selfie”. Nesta legislatura de 2019 em Brasília, muitos parlamentares têm apostado todas suas fichas na promoção através da internet.

Celulares são colocados para o alto a todo o momento, o objetivo é capturar a melhor imagem, ou gravar o vídeo mais bem posicionado. Os vídeo selfies são um sucesso no meio político atual. A impressão é de que a capacidade de se tornar um ‘digital influencer’ é testada dia a dia nos plenários.

“A chamada bancada da selfie tem um tom de populismo acentuado. Por vezes, há a confusão no entendimento do exercício parlamentar com a presença assídua nas redes sociais, o número de curtidas, o número de seguidores, a quantidade de engajamento. É quase uma sensação de democracia direta, mas que na real não está sendo praticada”, explica a cientista política Sofia Trajano.

Como exemplo de nomes que se destacam nesta bancada da selfie pode-se lembrar da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL), que tem uma assessora exclusiva para trabalhar com suas redes sociais. Hasselmann tem presença assídua na plataforma digital, principalmente no Twitter. A parlamentar costuma reportar fatos de dentro e de fora da Câmara, ganhando, assim, um elevado retorno de interação com seus seguidores.

O senador Jorge Kajuru (PSB) parece ter investido mais. Ele montou um estúdio de televisão em seu gabinete para poder gravar vídeos com melhor qualidade. Profissionais o ajudam com a elaboração, edição e divulgação do material que chega até as pessoas que consomem suas informações.

“O que fica como questão é se o novo comportamento desses parlamentares pode ser prejudicial às discussões no Congresso. Prestar contas ao eleitor é obrigação do parlamentar e é muito positivo que se faça isso. Mas é preciso dosar e entender que há um limite. Viver na perspectiva online é assumir a possibilidade de perder parte das discussões que acontecem. Isso pode ser prejudicial”, pontua Sofia Trajano.

Apesar de não existir oficialmente, a bancada da selfie se torna, por vezes, a maior dentro do Congresso. Não é raro enxergar em votações importantes, tanto no Senado quanto na Câmara, uma maioria expressiva de parlamentares com celulares e apetrechos tecnológicos para capturarem a melhor imagem possível.

“Acredito que o Twitter e o Instagram são as redes que os parlamentares mais se utilizam para se promoverem. Nas duas plataformas é possível fazer enquetes, que eles terminam por orientar suas posições em cada projeto que votam. Existe um risco neste comportamento que é deixar a opinião popular se guiar por perfis falsos ou robôs, já que quando está na internet é difícil ter o controle do que é verídico ou não”, explica a cientista política.

Uma pesquisa realizada neste semestre pela Celuppi Advogados - Relações Governamentais em todo o Território Nacional mostra que os parlamentares de todo o Brasil aumentaram fortemente a sua presença nas redes sociais desde as últimas eleições. O levantamento, que considera uma base de 596 deputados federais e senadores, mostra que 98% deles têm páginas oficiais no Facebook, 93% no Twitter e 91% no Instagram.
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