Um dos problemas mais antigos que a arquitetura busca resolver é o ato de abrigar o ser humano. Habitar significa refugiar-se, mas também significa ter um espaço seguro e íntimo, de acesso controlado, no qual possamos nos sentir livres e protegidos. Partindo da premissa básica que todos têm direito à habitação, a mesma deve estar ao alcance econômico de todos. A importância de um espaço para se habitar com preço acessível enorme. Moradias de baixo custo são necessárias e devem ser estimuladas, tendo em vista o aumento de moradias consideradas “irregulares” nas nossas metrópoles. Como arquitetos, devemos combinar a economia não somente financeira, mas também de materiais e recursos, para maximizar o acesso ao ato de habitar, bem como fornecer uma resposta arquitetônica econômica em todos os sentidos para a humanidade.

 

 

Uma maneira eficiente de facilitar a habitação às pessoas diminuindo seu custo, seu impacto na natureza e maximizando a sua eficiência se dá pela pré-fabricação de seus elementos. Ao adotar a estratégia de trabalhar com módulos pré-fabricados, se determina um valor fixo por módulo facilmente calculável e se permite que cada família ou pessoa possa compor sua moradia conforme sua respectiva necessidade.

 

 

Dentro do conceito de pré-fabricação, propõe-se o estabelecimento de módulos de concreto em formato de C, com 3 metros de altura, por 3 de largura, por 3 de comprimento, permitindo assim seu agrupamento horizontal e vertical e facilitando conexões. O custo unitário de cada módulo estrutural é inferior a 5 mil reais, conforme cálculo de volume de concreto a ser utilizado, e o mesmo acaba por representar grande parte do objeto arquitetônico final, que passa a necessitar apenas de fechamentos laterais e de piso. Para minimizar os esforços de momento fletor sobre as lajes do C, instalam-se pilaretes em formato de L na extremidade aberta do módulo, que acabam servindo como estrutura base para a instalação das posteriores vedações.

O volume cúbico do módulo permite sua manufaturação em indústria especializada e posterior transporte através de caminhões e caminhonetes até o local final, possibilitando a utilização do sistema em diversos locais distintos com diferentes características físicas, aumentado a abrangência e flexibilidade do sistema.

Transportados até o local final, os módulos podem ser apoiados sobre solo compactado e são unidos entre si através de um sistema macho e fêmea, sendo que os módulos propriamente ditos possuem buracos nas extremidades e um elemento pré-moldado de concreto é responsável por estabilizar a união entre as partes. Um módulo especial para fechamento é responsável por vedar as laterais do módulo, bem como acondicionar o seu sistema de vedação.

O escoamento de águas de chuvas é feito a partir de ranhuras sob a laje externa, que permite que ocorra o caimento mínimo para evitar o acúmulo de água ao mesmo tempo em que não se perde a forma cúbica e ortogonal do módulo.

 

 

As vedações externas são todas feitas a partir de quadros rígidos em perfil de aço A36, divididos em três nichos capazes de receber vidro, para garantir a iluminação e troca gasosa com o ambiente externo, e placas sanduíche revestidas com acabamentos distintos conforme a necessidade do ambiente. Esses painéis são baratos e leves, e por serem uma composição de diferentes camadas, geram interstícios que são úteis para garantir condições de conforto térmico e acústico. Esses quadros possuem as dimensões constantes de 1 x 2,60 m.

Nas laterais os quadros estão estruturados a partir da peça de concreto de arremate do perfil, previamente citada. Já no lado aberto do C, os mesmos estão estruturados a partir dos perfis metálicos que fazem as vezes de pilaretes.

Já as divisórias internas e portas são feitas unicamente em painéis sanduíche, também podendo receber variação de revestimento. Estão modulados em uma altura constante de 2,5 m, podendo ter sua largura variável, conforme arranjo da solução proposta. As portas tem dimensão constante de 0,70 x 2,10 m, com bandeira superior fazendo o arremate com o teto.

Os pisos são modulados em placas de 1 x 1 m ou 1 x 0,7 m, conforme sua posição em planta. São placas de painel sanduíche com 50 mm de espessura, assim como as divisórias externas e placas de fechamento, e também aceitam diversos tipos de fechamento e tratamentos para impermeabilização por exemplo. Possuem grande resistência mecânica, sendo adequados ao uso residencial. Essas placas se apoiam sobre um quadro rígido feito do mesmo material, posicionado ao longo de seu perímetro.

 

 

Um sistema aberto permite diferentes respostas para diferentes demandas. A partir do sistema proposto foi desenvolvida uma casa pátio, visando a atender a demanda de uma pequena família composta por um casal e dois filhos.

Para solucionar a residência foram utilizados 8 módulos de concreto, quer permitiram a conformação de uma tipologia de residência em pátio. Tal tipologia se demonstra muito interessante, principalmente se considerarmos que esse sistema visa fornecer uma alternativa habitacional a um tipo de população com menos capacidade financeira. Muitas vezes essas tipologias são implantadas em áreas de regularização, que não nasceram de um plano pensado. Quintais e jardins individuais existem, porém são normalmente desprovidos de privacidade e segurança. A casa pátio define o próprio objeto arquitetônico como sendo o muro para o quintal, que nesse caso assume a condição de pátio e articula todo o objeto arquitetônico.

A residência é formada por 3 setores, todos dispostos ao redor do elemento articulador, o pátio. Há uma hierarquia de setores, sendo um dos pavilhões destinados a área social, como sala de estar, jantar e cozinha. Um bloco de serviços com área de serviços e banheiro faz as vezes de espaço de transição entre o pavilhão público e o pavilhão íntimo: o mesmo conta com 2 quartos, definidos a partir das divisórias de Placas Sanduíche propostas. O quarto menor é destinado aos filhos, recebendo um beliche. O quarto maior, por sua vez, destina-se ao casal, dimensionado para acomodar uma cama de casal de dimensões generosas. O módulo de concreto localizado ao centro do pavilhão íntimo assume as vezes de escritório, e uma porção de sua área é ocupada para acomodar os nichos para os armários dos quartos.

Os fechamentos para o pátio são acabados em vidro, justamente para valorizar a relação entre espaço construído e espaço vazio. Tal dinâmica fornece à residência vida, demonstrando o uso dos espaços e expondo as circulações internas. Os fechamentos externos, por sua vez, são mais opacos, principalmente na área íntima, de maneira a garantir a privacidade dos seus habitantes. Janelas contidas nos próprios módulos de concreto solucionam a demanda por luz natural exigida por tais ambientes.