No dia 5 de novembro de 2015, ocorreu a maior tragédia ambiental da história do Brasil. Uma barragem de resíduos da mineradora Samarco (Vale/BHP Billiton) se rompeu e um imenso mar de lama atingiu os municípios mais próximos, destruindo casas e matando 19 pessoas. Não houve um aviso, nem sequer uma sirene. A população de Bento Rodrigues, a primeira cidade atingida, escutou um barulho estrondoso que vinha de longe, mas não compreendeu o que se tratava. Ao avistar o tsunami de barro que descia furioso a montanha, a população correu para os locais mais altos levando o que podia agarrar e deixando para trás suas histórias.
A lama, que devastou as cidades próximas à barragem, encontrou o Rio Doce e alcançou o mar, afetando também outros municípios ao deixar milhares de pessoas sem acesso à água potável. Comunidades ribeirinhas formadas por pescadores e outros profissionais que dependiam do rio foram obrigadas a buscar outras formas de consumo e renda e se habituarem ao cenário desolador.
Ao analisar o contexto dessa tragédia, é possível reunir aspectos sociais, políticos e econômicos num único episódio. Assim "Retrato de barro" é um retrato da sociedade brasileira atual, revelando a natureza devastada por grandes interesses econômicos, populações carentes que permanecem à margem do progresso, a luta de movimentos populares invisíveis à grande mídia e histórias pessoais de quem teve a vida manchada pela lama.
As fotografias de Lucas Bois encontram os olhares silenciosos de mulheres e homens trabalhadores e a quietude de um rio transformado pela contaminação. Existe aí uma triste relação entre a natureza calada pelo desastre e as comunidades que tiveram seu sustento e estilo de vida arrebatados num instante.
Com o passar do tempo, a água secou e a lama deixou sua marca de barro seco nas árvores, bancos e casas vazias. Essas fotografias de tristeza, luto e luta tem o objetivo de marcar nossa memória, para que não seja esquecido, para que não se repita e para que haja justiça.
Fotografias de Lucas Bois registradas nas cidades de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Barra Longa (2015), Linhares e ao longo do Rio Doce (2016).
