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Resenha Crítica artística de música

Resenha Crítica-artística da música "Não Precisa Ser Amélia" de Bia Ferreira
Essas obras se encontram em um espaço de discussão do padrão de feminino criado
historicamente, no qual características físicas, comportamentais e até de
pensamento são impostas às mulheres, levando-as a buscar essa validação. As
músicas da Pitty e de Bia Ferreira são de datas diferentes, porém apontam para o
mesmo sentido. Assim como a obra de Simone de Beauvoir, esse fator evidencia a
continuidade do padrão exposto e criticado por essas mulheres. Ao longo dos anos,
mesmo de maneira velada, ele continua sendo imposto. Por isso, a música "Não
Precisa Ser Amélia" traz um discurso atual e contextualizado.
A música de Bia Ferreira é uma exposição e crítica direcionada a um público que
compreende a luta contra o padrão exposto por ela. É um espaço de fala de uma
mulher preta e fora do padrão de feminilidade, no qual a cantora observa os fatores
que cercam a sua vivência e a de outras mulheres nesse mesmo espaço. Por essa
razão, a artista compartilha vivências dessas mulheres que, embora diferentes entre
si, enfrentam a mesma realidade. Mulheres como a dona de casa, a adolescente
preta periférica e mulheres pretas estereotipadas pelo samba são exemplos citados
pela cantora, todas elas à margem de um espaço criado para favorecer um
patriarcado e racismo historicamente reforçado.
O discurso político dessa música é interativo tanto para as mulheres à margem do
padrão exposto quanto para aquelas que não se encaixam nesse padrão, mas sim
se opõem a ele. Isso é evidente na última estrofe da música, na qual a cantora
destaca que "Não se apropria / Quer ser preta dia a dia / Pra polícia, cê num quer".
Nessa fala, a cantora aponta um processo de apropriação cultural que também é
atual, destacando mais uma camada do discurso exposto, o que o torna eficaz como
manifestação política.
A música em si pode ser veículo de diversos discursos e exposição de
interpretações variadas. "Não Precisa Ser Amélia" é uma manifestação política de
uma mulher preta, periférica, lésbica e fora do padrão, direcionada a outras
mulheres que também fazem parte de um grupo feminino excluído e historicamente
oprimido pela sociedade racista, machista e patriarcal. É um discurso
contextualizado, interativo e interdiscursivo que explora e crítica uma questão social
velada, normalizada e romantizada em diferentes âmbitos da sociedade. Bia
Ferreira, assim como muitas mulheres com esse espaço de fala, se apresenta como
uma ferramenta de oposição, usando a música como veículo de posicionamento,
sem perder o cunho artístico, para abordar uma questão social tão real e urgente.
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