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Carta aos Meus Avós


Vô e vó, escrevo essa carta para dizer que não existe um dia que eu não pense em vocês. Todos os dias mesmo. Às vezes quando estou sozinho em meus próprios pensamentos me pego pensando em vocês dois. Hoje, em um momento nostálgico vendo fotos do passado, me deparei com duas fotos onde vocês me seguram no colo quando eu não tinha nem um ano de idade. Tomado pela saudade, decidi escrever essa carta.

Eu sei que eu não conheci vocês dois direito - e isso é motivo de muita tristeza para mim até hoje -, mas eu sinto como se tivéssemos passado muito tempo juntos; sinto como se estivéssemos juntos todos os dias, como grandes amigos. A cada história que meu pai conta, é como se eu estivesse com vocês por perto. Essas histórias, inclusive, não me canso de ouvir. Muitas delas são repetidas, mas eu não me importo. Tendo vocês dois como personagens é motivo da minha felicidade independente se as histórias são repetidas ou não.

Mesmo já fazendo muito tempo desde que vocês partiram, eu ainda não sei lidar com essa ausência. Eu sempre me emociono quando falam de vocês. Vejo uma foto e já fico emocionado e mesmo quando vejo pessoas felizes com avós, falando deles com muito carinho, ouvindo que vão na casa deles no fim de semana, me bate uma tristeza e, mais vergonhoso ainda, me bate uma certa inveja. Sinto inveja das pessoas que têm os avós por perto enquanto eu não tenho vocês para me fazer companhia. Sempre que eu perguntava para os meus alunos o que eles iam fazer no fim de semana, muitos deles falavam que iam à casa dos avós. Eu ficava feliz por eles, mas no fundo eu sentia essa inveja porque eu queria ser parte dessas pessoas que vão na casa dos avós nos fins de semana. Queria ir na casa de vocês literalmente todo fim de semana para ser mimado e passar uma tarde inteira conversando e dando risada. Eu sei que isso jamais vai acontecer, mas eu fantasio essa situação o tempo inteiro; praticamente todos os dias.

Vô, eu amo o seu jeito dramático e exagerado e me divirto quando meu pai conta sobre os dramas que você fazia por nada e damos muita risada falando sobre isso. Mesmo sabendo que você ficaria bravo sabendo que rimos dos seus exageros, saiba que é com muito carinho e respeito. Inclusive, eu puxei isso de você. Adoro um drama e um exagero. E não ache que eu não lembro dos momentos que passei com você. Mesmo sendo muito novo, eu lembro de você dormindo no carro e eu e a Luiza indo atrás para encher o seu saco, não deixando você dormir. Você era uma pessoa tão boa que nem ligava se estávamos perturbando você. Entrava na brincadeira e nos deixava pular em você não te dando um minuto de paz. Lembro das vezes que você sentava no sofá e eu subia atrás de você para desarrumar seus cabelos brancos. Você só achava graça. E, minha parte favorita, quando você tirava a dentadura fazendo careta. Eu morria de rir. Para mim era a coisa mais engraçada do mundo.

Vó, eu sei que você era brava e ralava pra caramba todos os dias. Três filhos em casa, um marido manhoso e uma mãe difícil de lidar são coisas que poucas pessoas aguentam. E você aguentou muito como a mulher guerreira que era e eu te admiro demais por isso. É uma mulher fortíssima e isso me faz ter ainda mais orgulho de ser seu neto. Eu me sinto muito mal por não ter lembranças suas, como se eu me culpasse por você ter ido embora. Queria lembrar de momentos ao seu lado, sendo pegado no colo, brincando junto, fazendo arte, mas infelizmente a vida deu um duro golpe. Apesar de tudo, eu tenho uma lembrança que até hoje não sei se é verdadeira: eu sentado no chão olhando para você sentada no sofá de casa assistindo TV. Eu não sei se isso realmente aconteceu ou se é uma memória falsa, mas independente disso, é a lembrança mais preciosa que tenho sua. 

Amo vocês dois de maneira incondicional. A saudade que eu sinto chega a doer. Sei que eu preciso aprender a lidar com a ausência de vocês dois, mas parece que a cada dia que passa fica mais difícil. A cada problema que eu tenho eu sinto que vocês dois poderiam ser meu porto seguro. Porém, eu sei que não é bem assim. Vou continuar ouvindo as histórias do meu pai, vou continuar olhando cada foto de vocês que eu tenho aqui em casa e sempre vou pensar em vocês, fazendo de tudo para manter a memória de vocês viva; viva como se estivessem aqui do meu lado nesse exato momento.
Aqui um registro dos meus avós, em 1995, me segurando no colo no quintal de casa. Essas duas fotos são as minhas favoritas entre as milhares que possuo.
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