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(Hidroxi)Cloroquina e seu potencial antiviral

(HIDROXI)CLOROQUINA e seu potencial antiviral.

Cloroquina é uma droga que foi sintetizada em 1934, por Hans Andersag, na Bayer, especificamente para ser usada como agente contra a malária. Seu composto primário é a quinina, que foi isolada no final do século 19 utilizando a casca da árvore cinchona. Inicialmente, a cloroquina sintetizada foi avaliada como muito tóxica para uso humano, o que, mais tarde, foi considerado um grande erro vendo que se tornou amplamente utilizada contra malária após a Segunda Guerra Mundial.
A hidroxicloroquina foi sintetizada em meados de 1950, somente com um grupo hidroxila extra em um dos N-etils. Ambas cloroquina e hidroxicloroquina são usadas para variadas doenças e condições.

Embora a cloroquina tenha sido desenvolvida especificamente para malária, ela subsequentemente demonstrou ter propriedades imunomodulatórias, o que encorajou sua aplicação no tratamento de doenças auto-imune. A cloroquina e sua hidroxi-análoga representam válida contribuição dentre as ferramentas farmacológicas disponíveis, visto demonstrarem baixa toxicidade, alta tolerabilidade, e baixo custo. Em 2003, temos a proposta do reaproveitamento destas drogas para infecções virais, isto porque suas propriedades imunomodulatórias são associadas com efeitos bioquímicos que sugerem um potencial uso em infecções virais, cujas alguns sintomas podem ser resultados de uma resposta inflamatória. Assim, a cloroquina e sua derivada hidroxicloroquina foram reaproveitadas para condições como HIV, lupus eritematoso e artrite reumatóide.

O reaproveitamento de drogas é um método aplicado para identificar novos agentes terapêuticos de moléculas de drogas clinicamente aprovadas pelo FDA. É considerada uma abordagem eficiente para desenvolver candidatos com novas atividades farmacológicas, visto que o desenvolvimento de novas drogas é caro, demorado e trabalhoso; de forma que o reaproveitamento é utilizado para aumentar a taxa de sucesso no desenvolvimento de drogas. 

A fórmula química da cloroquina é C₁₈H₂₆ClN₃, e tem a estrutura 7-cloro-1-(4-dietilamino-1-metil butil amino)-quinolina. A quinolina é a base do composto, uma unidade bicíclica composta por um benzeno fundido a um anel piridínico. Este composto heterocíclico tem alto valor farmacológico pelas possibilidades de atuação no organismo, isso por poder formar uma variedade de substâncias de acordo com a funcionalização das posições.
A funcionalização destas posições em específico, confere à quinolina propriedades antimaláricas, no caso da cloroquina, vemos a substituição nas posições 1 (grupo diamina) e 7 (cloro).

No caso da ação antimalárica, a cloroquina age inibindo a ação da heme polimerase em trofozoítos da malária, prevenindo a conversão do grupo heme em hemazoína, um pigmento malárico, sub-produto do metabolismo do parasita; assim, a espécie plasmodium continua a acumular o heme tóxico, matando o parasita. 

A proposta da utilização da cloroquina para ação antiviral surge da difusão passiva através da membrana celular para dentro de endossomos, lisossomos e vesículas de Golgi, onde a cloroquina se torna protonada, ficando presa na organela e aumentando o pH próximo. O aumento no pH em endossomos previne que partículas de vírus realizem fusão e entrem na célula.  A cloroquina inibe o terminal de glicosilação do ACE2, o receptor que o SARS-CoV e SARS-CoV-2 utilizam para entrar na célula, de maneira que um ACE2 não glicosado pode ser menos eficiente na interação com o SARS-CoV-2, tendo assim, potencial para inibir a entrada viral.

Mesmo que com considerável baixa toxicidade, um efeito colateral preocupante que resulta da toxicidade da (hidroxi)cloroquina é a cardiomiopatia. Este fármaco pode causar dano cardíaco (assim como renal e hepático), efeito que foi comprovado por meio do monitoramento de pacientes de uso contínuo e prolongado do medicamento.
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