Me canso no (des)canso dela 

Rebeca Amaral

O que é o descanso? Tempo dedicado ao ócio, livrar-se do cansaço, da fadiga, do trabalho. Seria o descanso a ausência do cansaço? Poderia o cansaço descansar? E as mãos, descansam? Quais mãos descansam sem se culpar? Na inquietude das palavras que não me deixam, penso nas memórias que ficam. Será que ela descansa? Quero descansar sem ir embora. Descansar para mais tarde cansar-me... novamente. Não quero descansar para sempre. Não ainda. Não é esse o tipo de descanso que busco. Será que os meus descansaram antes de irem embora? Ir embora seria descansar?

Escrevo como quem dá continuidade ao tempo. Eu entendo, meu tempo é lento. Escrevo para não me esquecer das palavras que me atormentam. Palavras que ficam no tempo. E o que seria o tempo? Tudo acontece no agora, disse a escritora Julia Tolezano. Percebo que o tempo continua em cada momento. Entendendo a pintura como espaço para existências outras, eu me canso pintando o descanso dela. O quanto dela é descanso e o quanto é caos? Minhas mãos descansam em meio ao vento. Elas param em meio ao caos. Em uma repetição de momento.

A série “Me canso no (des)canso dela” tem momentos do ócio de mulheres negras como eixo central. Por meio da transparência, do escorrido e da mancha, coloco em fragmentos os espaços de tempo em que o descanso delas possa existir. Cada uma das pinturas menores existe em sua materialidade enquanto uma continuidade do tempo-espaço em que o descanso se coloca como pequenos fragmentos do presente. Nas telas grandes, essas mulheres existem em momentos somente delas, como quem busca a si mesma para não se perder de vista.

Sobre a artista

REBECA AMARAL 

Graduanda em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG, Rebeca Amaral nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. 

Em sua pesquisa artística, desenvolve trabalhos a partir de pintura, colagem, bordado e fotografia, (re)visitando suas memórias de infância numa tentativa de reconstrução do passado. Levanta questões sobre silenciamento, afeto e medo, provocando um deslocamento do corpo negro por meio de imagens que abordam o descanso.

Em 2020, foi bolsista de iniciação científica pelo departamento de Artes Plásticas da EBA/UFMG, sob a orientação da professora Rachel Cecília de Oliveira, atuando na pesquisa intitulada A Equivocidade da Crítica: apontamentos sobre a relação entre crítica e arte na atualidade, sendo premiada com Relevância Acadêmica na primeira etapa da XXIX Semana de Iniciação Científica. No mesmo ano, participou como convidada do evento Confluências Pretas, aula aberta realizada dentro das atividades integradas das disciplinas de Ateliês I e II de Artes Gráficas. Em 2021, participou do Festival Unificado da Consciência Negra de João Monlevade com a exposição virtual "O descanso no caos". Atualmente, é bolsista de extensão no setor do Educativo no Centro Cultural UFMG.