fernanda pacca
POLIFONIA MUDA
Desvelar da alma e da anatomia
Na série intitulada Polifonia Muda, a mulher é aquela que não experimentou a plenitude de sua existência. Está retida numa moldura, teve seu corpo historicamente violado, reduzido a objeto de prazer, tornou-se uma topografia mapeada em zonas erógenas, recortes e fissuras. A obra de Pacca retrata esta mulher não é mais uma mulher, mas sexo, seios, ventre, coxas, voz ou rosto, pois é um fragmento de si ( BAUDRILLARD, 2006, p. 107-108). A arte seria a ferramenta que, por meio da produção artística, consiste em expressar a força libertária que reivindica a ruptura do que é mascarado pela moral, pelo consumo e pela sociedade midiática.
Na série intitulada Polifonia Muda, a mulher é aquela que não experimentou a plenitude de sua existência. Está retida numa moldura, teve seu corpo historicamente violado, reduzido a objeto de prazer, tornou-se uma topografia mapeada em zonas erógenas, recortes e fissuras. A obra de Pacca retrata esta mulher não é mais uma mulher, mas sexo, seios, ventre, coxas, voz ou rosto, pois é um fragmento de si ( BAUDRILLARD, 2006, p. 107-108). A arte seria a ferramenta que, por meio da produção artística, consiste em expressar a força libertária que reivindica a ruptura do que é mascarado pela moral, pelo consumo e pela sociedade midiática.
Ao fruir a Polifonia Muda, também somos capazes de sentir os gritos contidos em cada imagem, os gemidos de dor e das memórias da agressão física e psicológica. Nesta série, a artista disseca a condição da violência, transfigurando os corpos em feridas abertas, cuja vida se esvai pelo esfriamento dos sentidos e pela ausência de sangue. Os seres retratados são biologias perdidas e excluídas, abandonadas no entrelugar obscuro, porém ressoam na denúncia da própria obra de arte. Cada imagem parece retratar a intimidade da alma em estado de agonia.
A série imprime o sentido de estranhamento e repugnância pelas deformações e pela aparência de dor latente dos corpos. As imagens formam o registro da intimidade em estado de cólera e desespero. São retratos condensados do sofrimento humano em diferentes condições: o gestual de dor, o corpo sem pele, a agonia sem voz, o desejo do grito, o delírio e o pedido de esperança.
Tanto a obra como a artista se encontram na questão do ser mulher e desvelam em uma mesma anatomia a experiência de criadora e criatura. Nessa simbiose, a obra de Pacca também é um depoimento íntimo da arte como reflexão e autoconhecimento. Quanto mais profundo o contato com estas imagens, maior é o mergulho que fazemos em nós mesmos. A partir da experiência estética somos capazes de ampliar nosso significado de existência no mundo.
