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TFG | Escola de Música e Belas Artes do Paraná

REALIDADE

Repensar um espaço de uma academia como a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (carinhosamente apelidada de Belas) encaminha a pensar o atual estado do ensino, arte e arquitetura em Curitiba.
O ensino de arte, distanciado das relações sociais que viabilizam a criação e execução da arte de vanguarda, se engloba em sua própria atmosfera, exercendo pouco ou nenhum contato com o grande público, este que desacompanhou a linha de pensamento da produção acadêmica de vanguarda, bem como o interesse comercial.

A arte em Curitiba é um reflexo dessa disparidade. Cabe ao poder público incentivar e colaborar para a promoção cultural de apresentações musicais e exposições de arte contemporânea, através de projetos em parceria com o setor privado.

Essa simples leitura preliminar leva a pensar a realidade de uma escola com 65 anos de existência, surgida da necessidade e vontade de artistas e da burguesia desejosa de novos espaços de arte e música na própria cidade de Curitiba, que hoje encontra-se sucateada, dividida em edifícios impróprios para o uso de uma escola de arte, enquanto sua antiga sede se encontra abandonada, por não suportar a demanda e segurança provenientes do seu uso.

Propor um novo edifício para a belas se traduz em pensar como o espaço da escola de arte pode influir no cenário atual de uma academia tradicional na cidade, no mercado e na produção artística contemporânea.
Corte Longitudinal Perspectivado
CENTRALIDADE

O interesse inicial era manter o antigo edifício da Escola com uma nova intervenção arquitetônica que se apropriasse de outros terrenos adjacentes e que desenvolvesse um novo campus, porém, pela massificação e consolidação do entorno da antiga sede, bem como a condição da primeira sede, a proposta visa à busca por um novo lugar para a escola, encaixando-se em novos possíveis padrões de ensino de arte na contemporaneidade. Esse desprendimento da antiga sede viabiliza a doação do imóvel à Prefeitura municipal (o que atende a um interesse real da instituição) e a busca por novos terrenos na região central.
Apesar da situação precária, adaptada e provisória, a belas manteve sua centralidade em Curitiba, que poderia representar uma aproximação da escola com a circulação de pessoas e o mercado artístico da cidade, usando dos espaços culturais presentes no centro como espaços profusores da produção acadêmica.

Portanto, para a escolha de um novo lugar para a escola, buscou-se essa relação de centralidade e aproximação com o público, bem como uma maior relação entre o mercado de arte e a produção de vanguarda.

O novo lugar de implantação da nova sede deve ser uma resposta às condições urbanas existentes, das quais a escola pode tirar proveito e ao mesmo tempo oferecer novas experiências urbanas e aproximação ao grande público. O edifício passa a ser encarado como um dispositivo para uma relação simbiótica com o lugar.

Mapeando-se as áreas dos principais espaços de arte na região central da cidade (galerias, espaços de apresentação e culturais), percebe-se um grande hiato na transição dos bairros batel e centro, ambos caracterizados pelo contraste entre os espaços particulares -de mercado- da arte e pelos espaços públicos de arte-vanguarda.

A escola de arte pode ser considerada um espaço de conexão, discussão e interpretação destas duas esferas artísticas, portanto, o local da nova academia deverá representar essa relação.
A região resultante deste mapeamento localiza-se na junção de três ruas dentro do anel viário central. Sendo estas as ruas Cruz Machado, Visconde de Nácar e Dr. Carlos de Carvalho. 
Nesta área, optou-se pela escolha da junção de dois terrenos de esquina com maior testada para a Rua Visconde de Nácar.
 
A EMBAP

Atualmente a Belas se encontra dividida em três edifícios alugados no centro de Curitiba, sendo que sua antiga sede permanece desocupada pela falta de segurança e capacidade à atual escala da academia.
A escola possui hoje cerca de mil alunos divididos em cursos de artes visuais e música, juntos em uma instituição, mas separados fisicamente.

Além dessa situação, a escola não possui espaços adequados para o ensino de arte e música, bem como praticamente nenhum espaço de apresentação ou exposição.

PROPOSTA E CONCEITUALIZAÇÃO
 
As principais condicionantes para desenvolvimento do partido arquitetônico adotado foram as necessidades individuais de cada curso, somadas ao interesse pelo contato de toda comunidade acadêmica no decorrer das rotinas.

Para tanto, divide-se os cursos de artes e música em dois grandes edifícios unidos em um grande embasamento comum aos dois cursos, possibilitando o contato visual em suas atividades fechadas, como nos períodos extraclasse, fora de seus respectivos blocos.

Esses blocos separados informam que há duas atividades e atmosferas possíveis, por mais que a identidade dos dois blocos se assemelhe. Porém, o envelopamento dos dois edifícios une os volumes em um único edifício e instituição, representando a unidade de dois departamentos em uma grande academia, servindo tanto de anteparo difusor de luz direta do Sol para as atividades de artes, quanto de maior isolamento entre o ambiente acústico interno e externo nas atividades musicais.

FORMA

A ideia de duas coisas diferentes unidas em um grande envelope de vidro deve ser explorada e tomada como um conceito norteador para todas as decisões projetuais. Isso representa um grande contraste entre o ambiente externo e interno, mostrando-se como um grande bloco vítreo externamente, ao contrário do ambiente interno, com seus dois blocos separados.

A casca/envelope adquire uma identidade tectônica, reflexiva, racional e simples, mostrando-se como uma grande caixa branca, austera e indeformável.

As tuas torres acadêmicas e embasamento se mostram como uma grande edificação estereotômica de concreto, mais deformável, compositiva e expressiva.

Esse contraste desejável define ainda melhor o conceito geral do projeto, bem como uma nova identidade para a escola.

ESTRUTURA

A estrutura principal do edifício se baseia no sistema de lajes nervuradas apoiadas em pilares de concreto, do subsolo ao pavimento da cobertura. Ao todo existem 7 linhas de pilares por 3 colunas, totalizando-se 21 pilares com vãos quadrados de 10x10 m e 1,80 m em balanço em ambos os lados.

A fachada metálica se ancora nas lajes de concreto através de braços metálicos em perfis “I” compostos, que sustentam a estrutura que prende o vidro serigrafado da fachada. Este, por sua vez, se inclina através de chapas metálicas dobradas soldadas à estrutura principal da fachada para permitir a circulação de ar na porção da torre de artes, já na porção da torre de música, este se parafusa adjacente à estrutura, permitindo maior isolamento. O espaço entra a fachada de vidro e a fachada de concreto interna totaliza 1,10 m.

Entre cada um destes braços, há uma passarela de circulação para manutenção da fachada, realizada por passarelas metálicas perfuradas ou sólidas (novamente na região da torre de música, permitindo a maior compartimentação entre os pavimentos, evitando, assim, a criação de armadilhas acústicas).

PROGRAMA

O programa da escola se divide em um total de 10 pavimentos, sendo um subsolo, que contém as áreas técnicas, auditório, parte da galeria de arte e salas de manutenção.

O térreo possui uma característica porosa, sendo que os principais acessos acontecem ao redor da projeção de todo o edifício, permitindo a criação de uma grande Praça da Escola de Música e belas Artes do Paraná. Nele se localizam o acesso público da galeria de Arte, Café e o grande hall para o foyer do auditório. A implantação paralela à maior testada do terreno possibilitou a criação de uma praça recuada em relação à Rua Visconde de Nácar, servindo como outra área de contato com a cidade e recepção, bem como exposições de instalações de arte temporárias ou permanentes e apresentações musicais ao ar livre.
O primeiro pavimento abriga a administração da escola e a biblioteca, conectando-se à praça elevada no segundo pavimento que se distribui aos pavimentos de artes e música.

A torre de música se setoriza em sete níveis, iniciando no pavimento +2, que abriga os gabinetes de professores, seguido pelo pav. +3 e +4, abrigando salas de aula teóricas, o pav. +5 abriga o estúdio de gravação, salas de ensaio e a sala octagonal de sonologia. Os pavimentos +6, +7 e +8 abrigam inteiramente salas de ensaios de grupos de câmara, percussão, metais e salas individuais de estudo de instrumento.
A torre de artes se setoriza em sete níveis, de maneira semelhante à torre de música até o pavimento +4, que abriga laboratórios de práticas artísticas, desenho técnico e artístico e de medição química (disciplinas de restauro). Os outros quatro pavimentos abrigam respectivamente, as salas de aula da área de novas mídias (vídeo, foto, computação), escultura, gravura e pintura. 
Hall de Circulação - Torre de Artes
Fachada Interna
Praça das Esculturas na Rua Cruz Machado. (+ o genial Edifício Itália de Elgson Ribeiro Gomes ao fundo)
Atelier de Pintura. Torre de Artes.
Sala de Ensaio Individual. Torre de Música.
Átrio e Praça elevada. Torre de Música à direita. Destaque para a Escultura de João Turin, patrimônio da Escola.
Pranchas entregues
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Trabalho Final de Graduação no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná. Tema: Escola de Música e Belas Artes do Paraná Read More

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