Ruas Adentro
 
Descobri que existia uma oficina na Rua da Alegria, perto do bairro da Saudade.
 
Imagino que muitas outras dividem espaçamentos imaginários e sutis,
preenchendo uma cidade sentimental.

A rotatória da Rua Rancor desemboca na Rua da Tristeza, que faz esquina com a do Medo, no bairro da Decepção. O asfalto é gasto, a movimentação é pouca, não se recomenda passar por ali, ainda que às vezes, certos bairros só tenham acesso atravessando ele.
 
Toda a conjuntura emocional, por mais organizada que seja, cresce aos montes, deixa de fazer sentido na numeração e intensidade. Tem suas dores. Tem partes lindas.

As Praças tem ar de leveza e segurança. São elas: Companheirismo, Admiração, Afinidade e Gratidão.
 
Canteiros iluminam reencontros e passeios, lá descansam as melhores sensações do mundo, caminhadas, livros, música e liberdade.
 
Essa tal Liberdade, não se contentou em ser só rua, e virou uma enorme estrada, de mão dupla, onde viadutos como o da responsabilidade e da convivência olham do alto o fluxo intenso e as horas de pico, que podem durar anos e geralmente precisam de tempo e paciência.
 
A via livre, queridinha da cidade, tem vários retornos e saídas laterais que levam às áreas periféricas, que, embora marginais, não são menos importantes. Perdão, Humildade, Maturidade e Arrependimento podem ser atingidos pelo pedágio da Experiência, ou pelo posto da Sabedoria.
 
Nos arredores, grande mas meio escondido, um parque em paz no seu misterioso jeito de ser, deixa suas árvores projetarem sombras na grama, abrigando famílias, amores e amigos, casais de velhinhos, flores, abraços, pensamentos soltos, brilhos nos olhos.
 
Entendi tudo: ele se chamava Amor.
 
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