Padre Jésus

"O que para mim caracteriza uma comunidade Quilombola, é uma comunidade povoada por a maioria das pessoas negras e que as pessoas têm uma história neste lugar que ali viveu os seus ancestrais, pessoas que trabalharam neste regime de escravidão, tendo uma identidade com esse território, ali tem elementos que prova que essa comunidade ela é herdeira de descendentes de povos africanos que foram escravizados, que aí mantém a sua cultura e tradição."
"O assentamento de Padre Jésus ele representa a resistência da luta popular da organização popular. Em 2009 forma assentadas 22 famílias e hoje estamos com mais de 30 famílias chegando mais ou menos a 40 famílias praticamente."
"A história do movimento da agroecologia na Zona da Mata é muito importante, porque os nossos sindicatos da agricultura familiar, sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras da zona rural, eles nasceram fruto do trabalho da CEB, a teologia da libertação, buscar uma reflexão de uma teologia que fale de Deus, mas de um Deus que está no meio do povo, ouve o clamor e sofrimento do povo."
"O movimento da agroecologia ele tem que ser visto a partir da realidade de cada família/povo. Porque a Zona da Mata tem características e solos diferentes, tem propriedades que é mais na baixada, no morro. Então a agroecologia ela não tem que seguir um padrão único de uma cartilha, ela tem que respeitar a realidade que cada família vive na sua comunidade. Viçosa e região tentam buscar junto este entendimento de fortalecer a agroecologia como movimento, como uma pratica que as pessoas aplicam a ciência."
"A assistência técnica, este é o grande gargalo da agroecologia e da agricultura familiar. Nós temos a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado – EMATER, que é um órgão do Estado para fazer assistência técnica, porém, o município tem mais de 12 mil famílias na agricultura e dois técnicos, então é impossível fazer muita coisa. O que nós fazemos através dos movimentos, é um tentar pegar experiência com outro (a), realização de intercâmbios/visitas, alguém vai para um curso de formação aprendi uma técnica diferente, traz e ensina para a comunidade e assim tem sido a nossa assistência técnica."
Variedades de sementes crioulas disponíveis para troca.
"Uma comunidade no meu ponto de vista, quando eu chego em uma comunidade para fazer este processo de auto definição do que é uma comunidade Quilombola, eu olho todo o perfil de todo povo, ao perceber que a maioria é negra, procurar saber se eles acham negros, se eles se identificam como negros, e a partir qual que é a sua cultura, tem raizeiro? Tem artesões, tem algum elemento que eles guardam a mais de 100/150 anos, que pertenceu ao povo negro que viveu ali? Ai a partir disso, a gente reafirma como uma comunidade negra, um quilombo remanescente de homens e mulheres descentes de africanos que foram escravizados."
"Para combater o racismo a gente precisa uma mudança estrutural na sociedade, este modelo de sociedade ele é racista, ele é preconceituoso. Não basta só eu dizer, vamos ter uma política afirmativa aonde nós vamos garantir 50% dos negros na Universidade. Tá, ele vai ter 50% dos empregos? Ele vai ser 50% em todas as áreas? Na Medicina, na Saúde, na Educação, nas Agrárias, nas Humanas. Então assim, para combater de fato o racismo estrutural na sociedade, é preciso mudar o modelo político, aonde as pessoas possam produzir de forma igual e ter direitos iguais."
"A história da fogueira de São Pedro remete a minha família, a minha mãe e o meu pai fizeram uma promessa para um dos meus irmãos e alcançaram a graça, e você sabe que o povo preto é um povo de fé e ao alcançaram a graça começaram a fazer o festejo de São Pedro, a mesma acontece todo o ano há mais de 50 anos, meus avós também faziam fogueira de São João, a minha avó fez durante mais de 60 anos. E a fogueira é para representar o santo popular que também é o tempo da colheita junto com a festa a gente faz a celebração da colheita e também fazemos o processo de formação política junto com a fogueira de São Pedro. Toda a comida oferecida aos participantes da festa é produzida ali no assentamento e não se vende, tem que ser tudo doado, na verdade é um espaço de troca, porque a gente também leva sementes para trocar."
"A palavra que eu possa deixar, não como conforto, mas de incentivo, que as pessoas continuem acreditando nas organizações, a minha palavra é que as pessoas continuem acreditando na agroecologia, na prática, na ciência, no movimento agroecológico popular. Que só através de organização social de movimento popular que nós vamos conseguir fazer boas parcerias e serão elas que vão garantir a nossa sobrevivência/permanência no nosso território."
Café da manhã no Assentamento Padre Jésus, apenas produtos agroecológicos e sustentáveis
Amendoim agroecológico, muito utilizado em doces e broas nas comunidades tradicionais.
Cebolinha agroecológica em Padre Jésus. Cultura de consumo sustentável, seja pra consumo familiar ou para venda na comunidade.
Plantação de milho em Padre Jésus. O milho é cultivado junto a cultura do café no alto do assentamento.
Ramo de café de Padre Jésus.
Padre Jésus
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Exposição fotográfica composta por imagens captadas em comunidades quilombolas da Zona da Mata mineira, entre elas, comunidades certificadas e nã Read More

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