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Bauman e a pós modernidade

A arte pós-moderna, ou a impossibilidade da vanguarda

Bauman

Avant-garde se traduz do francês como vanguarda, que é a primeira fileira de um exército em movimento, que tem como função ir à frente do corpo para preparar o terreno. A vanguarda faz algo que será copiado pelos resto do exército. No entanto, o mundo pós moderno é qualquer coisa, menos imóvel, logo, vanguardas são um conceito quase que impossível de ser aplicado nele. Os movimentos nele parecem aleatórios, dispersos e sem um norte bem definido. Essa fluidez do mundo pós moderno faz com que seja muito difícil dizer quais movimentos são progressivos e quais são regressivos.
O Modernismo foi um movimento tão rebelde graças a frustração das pessoas com todas as promessas que haviam sido feitas juntamente da chegada da modernidade, mas fora também um testemunho de quão seriamente essas promessas haviam sido levadas. As pessoas morderam a isca da modernidade e passaram a recusar tudo o que havia vindo antes, tudo o que era anterior a eles era retrógrado, ultrapassado, inferior. Os modernistas queriam uma mudança mais acelerada, travaram guerra com o que era tradicional por terem imaginado como seria o moderno.
Stefan Morawski identificou as características comuns dos grupos modernistas; todos tinham um forte espírito pioneiro, eram críticos das artes atuais e de seu papel na sociedade (de servir como objeto de decoração e não de expressão, por exemplo), e se viam como percursores de ideias que tinham ânsia por mudanças rápidas e efetivas. Os modernistas acreditavam que o único uso da tradição era para se ter algo para com o que se romper.
As vanguardas sofriam com seu paradoxo: para elas o sucesso era símbolo de seu fracasso, já que, nessa narrativa, o fracasso seria sua validação. A vanguarda sofria com o desprezo do público, mas era atormentada pela aclamação. Quanto mais atacada era uma vanguarda, mais certeza seus integrantes tinham de que sua causa era certa. Por conta de seu medo da aprovação popular, as vanguardas procuravam sempre pelo meio de arte mais difícil de digerir, essa arte difícil no entanto, se provou ainda mais elitista do que suas antecessoras, sendo apreciada apenas pelos mais “intelectuais”, e fazendo com que a divisão entre a classe que tinha a capacidade de apreciar e absorver as obras e a classe que não as entendia e ficava confusa com elas, ainda maior.
Diz-se, por conta desse paradoxo, que a vanguarda modernista nasceu sob a semente do suicídio, e isso se deu principalmente por dois resultados desse paradoxo: o primeiro é que por essa narrativa de que apenas intelectuais seriam capazes de entender as obras, muitas pessoas as compravam e expunham em suas casas para se afastar dos incultos e sem gosto, logo, a arte foi rapidamente absorvida pelo mercado artístico, o que ia contra os princípios modernistas (fazer arte para alcançar a glória), e esse sucesso também chamou a atenção de outros artistas que queriam entrar num movimento já consagrado. Por outro lado, o modernismo era tão controverso, fez tantos absurdos – como apresentar composições silenciosas, telas intocadas e “exibições telepáticas”- que chegou uma hora que não havia mais nada a ser feito.
No mundo pós moderno, Bauman assume que não é possível a existência de vanguardas, já que tudo já foi feito e subvertido. Por esse motivo, ele diz que o termo é contraditório, já que estariam sendo feitas repescagens nas artes do passado (quase que como no pastiche).
A arte pós modernista procura a multiplicidade, os estilos não se dividem em antiquados ou progressistas, nem tentam ocupar o espaço ou diminuir seu anterior, a coabitação se torna a nova tendência. Todos os estilos devem sobreviver sob a mesma lei, e com a mesma estratégia, segundo George Steiner: deve-se causar o máximo de impacto e obsolescência imediata. Ou seja, você deve atrair a atenção imediatamente e já se preparar para sair do mercado para dar espaço ao que há de novo.
Agora a novidade já não é sinônimo de revolução, inovação não equivale a progresso.
As vanguardas sempre tiveram posicionamentos políticos, tanto de esquerda como de direita. Mas suas ideias, que sempre se provavam elitistas, iam contra as ideias dos partidos de se comunicar com as massas (que geraria o apoio popular que as vanguardas temiam).
As artes pós modernas conquistaram uma autonomia apenas sonhada pelos vanguardistas. Elas são feitas por “amor à arte”, sem se desprender de sua reponsabilidade social e de influência em sua época, mas ao mesmo tempo, seu sucesso não está mais ligado ao seu “valor artístico”, ou seja, sua mensagem ou qualidade; mas sim pelo seu sucesso comercial. Quanto mais cópias uma obra tiver, mais bem sucedida ela é, independentemente do artista ou da obra em si.
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