ArqEUtípico
A Reconstrução Simbólica do Ser
A proposta inicial era de fazer uma fotoperformance contando com 9 fotos, nas quais o corpo necessariamente precisaria ser retratado. Parti imediatamente para uma perspectiva introspectiva, muito necessária nos tempos pandêmicos, de forma a usar o trabalho como maneira de me entender melhor dentro desse cenário. Então selecionei para cada foto um aspecto da vida que me é valioso ou importante; que representa um fragmento do meu ser. Mas um trabalho puramente introspectivo não era o bastante para mim, senti que precisava interagir com o espectador de alguma forma.

Busquei nas minhas referências pessoais por respostas e fui de encontro com os arquétipos imaginados pelo psicanalista Carl Jung, com a fórmula de pathos de Aby Warburg, com a auto-identificação com os mitos de Joseph Campbell e a estética e simbologia por trás dos baralhos de Tarot. Procurei por mais referências e encontrei um artista chamado David Rohn, que buscou se representar através de arquétipos recontextualizados no contemporâneo e a artista Fernanda Figueiredo, que fez um ensaio fotográfico com base nas cartas do Tarot de Marselha. 

A partir disso, construi arquétipos pessoais que pudessem evocar uma atemporalidade através dos símbolos e o que significam, de forma que o espectador possa, com base nas imagens, construir a própria relação com determinado arquétipo apresentado.


O Torto
O Torto nunca coube onde queria caber. De tanto que se encolheu para se enfiar nos lugares, suas costas se curvaram, seus ombros desalinharam e até seu próprio peito saltou para fora. Ele tem certeza de que o mundo não foi feito pra ele ser inteiro, esbelto. 
Gêmeos
As forças da criatividade são uma faca de dois gumes. Por um lado, criativo, fervilhando de ideias e insights. Por outro, ansioso, capaz de criar armadilhas tão eficientes e criativas que são meticulosamente orientadas para aleijar a si mesmo. Esse é o eterno dilema de se ter uma mente ativa.
O Cortesão
Todo mundo tem um lado romântico. O Cortesão, no caso, convida você para tomar um drinque gostoso em frente a uma lareira aconchegante, enquanto inventa novos tipos de carinho para fazer. Delicadeza e sutileza são essenciais.
O Dançarino
Para todas as coisas na vida existe um fluxo; um fio energético que nasce da vontade. Quer criar algo? Entre em um fluxo criativo. Quer produzir? Entre em um fluxo de produção. Se deixe levar pelo momento e se permita adentrá-lo e fazer parte dele. Estar no fluxo é desprender-se e caminhar por novas estradas rumo ao que já se conhece.
O Macaco
Cada macaco no seu galho? Acho que não. Sempre que pode, tenta fazer alguém soltar uma risadinha com alguma besteira engraçada ou piadoca. Esse primata gosta de saltar de árvore em árvore, conhecendo novos jeitos de se fazer comédia, e a energia que usa para isso é a da mais pura alegria de se estar vivo!
O Campeão
“Você sempre pode contar com o Campeão!” Esse é o seu lema. Ele nem sempre é muito presente, mas, se você chegou vivo até aqui, é por causa dele, acredite. Para alimentar esse guerreiro inspirador, é preciso reconhecer suas vitórias, por mais pequenas que sejam. E, mesmo que sumido, quando você mais precisar, você sempre pode contar com o Campeão!
O Matemático
Lógico. Consequencial. Racional. Esse é o matemático. Tudo acontece por um motivo e segue uma lógica factual. Se X ocorre, ocorre por causa de Y. Tudo é processual. Vamos resolver um problema? Divida-o. Fragmente-o. A resposta está nas etapas do processo, uma depois da outra.
O Pescador
A maior virtude de um pescador é, sem sombra de dúvida, a paciência. Pescar é naturalizar a inação como parte do processo de se obter o que quer. Às vezes, pescar é contemplar a natureza do tempo enquanto não se faz mais nada: O tempo passa. Tal qual a vida do pescador.
A Sombra
“Você também é o que você não é.” Esse ditado resume o espírito carregado de opostos da Sombra. Às vezes se passa muito tempo procurando nomes para nos darmos, para nos sentirmos ainda mais nós mesmos. A Sombra busca quebrar essa lógica e construir as suas verdades através da negação do ser. É reconstruir a luz através da escuridão.
Essa fotoperformance foi feita como trabalho para a Oficina de Performance em Audiovisual, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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