Fugindo da Máquina de Fazer Espanhóis
Como parte de um projeto para a disciplina de Fotojornalismo II do curso de Jornalismo da Universidade de Passo Fundo (UPF), produzi uma série de fotografias em preto e branco de pessoas idosas em parte de suas rotinas.
Aqui, separo dez dessas fotos foram tiradas na Casa de Idoso Recanto Foresti, em Marau, com uma forte inspiração no livro de Valter Hugo Mãe "A Máquina de Fazer Espanhóis". As duas últimas fotos são a fuga dessa máquina: minha avó em sua casa com suas plantas e memórias.
Dona Ana ficou muito animada com a minha visita. Ainda lembro de como seus olhos curiosos buscavam minha atenção enquanto ela tentava me mostrar seus desenhos.
Dona Cacilde passaria boa parte do tempo em que eu dividi a sala com ela e seus colegas de Recanto sentada e de olhos fechados.
Ela tinha as mãos entrelaçadas. A forma que sussurrava parecia que estava em uma interminável oração.
Quando ela finalmente abriu os olhos, tinha uma visão distante. Dona Cacilde não trocou olhares com ninguém.
Dona Leonita também se mantinha silenciosa.
Ela estava concentrada em seu desenho. Sua arte era cheia de espirais e formas arredondadas.
Seu João era bastante falante. Ele me contou histórias de sua vida – desde seus programas de TV favoritos a uma viagem que fez para a Amazônia.
Dona Edelvina era muito querida. Ela parecia ser o xodó de uma das cuidadoras, a enfermeira Renata, que estava o tempo todo ao seu lado.
Fugindo da máquina
Estar dentro de um lar de idosos é uma experiência única, para dizer o mínimo. É um espaço contido, sobre o qual paira um silêncio abafado. É uma convivência bonita, em que há uma série de histórias para serem ouvidas. Mas o ar tem um peso diferente.
Esse clima diferente me levou a fazer uma ligação:
– Oi, vó. Tá em casa?
– João Pedro, oi. Tô sim!
– Posso passar aí?
– Claro que pode.
Minha avó mora em um apartamento. Ela tem um amor muito grande por plantas e cuida assiduamente de sua própria horta.
Ela ainda revirou seus álbuns de fotos. Passamos o final da tarde conversando a respeito das memórias que cada uma das imagens despertava nela.
