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Conto Premiado * Um beijo universal

Um beijo universal 

O beijo. 

O que passa na cabeça dos apaixonados no momento em que os olhos se fecham para o mundo real? O enigma segue equilibrando o mundo em seu eixo. Como traduzir em palavra viagem sensorial tão indescritível assim? Pode-se racionalizar o resultado de um impulso? Na real, isso não tem pouca ou nenhuma importância.

O beijo.

Um gesto minimalista, um toque de lábios estranhos e atraentes em prol da sensação comum. No campo das emoções subjetivas, a coisa já não é tão simples. Em sua complexidade, o beijo rompe com as leis da física; às vezes, é possível jurar que os lábios, de tão colados, ocupam o mesmo lugar no espaço. Quem explica?

O beijo pode ser apenas um bilhete, um passaporte para um sonho maior.

Acontece também dele (o bendito) liberar um turbilhão que atropela a razão pelos breves instantes em que a luz da vista se apaga. Se os momentos são breves, como demoram a sumir da lembrança. Na verdade, o beijo é um baita paradoxo.

O beijo é uma escada, uma ponte, um elo… leva seus subordinados a lugares desconhecidos. Para onde se vai? É possível uma volta sem arranhões?

O beijo, uma ciência inexata, ora banalizada, sobrepujada, que se revela plural, de deixar a boca aberta: um selinho, de língua, de canto, acalorado, burocrático. Pode ser um beijo no rosto, e daí? O beijo é um substantivo masculino capaz de guardar em si o ímpeto de um sujeito composto. Não se beija só. Ou não se devia, ao menos.

O beijo, na semiótica, é um texto eternamente condenado à incompletude, à procura de um igual, em busca de seu acabamento estético que só pode ser conferido pelos olhos (boca) alheios. Quer coisa mais narcisista que um beijo?

O beijo é ocidental; chineses e japoneses raramente o usam em público. Será o resquício de tantas guerras? O beijo polinésio não passa de um esfregão entre os narizes, uma coisa de louco. Certamente, um polinésio nunca criaria uma personagem com as características de Pinóquio. Já os habitantes de Samoa se fungam, se cheiram. Tem lá sua simpatia.

De certo, alguém já havia dito que o beijo é uma confidência à alma pela boca e não pelo ouvido.

O beijo.
Conto Premiado * Um beijo universal
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