Marcela Lauber's profile

Publicação Revista Acrobata - Collab com João Balbinot

COLAGENS DIGITAIS | Marcela Lauber Art            POESIAS | João Henrique Balbinot




Pandêmica êmese noturna que nos sequestra a paz, o indigesto desses dias
(Decaídas que se debatem no desmoronar de nossas saídas de emergência)


Em cada uma dessas noites algo brada pela janela
Algo que não se entende de todo, entre escapes e apreendidas apreensões
Algo entrecoberto pelo passar do coletivo que não para, um desespero sussurado
Porque a cidade não para de mandar nossos pobres (os mais afortunados entre) para a morte
Entrecortados de loucuras, ou carências
Interrompidos interromperes rompantes, agraciados pelos direitos básicos ainda mantidos (mas nem tanto)

Desesperos se inauguram no calar de cada noite
Ao calar de cada corpo que cessa e logo perde seu calor
Em incessante luta, ciclos de 24 horas
A forma de contagem, o tempo em que se atualizam as notícias, os meneios estatísticos
Que rodopiam na mente daqueles que precisam e carecem de dormir
Porque amanhã precisam se deslocar
Transloucada necessidade de colocar uma parcela de nós em vulnerabilidade
Frente ao fronte, dando a cara à tapa

E quantos são os tapas
De tantas direções por diversas intensidades e formas
Que não deixa de ser toque
Que não deixamos de entender como cuidado
Ou atenção segredada em abusiva busca, segregados em sacrificados postos
Espalmando quem deve transpor o toque de recolher
Imprimindo a linha da vida, do dinheiro e do amor
Nos vincos do rosto ressequido de quem precisa ir

Quando somos, por onde viemos
Em obrigações que nos exigem
Negamos ao longo do dia perturbações que nos martelam
Preocupações das quais apenas nos pós-ocupamos, nocauteiam nossos sentidos
E o senso meio zonzo de ir daqui ali
Intercalado pelas sísmicas surras que dizem “não pense”
Mas o sono
O sono entrega e denuncia
Nos revira
Enquanto ao longo da noite a sacada e a sala silenciam
O peito dói
Ou seria o pulmão?

O corpo porta tantas dores
Comporta, comportado
Uma pertinha da outra
Não se distingue
Em uma nítida confusão
Acaso fora tosse ou apneia?
Não sabemos

Mas eles
Eles quando nos dizem “parabéns”
Eles sabem
E dormem, distantes, e ininterruptos
Sabendo que cada ventilador possui um nome
O nome de um deles, um nome que não nosso
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